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sábado, 30 de junho de 2018

Emigrantes ou refugiados?


Para mim são emigrantes económicos ilegais.

Basta saber que mais de um milhão de pessoas da África subsariana, médio oriente e ásia, aproveitaram e aproveitam com mestria a inépcia das autoridades europeias para se mudarem em massa para Europa, debaixo do manto da mentira, alegando tratar-se de refugiados de guerra. 
Mas onde é que fica a guerra afinal?
Finos na escolha, ar miserável no trato, de telemóveis em punho e dedos em v a simular a vitória, partem rumo ao paraíso: 

- Alemanha, Suécia, Inglaterra, França e Espanha. Quem sabe aos mais azarados calhe a fava e cá venham parar, como outros que cá estiveram, recebidos com flores, beijinhos, cama e roupa lavada. Talvez aqui encontrem também, à semelhança da Alemanha, umas quantas gajas que lhes levem chá, café e bolachas e saiam de lá todas fodidas. 

Este portugalinho é pobre demais para eles. As 40 famílias alojadas com pompa e circunstância já se puseram na alheta e foram desaparecendo, uma a uma, restando apenas oito famílias que continuam a viver à conta dos otários dos contribuintes.

Veja-se as rotas que fazem: - atravessam o Mar Egeu ou o Mar Mediterrâneo, passam pela Líbia, Turquia, Grécia, Itália, Balcãs e Hungria e depois voltam para Itália. Ou então, numa outra rota iniciada no norte de África em direção ao sul de Itália. Em Milão dividem-se em dois grupos. Metade através da Suíça e Áustria e, a outra metade, para o ocidente via França ou via Espanha embora, esta última, pouco utilizada.

Este negócio é controlado por organizações que já movimentam somas avultadas, estimando tratar-se de um negócio de mais de mil milhões de euros.

Há vários checkpoints onde  vendem aos emigrantes as viagens com aconselhamento para onde devem seguir viagem. Neste ponto, caso não tenham dinheiro suficiente, os imigrantes são obrigados a trabalhar até conseguirem pagar a fase seguinte da viagem.

Há infraestruturas montadas de transportes e serviços gerindo as passagens, elucidando os pormenores da viagem e a data ideal para ser concretizada. Cada refugiado/emigrante económico paga, em média, 5 mil euros pela aventura.

São cerca de 60 mil as pessoas que  se dedicam a este negócio, a maior parte das quais a operar dentro de uma complexa rede com tentáculos dentro dos países pretendidos pelos emigrantes.

Também há os freelancers que atuam como motoristas, recrutadores, falsificadores de documentos e organizadores que, muitas vezes, trabalham, de forma autónoma e em simultâneo, para várias organizações do ramo.

As redes que operam a nível internacional oferecem pacotes completos de viagens, como se de uma agência de turismo se tratasse. 

As redes sociais são também aproveitadas com mestria para publicitar serviços, recrutar guias, partilhar informações ao longo das rotas, incluindo atividades policiais e restrições à passagem de pessoas, permitindo aos criminosos adaptar as rotas ou mesmo atualizar os preços, conforme as dificuldades em fazer passar os imigrantes. 

Os extremistas islâmicos que, na sua maioria, não confia nestas redes nem nos seus serviços e, mesmo assim, os perpetradores dos ataques de 13 de novembro em Paris foram refugiados disfarçados que usufruíram da bondade das autoridades europeias.

Outra questão a colocar é porque deixou de haver ataques aos navios mercantes pelos piratas somalis no golfo de Áden?

A resposta é simples. O YouTube está cheio de vídeos de atiradores dos navios mercantes no alto mar que abateram sem delongas os piratas, ao ponto de já não haver nenhum pirata que se atreva a sequestrar navios.

Primeiro foram os russos a colocar militares atiradores a bordo dos seus navios depois, os japoneses, os ingleses e os americanos, para protegerem os seus transacionáveis. 

O que se sabe é que já ninguém fala em piratas somalis.

No alto mar ninguém sabe de nada, ninguém viu nada e nada de provas. A verdade é que já não há piratas somalis no Golfo de Áden.


E, a propósito dos navios, o navio Alemão que recentemente recolheu os pseudos refugiados na costa Líbia, contra todas as indicações das autoridades Líbias, andou quase 10 dias com os emigrantes clandestinos a bordo, à espera de atracar em um qualquer porto de um país europeu que os emigrantes tenham escolhido acabando por suceder, por questões humanitárias, em Espanha. O navio está apresado e o seu comandante, suspeito de traficar humanos.

Ao fim e ao cabo, esse comandante trouxe um carregamento de humanos de África para a Europa, contra todas as indicações das autoridades líbias, evitando assim que esses emigrantes fossem recolhidos pela guarda costeira Líbia.

