poeta.adérito.barbosa.escritor.autor.escritor.artigos.opinião.política.livros.musica.curiosidades.cultura Olhosemlente

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Fraude com perfume de cultura zero. Uma traição silenciosa aos filhos dos pobres



É difícil compreender os políticos de Cabo Verde. Tiveram, em determinado momento da história, a oportunidade de escolher um caminho racional e benéfico para o país: a autonomia dentro da República Portuguesa, à semelhança da Madeira e dos Açores. Com isso, teriam mantido os benefícios de uma ligação histórica e cultural profunda com Portugal, assegurado desenvolvimento sustentado e preservado a centralidade da língua portuguesa na educação e na vida pública. Mas não. Em vez disso, escolheram o populismo ideológico e optaram por uma ligação artificial com a Guiné, em nome de uma africanidade de palanque que, até hoje, não gerou outra coisa senão atraso. Livraram-se de Portugal formalmente, mas continuam a depender dele em praticamente tudo: educação, saúde, comércio, migrações, telecomunicações, segurança. E isso não é autonomia — é apenas pobreza orgulhosa.

É como aquele pobre que recusa o prato de batata e repolho, dizendo que só come lagosta. Fica com fome, mas mantém o ar de superioridade. E, assim, o país que poderia estar ombro a ombro com regiões ultraperiféricas da Europa, vive hoje num limbo identitário e linguístico — fingindo ser o que não é, enquanto despreza aquilo que verdadeiramente é.

No meio desse delírio nacionalista deslocado, aparece mais uma peça do teatro da decadência: a introdução do crioulo nas escolas, sob o disfarce de resgate cultural. José Maria Neves, no papel de intelectual iluminado, tem liderado essa ofensiva. Aos poucos, sorrateiramente, começa a infiltrar o crioulo no sistema educativo, alinhado com os notáveis de Santa Catarina e com uma certa elite académica de poleiro.

E o que faz o MpD? Em vez de resistir, adere. O governo de Ulisses Correia e Silva, que tanto falou em reformas, mérito e modernização, acabou por aprovar a introdução experimental do crioulo nas escolas. A mesma cartilha, o mesmo populismo linguístico disfarçado de justiça social. É o nivelamento por baixo institucionalizado. José Maria Neves, Ulisses, deputados — são todos iguais. Com discursos diferentes, mas resultados idênticos: o abandono da excelência em nome da mediocridade generalizada.

Para aumentar Hipocrisia presidencial e intelectuais de papelão o ruído, agora veio do ex-presidente Jorge Carlos Fonseca a aparecer na imprensa (entrevista recentemente publicada), dizendo que os cabo-verdianos “maltratam a língua portuguesa”. Inacreditável. O mesmo Jorge Carlos Fonseca que passou anos no poder, calado, omisso, sem uma única iniciativa relevante para proteger ou promover a língua portuguesa em Cabo Verde. Agora, que está fora do cargo, resolve fazer discursos moralistas — como se não tivesse responsabilidade nenhuma no estado atual das coisas. Mais surpreendente ainda foi ouvir Germano Almeida — respeitado autor, vencedor do Prémio Camões — dizer que os cabo-verdianos precisam aprender português ”melhor que os portugueses”. A frase, de início, parece sensata. Afinal, é verdade: dominar o português com profundidade é crucial. Mas quando empacotada com ares de superioridade, acaba por soar arrogante e deslocada. Como se a nossa missão fosse uma espécie de revanche cultural. Germano, com todo o respeito: não há competição aqui. Há sobrevivência. Há pragmatismo. E há necessidade. Julgo que concordas comigo. 

A petralhada linguística que o Neves sustenta, representa o que há de mais perigoso para o futuro de Cabo Verde: um nacionalismo barato, baseado em ressentimento, que recusa tudo o que vem de fora — mesmo quando nos é útil. Essa esquerda deslumbrada, carregada de chavões pós-coloniais, quer construir uma identidade nacional sobre ruínas e mitos. E para isso, despreza a língua portuguesa — o único elo real com o mundo académico, diplomático, económico e cultural.

