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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Aos meus amigos

                                       
Amigos,

Eu tenho uma sensação no fundo da minha alma que não posso perder os meus amigos.
Estou feliz por alguns terem ficado comigo e ver lugares vazios no comboio que partiu à meia-noite, onde seguiram alguns pulhas.
E agora que estou longe daqueles que não fazem falta, encaro o desafio de não me esquecer dos que ficaram, contar-lhes o meu caso, viajar com eles por todos os poemas e prosas. Fazer deles personagens dos meus romances, vesti-los de histórias onde o amor venceu, torná-los amantes e mencionar no prefácio o nome exacto de cada um e dizer-lhes que o tempo passou por mim e não dei conta.
Sempre quis marcar rumo no mapa qual batoteiro, para depois fazer atalhos para chegar não sei onde mais depressa do que a pressa e mais, muito mais eu fiz!...
Em certos momentos, tive a certeza de que os meus amigos sabiam que eu andava às voltas como uma mó, esperaram por mim sem exitar que eu encontrasse o caminho.
Pelo caminho, amei, desamei, cantei, chorei e ri-me. Cometi as minhas falhas e tive a minha parte nas derrotas. Agora, sem muita timidez, vou escrever para os meus amigos, vou dar-lhes a voz nos meus escritos e esperar que ganhem vida para os aplaudir nos sonhos e assim torná-los poetas.
E a quem sirvo afinal senão a mim mesmo? Não tenho nada! As coisas que sinto de verdade não são palavras de alguém de joelhos, mas sim de quem está sentado, acordado à procura da sensatez e da perfeição da escrita.
O coração que trago no peito tem as cicatrizes das pancadas que levei na vida.
Dos amigos verdadeiros nunca levei um arranhão. Eu pensava que o mundo era plano, afinal parece uma abóbora. Como é estranho andar em contra mão no meio da multidão...
Deixem-me por os óculos para ver bem a noite por dentro. Sinto o zumbido de um pião a girar no espaço. Quem o agarra? O pião está confuso! - nas noites de sábado tudo gira ao contrário é sempre assim
O meu coração que é de silício e está quente quer ter a visão de um bilhão de velas a arder. Não sei quem vai ganhar; o que eu sei é que nas noites de domingo todas as estrelas cintilam para os meus amigos.
- Um amigo pode não valer nada, mas nada vale mais que um amigo!


Adérito Barbosa in olhosemlente

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Tudo quanto preciso

                                          Tudo quanto preciso

Nas manhãs de chuva como a de hoje, preciso de um pacemaker com pilhas que me faça o coração bater por mais algum tempo, o tempo que for preciso para ver chegar o dia e assim, sair desta solidão estúpida que me invade a alma. Preciso de uma lâmpada de luz fria enroscada no cérebro que me mostre um caminho. Preciso sentir sede para saciar os sabores que desconheço, de um carvão para sombrear nas paredes do céu os teus contornos como eu os imagino.

Preciso de uma régua e de um esquadro para projectar o perfil da tua cintura numa sombra e, ainda de uma lupa para analisar os poros da tua pele. Preciso dormir com tempo a teu lado, acordar cansado nas manhãs de chuva e entender o porquê de tudo ser assim. Preciso de Calcitrin e Cálcio+, para desenferrujar os ossos, preciso que me deitem as cartas para concluir que na vida a opção de excluir o histórico da minha vida não existe. Preciso de aprender a não gostar de alguém vazio de sentimentos. Preciso de viver devagar com tempo para entender as mágoas dos poetas. Preciso do teu sorriso por detrás do pavio de uma vela. Preciso que me pegues na mão e que me digas: - Precisas de mim? Eu estou aqui!

Adérito Barbosa in olhosemlente

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade
Como «o conto do vigário».



Contado por Fernando Pessoa


"Vivia há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.
Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa. Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.» «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos negociantes de gado como ele a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem.
Houve então a troca de outro olhar.
O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um recibo de bêbedo, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e «estando nós a jantar (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbedo...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira... E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.
Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário «nem eu estava tão bêbedo que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi mandado em paz.
O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.
Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.

(publicado pela primeira vez no diário Sol, Lisboa, ano I, nº 1, de 30/10/1926, com o título de «Um Grande Português». Foi publicado depois no Notícias Ilustrado, 2ª série, Lisboa, 18/08/1929, com o título de «A Origem do Conto do Vigário"

Adérito Barbosa in olhosemlente

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Bashar al-Assad já se safou

Bashar al-Assad já se safou

O ocidente não vai conseguir derrubar Bashar al-Assad como fez com outros líderes árabes.
Com a chegada dos caças J15 chineses ao conflito sírio fica demostrado que Bashar al-Assad tem amigos de peso!
A China colocou os caças bombardeiros J-15 à disposição dos governos sírio e iraquiano para ampliar a campanha aérea contra o Estado Islâmico.
A coligação  liderada pela Rússia, conta agora com cinco países e um pião: - Rússia, China, Irão Iraque, Síria e Hezbollah.

Os aviões J-15, irão partir do porta-aviões chinês Liaoning-CV-16, que está ancorado na costa síria, concretamente na base naval russa de Tartus desde o dia 26 de setembro 2915.
O Ministro das Relações Exteriores chinês , Wang Yi afirmou, na reunião do Conselho de Segurança da ONU: - “o mundo não pode dar-se ao luxo de ficar parado e olhar em frente de braços cruzados,”.
O Iraque decidiu que a Força Aérea Russa pode usar a Base Aérea de Al Taqaddum em Habbaniyah, que fica 74 km a oeste de Bagda, ficando assim aberto um corredor aéreo Russo-Sírio. Com isto a Rússia ganhou  um enclave militar no Iraque e Bashar al-Assad pode dormir sossegado.

Adérito Barbosa in olhosemlente

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Um pouco de história…

Um pouco de história…

A República em Portugal foi instaurada, a 5 de outubro de 1910. Após vários anos de confusão política - mortes, tiros, pontapés, facadas, crises financeiras e tourada com o envio de militares mal equipados para a primeira Guerra Mundial, foi fósforo e gasolina nas mãos de um pirómano.
Com o descontentamento, o Exército tomou o poder em 1926. O regime militar nomeou ministro das Finanças António de Oliveira Salazar em 1928. Professor da Universidade de Coimbra, homem austero e muito poupadinho. Foi nomeado mais tarde, Presidente do Conselho de Ministros.
Para se ter a ideia de quão furreta era o homem: - ele só entregava um quinto do vencimento à empregada doméstica e o restante ia para o banco em nome dela.
Salazar endireitou as finanças, obrigou-me a entrar nas fileiras da Mocidade Portuguesa impôs o Estado Novo, regime autoritário, de partido único e sindicatos estatais. Assim ficámos com o nosso fascismo.
O homem bateu o badagaio quando caiu da cadeira em 1968.
Em 1974 o pessoal pôs-se a contar espingardas e numa noite friorenta de abril, acabaram com a ditadura do fascismo e impuseram à gente a ditadura da democracia.
- Era aqui que eu queria chegar. Ouvi dizer que o presidente da República Portuguesa não apareceu na cerimónia do dia 5 de outubro, porque estava a trabalhar sobre o resultado das eleições. Não entendo: - ele uns dias antes disse que estava preparado para responder a qualquer resultado ou a qualquer cenário.
Portugal um país Republicano, com um presidente eleito segundo os valores da República, que aufere como um republicano e está-se nas tintas para a república. Ahahahahah
Agora já entendo porque é que ele hasteou a Bandeira Nacional de pernas para o ar.

Adérito Barbosa in olhosemlente

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...