O estranho disso tudo, observando o mapa, é que nenhum refugiado ousa entrar na Rússia nem desce para os países do Corno de África. A pergunta impõem-se! Porque será?

Eu propunha o seguinte: 

Pegávamos num bote semirrígido, colocávamos lá dentro todos os políticos europeus, enviávamos os tipos para o norte de África como refugiados.

Ontem os líderes da Europa, os donos disto tudo, quer dizer da Europa toda, finalmente chegaram a um acordo. Acordo esse que, para muitos, é um mau acordo, para outros, o acordo possível graças ao finca-pé do ministro italiano. Para outros é melhor que não ter acordo nenhum.

Então em que consiste o acordo? Simples. A Europa vai desembolsar milhões à Líbia para deter os emigrantes e, depois, fazer uma triagem daqueles que necessitam mesmo de ser protegidos. Os restantes serão repatriados. As OMGs que deambulam pelo Mediterrâneo ficam obrigadas a entregar sempre os aventureiros à Líbia e nunca a nenhum país europeu. 

Com a triagem está claro que a união europeia vai caçar os cérebros e os mais capazes. Os outros já sabem que a repatriação é mais do que certa.

Foi preciso a Itália bater o pé para que a Europa acordasse.

Assim estamos nós, entre mentiras, negócios, emigrantes, refugiados e triagem europeia. Uma salada salgada a saber mal.

Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

quinta-feira, 28 de junho de 2018

7ºPl/2ªCA - 80

Alvoco das Várzeas - 7ºPl/2ªCA - 80 Mais um ano se passou. Uma amizade inquebrantável, firme, impossível de fraquejar. Fomos o 7º pelotão da 2.ª Companhia de Alunos, 3ª/80 das tropas pára-quedistas. Trinta e sete anos depois continuamos “amigos e brincalhões”.
Este ano calhou ao Helder Madeira organizar o encontro 37º. Sem parcimónia, dissemos presente. Foi na BETP quando, pela primeira vez, existiu um pelotão destinado a especialistas de Comunicações, Electricidade, Electrónicas e Abastecimento. Não defraudámos as expectativas dos chefes e tornámo-nos especialistas doutorados. Hoje, já reformados e de mochila à frente, ampliada pelas cervejas, apresentámo-nos em Alvoco das Várzeas, imbuídos daquele espírito de sempre - a amizade. Vejam só: o Presidente da Junta de Alvoco compareceu para nos dar as boas vindas, botou discurso em jeito de comício, no parque da praia fluvial e, como bom político, prometeu que a estrada esburacada da freguesia tem os dias contados. Depois do matabicho, subimos parte da Serra da Estrela e descemos para Seia, tendo por destino o restaurante que serviu o almoço, Casas do Terreiro, da pacata localidade de Carragozela. Havia desfile das marchas de Santo António na cidade de Oliveira do Hospital, a acontecer à noite, para receber os ilustres forasteiros, sob o disfarçado nome - desfile das marchas da cidade – mas aquilo foi mesmo organizado para nos receber, aposto! Já um pouco cansado, optei por recolher ao hotel, longe dos holofotes e das marchas e fui descansar, enquanto os mais durões ficaram a dar as SECAS uns aos outros. No dia seguinte, já de partida e do nada, surgiu-me a ideia de visitar Piodão, longe de imaginar que para ali também se deslocaria parte do grupo. Voltámos a encontrar-nos e a desgraça do dia anterior passou outra vez à primeira forma. Outra vez o almoço em grupo. Ainda bem que cheguei primeiro - com tempo visitei demoradamente Piodão. Quando procurava um restaurante para almoçar, eis que começa a nascer debaixo do xisto, que nem formigas, o grupo tresmalhado. Iam visitar Piodão, mas não visitaram coisa nenhuma. Abancaram na esplanada do restaurante ao ar livre e não visitaram nada e nada levaram na memória de Piodão, para contar aos netos. Para o próximo ano, tramaram o Oliveira - elegeram-no director da organização. Ouvi dizer que o encontro será em Lamego. Parece que vai haver visitas às Caves do Vinho do Porto, subida à Régua, de comboio e regresso de barco pelo Douro abaixo. A coisa promete e cada bravo do 7.º pelotão dirá presente, certamene! Fiquei alojado no Petit Hotel - Casa de Baixo que vivamente recomendo. Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

