A caserna da guerra
Nasceu nas televisões portuguesas a mediocridade informativa, um parto que, aliás, vinha sendo anunciado há muito. Tardaram-no, porque era necessária uma luz, algo mais do que uma simples táctica de informação; precisavam de uma lâmpada de Aladino que proporcionasse um disparate fraternal em duelos entre alguns generais e outros tantos comentadores, seguindo a versão cénica da CNN “Nós é que sabemos - mais ninguém sabe. Só nós!”. É por aqui que o rio vai trilhar o seu caminho e quando chega aos nossos olhos é a tragédia informativa anunciada.
Alguns desses generais, não todos, como é óbvio, andam deslumbrados com as câmaras, e da janela com vista para o mundo do saloio português, inchados que nem sapos, saboreiam os seus egos, quais influenciadores, assim como o eco retumbante provocado pelas suas afirmações bélicas.
Castigando os portugueses, ou não fossem eles os semi-deuses do conhecimento da guerra, fazem da janela da televisão o patim da superioridade.
Os generais da Ucrânia e os generais de Israel teriam vergonha, se soubessem da existência de tantos modelos medalhados de generais portugueses, analistas perspicazes e certamente sentenciariam:
-Tantas sumidades reunidas num só país é um desperdício.
Eu só tenho a dizer:
- Portugal, tu és um desgraçado por teres no teu ventre seres tão iluminados, sabedores das guerras deste mundo, das guerras dos outros, sem nunca teres sido capaz de aproveitar essas qualidades que transpiram nos ecrãs, para venceres as guerras em que te meteste!
No entanto,tudo o que escrevi atrás é mentira, se atendermos ao que a Sra. comentadora Helena Ferro Gonveia afirmou num podcast:
- Tenho mais experiência de guerra que a maioria dos nossos militares. Talvez tenha razão. Ela lá sabe das suas razões, mas eu desconfio das razões dela.
O General Agostinho Costa ainda não acertou em nenhum dos seus prognósticos. O Sr. General bebe informações nas fontes, nas mesmas plataformas, a não ser que tenha informações privilegiadas junto do comando e Estado Maior do Exército da Rússia ou até de algum amigo pessoal dentro do HAMAS. Depois de as ler, trabalha essas informações ideologicamente e dois dias depois de eu as ter lido, ouço-o a repetir essas notícias, mas já devidamente enfeitadas com algum anglicismo e apimentadas com emoção bastante.
Falar em desproporcionalidade, neste caso entre Israel e HAMAS, não é um conceito aplicável por uma simples razão: Israel é um estado, HAMAS é um bando de criminosos. Ao ouvi-lo afirmar que Israel já lançou 70 toneladas de bombas por metro quadrado, fico com medo. Ouvi-lo dizer que Israel atacou um hospital indonésio e saber que Israel mostrou que o hospital ainda lá está intacto, apesar de saber que por debaixo dele existe o quartel-general do HAMAS é tendencioso. Ouvir o Agostinho pregar aos quatro ventos que Israel ia ser trucidado, se invadisse a faixa de Gaza e ver que Israel já lá está, põe-me de queixo caído. Ao ouvir o Agostinho com aquela euforia soviética, que já lhe conheço desde 1982, dizer que Israel é um estado genocida, ao comentar a encenação dos pseudo-cadáveres de bonecos enrolados, alinhados no chão, fico preocupado com o deslumbramento dele, tomando partido ora pela Rússia, ora pelo Hamas.
A informação que ele leva à TV tem em média dois dias de atraso.
Agostinho é um daqueles que se podem apelidar de verdadeiro narcisista.
Felizmente que estão lá o Sr. Ten/ Gen. Marco Serronha e o Sr. Maj/Gen. Isidro de Morais, que nos falam da guerra sem nunca deixarem de dar também as suas válidas opiniões.
Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com