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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Guerra é guerra



Sr. Ministro, Sr. Ministro! Estamos lixados!
- Oh homem de Deus, o que se passa?
- A CMTV e a sua sucursal, a TVI, não se calam - assaltaram os paiós em Tancos.
- Tancos, onde fica isso?
- Oh! Sr. Ministro,Tancos é aquela zona perto da Barquinha, junto a Almourol , onde há um Castelo e tudo - o Castelo de Almourol, edificado numa ilha no meio do Tejo. Ali as águas estão paradas e até há uma canção dos páras que diz: “Adeus Almourol, onde brilha o sol e as águas estão paradas, eu vou p’ra peluda, vou ver a Maria, vou dizer adeus à chicalhada laralalala” Não conhece esta canção? Tancos é um recanto, um lugar admirável, seguro, onde no inverno o frio é tanto que congela os ossos e no verão é tão quente como no inferno; é ali o berço de todos os páras... tem um jardinzito - o Arrepiado. Era lá que os pára-quedistas saltavam e treinavam, está a ver? Tancos era o local onde existia a Base Escola de Tropas Pára-quedistas, casa mítica dos pára-quedistas. Havia vida - ele era recrutas , ele era Curso Geral de Milicianos (CGM), ele era cursos de Precursores (Precs,) ele era Cursos de Formaçao de Sargentos (CFS), ele era curso de Queda livre, Estágio de ASA, Curso de Instrutores monitores e para desgraça de todos, inventaram o Curso Páracomando, veja só... agora aquilo está às moscas, porque o Exército não descansou, enquanto não fodeu aquilo tudo, como fodeu o Hospital da Força Aérea.
- Eh pá!!!  Eu não sabia nada disso. Então afinal o que se passa? Desembucha!
- Oh, Sr. Ministro! Assaltaram aquilo, mas nem sabemos se levaram algum material.
- Oh Zé! Chama o CEME, rápido!!!
- Dá licença, Sr. Ministro?
- Então já sabe daquela pouca vergonha em Tancos?
- Não há perigo, as armas que desapareceram não representam perigo e garanto que as vamos encontrar.
- É preciso tomar medidas.
- Já as tomei!
- Que medidas tomou?:
- Os três Coronéis puseram-se a jogar à lerpa e não fizeram a ronda. Já os suspendi de funções e mandei-os para casa descansar uns dias; o que acha?
- Óptimo, óptimo, óptimo. Vamos mudar já, já os explosivos que os assaltantes não quiseram levar para os paióis de Santa Margarida. Assim o Sr. vai à televisão e diz que o material sobrante já está em segurança, fechado com sete cadeados.
- Chama-se a CMTV?
- Claro, homem, chama rapidamente, antes que o Ministério Público os chame.
Em reunião à porta da Base Escola:
- Caros jornalistas, o Exército soube do desaparecimento de material de guerra, mas não sabe ao certo o que  levaram. Estão em falta os materiais constantes na lista que vos foi entregue. Garanto-vos que os materiais referidos não foram entregues ainda ao DAESH.
- Sr. Ministro, afinal a PJ Militar encontrou todo o material roubado que não sabíamos ao certo quanto era e ainda, segundo a lista, os assaltantes entregaram mais material. Talvez seja um bónus, o que lhe parece?
- O mais giro desta coisada toda foi que a nossa Polícia Militar não disse nada aos tacanhos da PJ, eheheh - e nem à PGR, AHAHAH...
- Bom trabalho, Ernesto! Sabes que mais? A PJ militar apanhou os gajos da PJ a colocar escutas nos carros da PJ Militar lá para os lados do Porto. Essa guerra tem sido um fartote. Uma galhofa à conta do contribuinte. Uma guerra entre polícias eheheh.
-Oh Ernesto, apesar de terem feito desaparecer e aparecer o material sem darem cavaco à CMTV, a coisa ainda vai sobrar para a PJ MILITAR. Entretanto toca o telefone. Olha é a Joaninha! Chiu, calados! Olá, Dra. Joana! É sempre um prazer ouvir uma voz tão doce como a sua. Como vão as coisas aí na PGR?
-Olá, Sr. Ministro! Precisamos de falar. Preciso de ir aí.
- Com muito gosto, Sra. Procuradora!
- Oh, Aníbal! Mande já, já pintar os lancis, mondar as caldeiras das árvores, mande o pessoal fazer capinagem e mande esticar o tapete vermelho. Mande também polir o clarim e todos os amarelos aqui do Ministério.
- Sim, Senhor! Mas temos um problema. Nós não temos soldados para guarda de honra. Não, não temos. Olhe em Tancos só estão cerca de 59 efectivos.
- E quantos generais temos?
- Duzentos e tal - upa, upa...
- Óptimo, então reúna os generais e uns quantos coronéis que andam por aí a coçar a micose. Olhe, se não houver contingente que chegue, mande reunir também a malta da PJ MILITAR, os tais que sonham ser polícias! Como é para receber a Joaninha e ainda por cima parece que ela traz mini-saia, sempre dá para a malta arregalar os olhos, eles falam a mesma linguagem jurídica, a coisa fica mais fácil. Que achas, Alfredo?
- Acho bem, vamos fazer tudo certinho! A porca da Tany deve vir na frente com perguntas de merda.
- Por falar em Tany, olhe que já está a cheirar mal aqui!
- De onde vem esse cheiro?
- Parece que cheiro provém dos gabinetes da PJ. Militar.
- Não admira, eles são militares armados em polícias! Só fazem merda.
- Há ou menos, nesta casa, papel higiénico?
- Jornais há!
- Papel higiénico só para a PJ?
- E então para nós?!...
- Jornal “correio da manhã”, serve perfeitamente...

