Todos os meses, catorze vezes por ano, o IASFA enfia-nos a mão nos bolsos.
Convém explicar o trajecto de um documento enviado para comparticipação de actos médicos, para que todos os militares percebam a engrenagem e compreendam de uma vez por todas onde nós estamos enfiados:
1º passo - Aguarda Processamento: à espera que alguém se digne olhar para o documento.
2° passo - Processado: registaram-se os actos médicos e valores.
3° passo - Verificado: confirmaram que as contas estão certas.
4.o passo - Certificado: a comparticipação está dentro da lei.
5° passo - Autorizado: aguarda liquidação.
6° passo Liquidado: foi enviado para pagamento, mas sem confirmação.
7.º passo - Pago: quando o dinheiro chega efectivamente à conta.
8º passo - Devolvido: irregularidade ou erro.
9° passo - Arquivado: já não conta, fica apenas no histórico.
Pois bem: um documento datado de 27-11-2024, com comparticipação no valor de 240 euros. Hoje, nove meses depois, continua a vaguear na plataforma. Encontra-se na etapa “Classificado”, como se fosse um videojogo mal programado em que o utente nunca passa de nível. Em nove meses apenas atravessou três etapas. Faltam outras tantas, sem prazo, sem horizonte e sem qualquer justificação plausível.
Para tentar perceber o absurdo, fui rever um outro documento mais antigo, no valor de 38 euros. Segundo o sistema, está pago. Fui à Caixa Geral de Depósitos confirmar. Resultado: nada. Nenhum registo. Nenhum depósito. O pagamento existe apenas no sistema, mas nunca na conta.
Daqui só se pode concluir o óbvio: o IASFA arrasta processos durante praticamente um ano para chegar a uma liquidação que não corresponde a qualquer pagamento real. E quando finalmente “paga”, a pergunta é simples: para onde vai o dinheiro? Não entra na conta do beneficiário. Fica retido algures entre a máquina burocrática e as prioridades da corporação que a dirige.
O problema é estrutural. O IASFA tornou-se um mastodonte administrativo, gerido por uma cúpula que parece viver de expedientes, carimbos e opacidade. Alimenta-se todos os meses dos descontos dos utentes — catorze meses por ano, quando o calendário só conhece doze — e devolve em troca lentidão, ineficiência e silêncio.
Um seguro privado demora em média 45 dias a comparticipar actos médicos. O IASFA precisa de nove meses para não pagar. A diferença é clara: no privado a doença é tratada, no IASFA a doença é arquivada.
Este mecanismo não é um apoio. É um teste à paciência de quem desconta. O beneficiário fica sempre na posição do pedinte, à espera de uma esmola que nunca chega. E todos falam, todos se queixam, mas nada muda. O IASFA continua a reinar nos bolsos dos seus utentes, impune e intocável, como se o dinheiro fosse deles e não de quem o entrega religiosamente todos os meses.
Para o IASFA, um ano tem catorze meses. E reinam como o Sol: distantes, intocáveis e indiferentes.
Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com
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