Querem impor o crioulo como língua de ensino, mas não têm gramática consensual, ortografia funcional, nem sequer professores capacitados para isso. É um projeto de vaidade. Um luxo caro que só servirá para criar uma geração ainda mais isolada, ainda mais limitada, burra e mais presa ao gueto linguístico. É uma agenda ideológica, e não pedagógica. É uma fraude com perfume de cultura zero.

Promover o crioulo como língua de ensino é, além de tudo, uma mentira com roupa de inclusão. Os defensores desta medida gostam de dizer que “ensinar em crioulo facilita o aprendizado”, “resgata a identidade” e “aproxima a escola da realidade do aluno”. Tudo conversa fiada. A realidade é que nenhum país do mundo se desenvolveu com base numa língua que não tenha expressão científica, diplomática ou económica global. Nenhum. E não será Cabo Verde a exceção.


O crioulo é, sim, uma parte fundamental da identidade cabo-verdiana. É língua materna, é cultura, é música, é oralidade rica e viva. Não é uma língua preparada para ser veículo de ensino científico em larga escala. E pior: a tentativa de padronizar o crioulo acaba por criar uma artificialidade forçada, afastando-o da realidade local. O crioulo de Santiago não é o de São Vicente, que não é o de Santo Antão. E, ainda assim, querem enfiar um crioulo "unificado" nas escolas como se fosse natural, como se fosse espontâneo.

É isso que chamam de progresso? Isso é engenharia social mal disfarçada. É ideologia linguística em estado bruto. É o tipo de disparate que destrói um sistema educativo em nome de bandeiras políticas. 

A defesa da língua portuguesa em Cabo Verde não é uma defesa colonial, nem uma traição identitária — é uma escolha pragmática, racional e urgente. O português é a língua oficial do país, é a língua das leis, dos tribunais, da diplomacia, da ciência, da literatura, do ensino universitário. É também uma das línguas mais faladas do mundo, com mais de 260 milhões de falantes. É língua oficial em organizações internacionais como a ONU, a CPLP, a União Africana, e outras instituições de impacto global.


Negar o português é negar o acesso do jovem cabo-verdiano ao mundo. É condená-lo ao isolamento, à limitação, ao mercado interno estreito e sem poder de competição. Um jovem que fala e escreve português com excelência pode trabalhar em Lisboa, Luanda, Maputo, Brasília, e até mesmo em empresas internacionais em África, na Europa ou na América Latina. Um jovem que sabe apenas o crioulo — ainda que o fale com perfeição — está preso à ilha, ao bairro, à parede da escola que o enganou.


Portanto, ensinar português com rigor, exigência e profundidade é uma questão de soberania educativa. É a única forma de garantir que os filhos dos pobres tenham as mesmas oportunidades que os filhos da elite que estuda no estrangeiro. Essa conversa mole de “valorizar o crioulo” é usada por muitos políticos que metem os próprios filhos em escolas internacionais. Hipocrisia pura. Querem que o povo fique no crioulo, enquanto os deles aprendem inglês, francês e português com gramática britânica. Tenham vergonha.

O que está em jogo nesta discussão não é apenas uma escolha linguística — é o futuro de uma nação. É a direção que Cabo Verde quer tomar: ou abraça a excelência, a exigência e o rigor, ou afunda no populismo linguístico que cultiva a mediocridade como se fosse um valor.

Se se quiser um país competitivo, com uma juventude capaz de disputar espaço em universidades, empresas e organismos internacionais, temos de garantir uma educação centrada numa língua forte, estruturada e global. Isso não significa negar o crioulo — significa saber colocá-lo no lugar que ele deve ocupar: como língua complementar, cultural, afetiva. Não como língua principal de ensino.

Ao empurrar o crioulo para o centro do sistema educativo, estamos a condenar as novas gerações a uma escolarização deficiente, incapaz de dialogar com os grandes debates do mundo. E isso é imperdoável.