segunda-feira, 11 de junho de 2018

LIXO NA ANTENA

Todos nós sabemos que a comunicação social é um negócio. Informar é direito dos jornalistas. Desinformar é coisa nenhuma; desinformar é trafulhice e cheira mal. A CMTV consegue vender baratinhas a mentira e a especulação. Consegue o impensável; consegue juntar um rol de jornalistas de calibre tal, que tenho dificuldade em eleger a mais feia. A CMTV vende lixo, porque o povo é analfabeto e ignorante; sobretudo àqueles com especial apetência para seguir o cheiro do sangue, vende reportagens sobre facadas, tiros, entrevistas aos idosos, induzindo-os a chorar e explorando muitas vezes a miséria humana e a vulnerabilidade das vítimas, dos fracos e dos que, por uma ou outra razão, estão indefesos. Questão do Sporting - Octávio Machado, vejam só, um dos maiores arruaceiros do mundo do futebol e uma das espécies mais comuns do subterrâneo do futebol, comenta num português medonho. Quando o vejo a falar, a falar mal e sinto o bafo a tintol, tenho que abrir a janela para arejar a sala. Um verdadeiro relé do coveiro que nada ganhou no Sporting. O chui Moita, que chamou estrume humano ao gang que invadiu a Academia do Sporting, o Manuel, o puto maravilha e catedrático da mula russa André, o professor Rui, a mal cheirosa Tânia e o Carlos compõem o painel da pandilha maravilhosamente. Ninguém no mundo tem mais cara de estrume do que quem aos outros assim chama; nada mais fazem do que intoxicar a opinião pública sobre aquela miserável invasão dos membros da Juve Leo à Academia do Sporting, Se aquilo é terrorismo, vou ali e já venho. Aquilo foi vandalismo puro! Por isso, acho bem que estejam presos. Gostava de ver essa gente no meio dos rebentamentos das bombas, no comboio em Madrid, na tomada do teatro em Moscovo, pelos Chechenos , no metro de Madrid, em Boston, nos tiroteios em França, ou nos atropelamentos de Nice. A haver um atentado terrorista em Portugal, que seja na CMTV - só assim terão tento na língua. Ah, não quero esquecer o repórter da CMTV na fronteira de Vilar Formoso, dirigindo-se ao Capitão da GNR: - Sr. Capitão, mande parar aquele.... Quando o Capitão mandou parar o carro, eis que o jornalista da CMTV entra em acção, de microfone em riste. - Então fizeram boa viagem? - Je ne comprends pas - disse o condutor. O jornalista da CMTV avança com outra pergunta em franciú: - QUANTOS horas foi a VIAGE? O Francês continuou a não responder – pudera, com um franciú destes, ele não tinha resposta. - Sr. Capitão, este não, este só fala francês, mande parar outro carro... Outra notícia de peso - Cristiano Ronaldo está a passar férias com a modelo espanhola e paga 7500 euros diários pelo iate - não admira nada que o Ronaldo tenha mandado o microfone da CMTV para o lago. Hoje, enquanto almoçava, ouço a seguinte notícia da CMTV - O Presidente dos Estados Unidos vai reunir em Singapura com o líder Coreano num hotel de luxo. Coisa nunca vista! - acrescentou a jornalista. A isto chama-se notícias de merda. Logo de seguida, eram mais ou menos 14h 30m. Desta vez ciclismo; como gosto de ver ciclismo e acompanho praticamente todas as provas da UCI, fiquei atento. “Às 15H00 em exclusivo, a não perder na CMTV - Volta à Suíça, uma das maiores provas do ciclismo mundial.” Ora, como eu tinha acabado de acompanhar a 2ª etapa na Eurosport, fiquei mais uma vez de boca aberta. Curiosidade - A CMTV responde por montes de processos em tribunal; nunca os vi fazer qualquer reportagem, à porta dos tribunais, sobre eles próprios. Estes sim! Estes é que são os jornaleiros! Adérito Barbosa

