ESTAÇÃO CERTA
Por Alice Duarte
Se o sol entrar pela vida sem pedir licença,
como falarei sem estilhaçar o ténue cristal da memória?
Por vezes digo “lembras-te”,
só porque queria que te lembrasses.
Sei que se vão apagando os pormenores,
os locais já são só aguarelas sem forma
e as cores escorrem na tela
deixando um borrão indecifrável.
Era eu ou outra de mim?
Tantas, tantas foram… tantas sou,
ainda que não me reconheças.
Tento não destruir o que ficou gravado
nas paredes transparentes que ecoam dentro de mim
sem (me) te ferir,
mas ainda não estão maduros os sons simples da verdade.
A urgência reside apenas na dúvida da estação certa.
Autora: Alice Duarte, 2017h
Adérito Barbosa in olhosemlente
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