O mais grave é que tudo isso está a ser feito com a conivência de todos os partidos, todos os presidentes, todos os intelectuais. Poucos têm coragem de ir contra a maré, de dizer o óbvio: a introdução do crioulo nas escolas como língua de ensino é um erro monumental. Uma irresponsabilidade histórica. Uma traição silenciosa aos filhos dos pobres.

É tempo de levantar a voz contra essa trapaça. É tempo de exigir uma política linguística séria, consequente, realista. Cabo Verde não pode dar-se ao luxo de brincar com o idioma. O país é pequeno, os recursos são poucos, e as oportunidades são limitadas. O português é a nossa maior ferramenta de emancipação — intelectual, económica e política.

Quem despreza isso em nome de modismos ideológicos está, na verdade, a empurrar o povo para a escuridão. E contra isso, não basta indignar-se. É preciso lutar.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com


sábado, 3 de maio de 2025

Voto meu nem pensar



Quando Passos Coelho mandou o Estado parar de pagar o que devia às empresas tivemos de fechar portas, por isso eu quero que o Passos se dane, ele toda a família dele. Segundo ele, os jovens eram piegas, deveriam mas era emigrar. E os putos foram mesmo embora. Fui testemunha das falcatruas do Sócrates, do BES, da Portugal Telecom. Usurparam o projecto da Rede Escolar que meia dúzia de gajos — eu incluído — idealizámos. Roubaram-no com a ajuda de boys da PT e de administradores do BES. Hoje, nas escolas, ainda existe o que nós fizemos, mas ninguém sabe o preço que pagámos. Por isso inferno com eles!

Conheci empresas que se enterraram à conta das loucuras do Sócrates e da austeridade cega do Passos. Vi, eu vi o IVA a trepar o Everest. Chegou aos 23%. E depois, para descer, é uma eternidade. Já o preço da gasolina é uma palhaçada: devia estar a 0,86€, está ao dobro. Porque o Estado mama. Porque não há vergonha. E ainda têm a lata de dizer que é por causa da transição energética, enquanto nos cobram taxa disto, imposto daquilo, e metem biocombustível pelo meio que ninguém pediu.  Eu sei que uma garrafa de água custa quase tanto como um litro de gasolina. A água só foi engarrafada, mais nada. E o plástico agora é pecado. Mas foi esse plástico que nos salvou na pandemia, que embala vacinas, comida, tudo. Agora querem proibir palhinhas e copos, como se isso resolvesse alguma coisa.  

Vi o Serviço Nacional de Saúde a ser desfeito por dentro. Não foi de repente — foi aos bocadinhos. Vieram estrangeiros gerir hospitais como se fossem supermercados, fecharam maternidades. Partos feitos em ambulâncias. Consultas marcadas com meses de espera e  os políticos a prometer mais meios,  sempre mais meios, nunca soluções.  Vi partidos a nascer como cogumelos, da extrema-esquerda ao radicalismo da direita. Todos iguais, todos a mamar os 3,5€ por voto. Um negócio como outro qualquer. Eles ganham sempre. Nós é que pagamos. Por isso, desta vez, não dou 3,50€ a ninguém!  Vi a utopia do Bloco, do Livre, do PCP, do PS, do PSD, dos Liberais e do Ventura. Prometeram tudo. Cumpriram nada. Tudo farinha do mesmo saco. Vi professores a darem o litro, e a ganharem como um jardineiro. Vi professores com 20 anos de carreira, sem progressões. Alguns a serem insultados, outros a serem agredidos por alunos ou por pais.  