Adérito Barbosa in olhosemlente

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Querem-nos fazer exame à próstata com o dedo errado.


Foi insuportável ouvir o tipo representante da Associação do Comércio Automóvel na TV numa longa e patética dissertação sobre a velhice do parque automóvel português.
Dizia ele, que uma grande percentagem de veículos com mais de dez anos que circulam nas estradas portuguesas, não oferecem grandes condições de segurança, pelo que é urgente o governo tomar medidas que incentivem aos cidadãos a abater essas viaturas e comprar novas.

Acabou de ler e não acredita pois não? Coisa de loucos, não acha? Pois, eu também acho que se se trata de uma verdadeira afronta à nossa inteligência.

Duas perguntinhas a esse sujeito: as viaturas estão ou não sujeitas a inspeções periódicas?
Se passam nas inspeções, logo estão em condições de circular, penso eu de que!

O mesmo se passa com os aviões: não há aviões velhos nem aviões novos.
Se um avião passar nas inspeções e for dado apto para voar mesmo tendo 25 ou mais anos, ele é tão seguro quanto aquele que acabou de sair da fábrica.
Outra questão: o ordenado dos portugueses é igual ao do resto da Europa?
Então porque fazer comparação entre parques automóveis?

Última questão: Onde é que está escrito que um carro com 10 anos é velho?
Assim como nos aviões, também não há viaturas velhas.

Aos gajos do Comércio Automóvel, peço: por favor não nos façam teste à próstata com o dedo errado.

Adérito Barbosa in olhosemlente

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Coisas da Terra sem Moedas para o Elefantezinho



A aldeia de Santa Bárbara de Nexe, que passou a freguesia no século XVI, ocupa a parte noroeste do concelho de Faro, fazendo fronteira com três sedes de concelho -  Faro, Loulé e S. Brás de Alportel. Com cerca de 38,22 km2 de área, tem aproximadamente 108,4 hab/km²; é a freguesia com menos população, estando classificada como área de baixa densidade populacional, segundo o último censo. Situa-se no Barrocal algarvio e dista a 10 km das praias.
Santa Bárbara apresenta-se vivaça,  muito formosa e, de olhos postos no Parque Nacional da Ria Formosa, é uma sentinela atenta, que mira do alto os corpos roliços e embuchados que lá em baixo se dão ao prazer do sol, libertos do linho que no inverno maltratou e sufocou a beleza dos contornos com casacos, samarras e sei lá mais o quê.
Agora, como que numa de vingança, lá estão castigando o corpo ao sol,  expondo-o sem reserva aos olhares indiscretos dos primos do Zezé algarvio.

