José Neves, eu sei quem ele é. Conheço-o desde criança. Andámos na mesma sala, aprendemos a cartilha juntos e, no entanto, quase 60 anos depois, eu já me estou a familiarizar com o esquecimento das coisas, e o José ainda não aprendeu nada. Agora quer oficializar o crioulo. Um sonho inocente? Nem pensar. No fundo, ele já traçou o seu grande desígnio: acabar a carreira política em Santa Catarina, talvez como presidente da Junta de Freguesia do Cutelo – terra onde deveria ter aprendido o português. Também não é por acaso que os grandes mentores da “causa crioula” fugiram para os Estados Unidos e, de lá, em forma de ganha-pão, berram de palestra em palestra, sarnam os ouvidos aos emigrantes sobre a necessidade de implementar a sua grande bandeira. O crioulo, esse grande oprimido, precisa de ser salvo das amarras dos próprios cabo-verdianos. Mas, curiosamente, ninguém os ouve a incentivar os emigrantes a dominar o inglês para melhor se integrarem na sociedade americana. Não, para eles, o importante é que a sua cruzada linguística crioula continue, nem que seja às custas do futuro de um país inteiro.
Mas há um pequeno detalhe que o José e os seus catedráticos iluminados parecem ignorar: o crioulo não é mais do que português mal falado, precisamente porque foi mal entendido pelos escravos e depois reproduzido pior ainda. Se fosse essa língua maravilhosa que agora querem impingir, por que razão Portugal não a adotou? Já imaginaram? Portugal, depois de séculos de domínio colonial, resolvia adotar o crioulo como língua oficial porque, afinal, tinha mais sabor?
A origem do crioulo está na Guiné, dizem. — ( Lá estão os comunistas a acertar o passo com a Guiné, sempre a Guiné no nosso caminho) — e, de facto, em termos linguísticos, existem crioulos em várias partes do mundo. Mas o que o José e companhia querem fazer não é preservar um património linguístico – é transformar o crioulo numa ferramenta de guetização intelectual. Uma língua oficial que, em vez de elevar, limita. Um dialeto que, em vez de abrir portas, fecha-as.
Eles aprenderam mal, não entenderam e agora andam a dar palestras para garantir que os outros também não aprendam.
Reafirmo, nada tenho contra o dialeto na rua. Mas tenho tudo contra o dialeto na escola.
E já que vivemos na era da liberdade de expressão, onde eles podem dizer barbaridades e ser aplaudidos, eu também tenho o direito de dizer que o caminho que querem para Cabo Verde não é o melhor. Aliás, nem sequer é um caminho – é um beco sem saída.
Se há algo que a História nos ensina, é que o conhecimento é poder. E o poder, meu caro José, não é o crioulo.
Para ti, José, aprender, ao que parece, é um conceito demasiado complexo para quem fez da ignorância a sua bandeira.
Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com
Sinto-me aliviado quando ouço, leio, comentários tão assertivos sobre essa cruzada infrutìfera da oficialização do crioulo. Não me importo de me situar do lado do politicamenre correto. Ser um fã de Albert Camus me dá o confirto de me situar na contra corrente sem me auto punir
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