Vi dirigentes sindicais que falam muito e fazem pouco. Vi o Mário Nogueira a eternizar-se no cargo. Trabalhou 11 anos no ensino — depois disso, palco e microfone — e vai reformar-se com ele todo no bolso. E agora temos 18 sindicatos. Mais sindicatos do que soluções. E os professores? Continuam a perder. E os alunos? Cada vez mais burros, porque o sistema falhou.  Conheço malta a receber pensões maiores que o salário mínimo sem nunca terem feito nada. Nunca trabalharam, nunca descontaram. E recebem. Quem pagou? Foste tu. Fui eu. Fomos nós.  

Vejo agarrados ao tacho, governantes que eram directores de empresas que faliram, agora a mandarem no país. Vi malas roubadas nos aeroportos por gente com assento no parlamento. Vi pedófilos com assento no parlamento, assembleias municipais, gays ministros, lésbicas deputadas e criminosos em cargos públicos. Vi gente sem moral a dar lições de ética. Vi homens travestidos de mulher a querer competir no desporto feminino. E vi gente a tomar-nos por estúpidos com essa treta da igualdade de género e do aquecimento global e agora calados com as chuvas e eu que me foda a cortar ervas. Vi a justiça politizada. Procuradores que se julgam governantes. Juízes que querem ser estrelas de televisão. Políticos que anunciam que vão derrubar governos sem sequer pensar que isso custa muito dinheiro e vai contra a decisão do povo.  Vejo que estamos todos lixados com essa gente.  

Vejo o país cheio de imigrantes. Muitos bons, a trabalhar. Mas muitos outros a chegar sem regras, sem respeito. Ninguém lhes diz: “entra, mas aprende que aqui há regras, há valores”. Portugal não é a Índia, não é o Bangladesh, não é África. Portugal é Portugal. E por culpa das esquerdas, que têm medo de dizer a verdade, o país virou um centro multicultural sem cultura nenhuma. Uma bandalheira por completo.  O Martim Moniz é hoje uma mesquita a céu aberto. Ninguém tem coragem de pôr ordem naquilo. As autoridades não deixaram que a malta assasse um porco no espeto no Martim Moniz porque isso fere a crença religiosa dos muçulmanos. Foi aonde isto chegou.  Vi gente de bairros das minorias a darem porrada na polícia e, quando levam o troco a sério, vem a família e toda a esquerda condenar a polícia e pedir indemnização para a família do infractor. É assim que se enriquece licitamente em Portugal. O Estado patrocina o gueto e depois dá preferência aos benefícios sociais ao pessoal do gueto — os tais que se auto-excluíram da sociedade.  

Vi há quarenta anos o Estado a dar tudo a certas comunidades. Casas, educação, subsídios. Hoje, grande parte desses, continua à margem, com mais direitos do que deveres. E quem critica, é racista. Exactamente o que estão a pensar de mim neste momento. Vi presidentes de câmara a governarem autarquias como se fossem feudos privados. Empregam a família, contratam amigos. Fazem rotundas, festas e estátuas. Tudo para parecer que fazem alguma coisa. Mas nada muda.  

Vi polícias desmotivados, sem meios. Vi médicos que desistiram. Enfermeiros que fugiram para fora. Vi militares tratados como lixo. Vi o que um país tem de melhor a ser extinto: o Serviço militar obrigatório, “fonte do nacionalismo” e, com ele, centenas de empresas desapareceram. Qualquer país que vier cá é capaz de nos apanhar com beijos. Isso só não acontecerá por causa da NATO.  

Vi jovens a emigrar porque aqui não há esperança nenhuma.  

Vi os bancos a serem salvos com o nosso dinheiro. E depois os mesmos bancos a despejarem famílias das suas casas.

Vi gente honesta a perder tudo. E ladrões a subirem na vida.  

Enquanto escrevo, tenho o jogo do Benfica prestes a começar. De fundo a voz do locutor: 

- “Di Maria  blablabla o melhor jogador da História” 

Não tenho dúvida nenhuma, Portugal está perdido.

Foto: Feira Medieval EB 2,3 Alfrefo da Silva - Tabaqueira. Porco assado no espeto e eu servia as sandes. Nessa data os muçulmanos em Portugal falavam baixinho.

Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...