O ventre de Santa Bárbara está grávido de turistas, a aldeia está cheia de vida - há jornais, revistas e restaurantes, anúncios de todo o género, mas tudo em inglês. Os bancos do Rossio cá do sítio parecem ter dono. São sempre os mesmos velhotes que, pela tarde, tomam fresco debaixo das árvores;  já nem contam os dias que por eles vão passando, mas contabilizam os passos de qualquer forasteiro que pare por aqui.
Bom dia, onde fica o supermercado?
Vá por aqui e lá adiante fica à esquerda, disse um deles.
O supermercado é nas bombas, gritou outro.
Ouça o que eu digo. O Sr. agora, abalando daqui, corta na estrada que vai para a esquerda. Logo aí encontra uma bomba de gasolina. O supermercado fica junto às bombas, do lado do pôr do sol, ordenou o mais intelectual.
Um bocadinho mais abaixo plantaram o Estádio do Algarve e construiram o Parque das Cidades para as moscas.

A presença humana nesta localidade remonta à transição do Paleolítico Médio para o Paleolítico Superior e já lá vão 30.000 anos. Primeiro foram os Fenícios, depois os Romanos e depois os Visigodos da Hispânia, mais tarde conquistada pelos Mouros e incorporada no Algarbe Alandalus.
A freguesia viria a pertencer ao Reino de Portugal durante o período final da Reconquista dos “Tugas” aos Mouros, em 1271, pelo Rei D. Afonso III. A mais antiga referência escrita ao lugar de “Neixe” parece ser de 1291, numa delimitação dos termos (concelhos) de Faro e Loulé. Refira-se ainda que a construção da Igreja Matriz começou no século XIV, no lugar de uma antiga ermida já existente, local de romagens regionais, onde se dizia que aconteciam milagres.
O habitante mais antigo e conhecido foi o cidadão romano Sexto Numísio Eros (do século II), referido numa lápide funerária local.

As charolas são a manifestação cultural mais tradicional e genuína da freguesia de Santa Bárbara de Nexe, sendo únicas na região, quer pelo improviso, quer pela ausência de simbologia religiosa.
Nos primeiros dias de cada ano, grupos de homens e/ou mulheres, acompanhados de instrumentos (acordeão, castanholas, pandeiretas, ferrinhos e por vezes clarinete e saxofone), actuam em Festivais em Santa Bárbara de Nexe, Bordeira e arredores, casas particulares de amigos e nos cafés da zona, entoando cantigas e lançando quadras improvisadas (“vivas”) saudando o Ano Novo e os amigos, num clima de amizade, alegria e alguma crítica social e política.

As charolas da Terra de Nexe, em meados do século XX, atingiram os mais altos patamares da música centrada no acordeão, com a participação dos mestres acordeonistas bordeirenses José Ferreiro Pai e João Barra Bexiga, assim como da poesia popular, com a participação de grandes poetas populares como António Aleixo e Clementino Baeta.
Aqui não é só historia, não é só coisas lindas, nem lindas pernas e nem só mamas maravilhosas. Também há cá gente feia, horrível e uma super preguiçosa e molenga, como aquela empregada das bombas de gasolina merecedora de viver no desemprego, mas sem direito ao subsídio.

Bom dia, por favor, pode trocar-me esta nota de dez por moedas, para lavar o carro, ali no elefantezinho?
Tenho pena, mas não tenho moedas.
Não tem moedas?
Não tenho, venha lavar amanhã.
Mas eu quero lavar o carro hoje.
Pois, pois quer, mas não pode.
Já à saída reparei na máquina do tabaco e então pensei que ali estava a solução para o meu problema. ” Meto uma nota, anulo a operação ou tiro um maço e a máquina dá-me moedas.” Com esta genial ideia dirigi-me para a máquina.
Olhe minha senhora, pode ligar a máquina por favor? - Ela muito ensonada, com a cara apoiada na palma da mão, pega no comando e começa um ritual pachorrento com acenos para a máquina, de comando na mão. E avisa:
Só quando acender a luz vermelha!
Sim, ok, ainda não está ligada, disse eu e ela continuava a acenar com o comando, com a a cara apoiada na palma da mão esquerda.
Ó minha senhora desculpe, não ligou a máquina...
Tem que vir buscar o comando.
Eu? Eu é que vou buscar o comando para ligar a máquina? Isso é trabalho seu!
Você já viu quantas pessoas vêm cá tirar tabaco? E se de cada vez que vem uma pessoa eu tiver que ir aí, já viu o que eu andava?

Ora aqui está uma pessoa merecedora de viver no desemprego, sem direito a subsídio de desemprego.

Adérito Barbosa in olhosemlente

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...