domingo, 3 de junho de 2018

Idade e teimosias…


Tempo ameno, turistas aos magotes, tascas das ginjinhas numa azáfama que só visto - copinhos de ginjinha cheios sobem em direcção às gargantas e descem vazios para o tampo da mesa. Elas, mais rápidas do que eles, pedem mais outra rodada e soltam risadas - o álcool escondido atrás do doce torna as mulheres mais giras e desenvoltas.
São turistas, na sua maioria brasileiros, havendo também alemães, suecos, ingleses e espanhóis, a gozarem certamente das suas reformas, pela idade que aparentam ter.
Lojas de artesanato são tantas, que não dá para acreditar; toalhas de mesa, rendas de bilros, bordados, canecas, canequinhas, chapéus, bonés, bolsas e garrafas de licor de ginja para todos os gostos - há de tudo um pouco. Nenhum turista sai daqui sem levar uma recordação.  A vila situa-se dentro do portentoso castelo. A região de Óbidosi, segundo o roteiro turístico, posssui vinte e quatro hotéis e um sem fim de restaurantes, tendo sido considerada pela UNESCO uma cidade literária e parte integrante do programa Rede de Cidades Criativas.
O Castelo de Óbidos é uma das Sete Maravilhas de Portugal, o segundo dos sete monumentos mais relevantes do património arquitectónico português. A palavra Óbidos deriva do termo latino ópido que significa cidadela, cidade fortificada. A cidade terá sido erguida no tempo de César Augusto, no final do século I a.c. e sobreviveu até à segunda metade do século V. Alguns dos espaços foram posteriormente reocupados, como se verifica pela existência de dois edifícios medievais. As ruas, apesar de entupidas pela enorme massa humana, apresentam um asseio de fazer inveja.
Também sou turista por aqui, em igualdade de circunstâncias com os outros. Eles vieram de autocarro de turismo com guia do hotel, eu de autocarro também, mas sem guia. Vim na Rodoviária do Oeste, por indicação do barbeiro lá do meu burgo, que outro dia me dizia:
- Para Óbidos vai-se de autocarro, paga-se cerca de dois euros e são 10 minutinhos de viagem; bebe uns copos por lá e volta sossegado, longe dos olhares da GNR, que os gajos andam por aqui doidinhos, à caça das multas. 
Foi por essa sugestão que experimentei partir para a odisseia; só que o malandro do barbeiro esqueceu-se de me referir que o último autocarro era às 16 horas e para regressar a casa tive que vir de táxi, pela módica quantia de vinte euros. Na segunda-feira vou apresentar-lhe a factura do táxi…
Como turista, entrei numa tasca para emborcar também a famosa ginjinha. Mandei servir uma e depois outra. Chegou um indivíduo que também se sentou, numa mesa ao lado. Passados uns minutos apareceu do outro lado da rua outro indivíduo. Olhou, olhou e atravessou a rua na minha direcção, mas não, não era para mim, era para o tipo da mesa ao lado.
- Então Zé, há quanto tempo que não te via, pá! Estás bom, que fazes?
- Eu estou a trabalhar em Lisboa; saio de casa de madrugada e só chego à noite.
- Então quando é que te reformas?
- Com a merda do governo que temos e as leis sempre a mudar, ainda me faltam cinco anos.
- Eu também.
- A família está bem?
- A família está, eu é que ando com um problema aqui num pulmão. Sinto-me sempre cansado.
- Ó diabo, já foste ao médico?
- Já, ando a ser acompanhado por uma médica em Lisboa.
- Ó Zé, como é que deixaste essa coisa aparecer?
- Faço exames médicos regularmente pela empresa e desta vez deram conta deste problema.
- Desculpa lá ó Zé, desculpa que te diga, mas não fizeste, não! Se fizesses todos os anos, eles já tinham visto isso. Já fizeste TAC?
- Já, foi a TAC que revelou isso.
- Zé, desculpa lá, tu nunca fizeste TAC coisa nenhuma. Se calhar fizeste foi radiografias. Se tivesses feito TAC eles já tinham visto isso.
- Já te disse que todos os anos faço exames para controlar este problema. Agora é que agravou.
- Tens que tomar cuidado, Zé! Esse problema não é para brincadeira. Tens que dizer à tua médica que ela tem que te passar uma TAC. Se tivesses feito a TAC, hoje não tinhas problema nenhum.
Entretanto, foi aproximando-se devagarinho um Smart Fortwo. - Ó pai, vamos embora, que ainda tenho que ir para Lisboa fazer uma TAC às sete horas.
O Manuel despediu-se do Zé e dirigiu-se apressado em direcção à filha. Chegou ao meio da rua e voltou para trás: - Zé, tens que fazer uma TAC, pois com uma TAC eles vêem tudo. Não brinques com isso!
De regresso à freguesia, sentei-me na esplanada da sociedade recreativa, A Serrana, onde tudo acontece. Nenhum forasteiro passa despercebido quando lá entra e a mim ainda me olham com ar desconfiado. Em duas das três mesas à minha direita estavam sentados dois indivíduos, de pele curtida pela lavoura, cada um na casa dos setenta e cinco anos para cima, que falavam entre si e enquanto esperava pelo café, ia ouvindo:
... - Aquilo tem travão de mão eléctrico. Para destravar, tenho que abrir a mala do carro, tem um manípulo vermelho e destravo.
- Eh pá, isso não pode ser!
­­- Estou-te a dizer que é assim.
- Se calhar tentas destravar o carro com ele desligado. O meu também tem travão eléctrico e o do meu filho e da minha nora. Todos têm travão eléctrico. Ligamos o carro, carregamos no travão de pé que é para o carro não abalar, carrega-se no botão e ouve-se um ruído que é o carro a destravar.
- Pois o meu não! Para destravar tenho que abrir a mala e puxar um manípulo para destravar, porque se não, não abalo para lado nenhum. Os carros modernos são assim. É para evitar que a gatunagem nos leve os carros, tu não ouves as notícias? Continuaram a bater na mesma tecla e pelo que ouvi, acho que nunca vão chegar a um acordo.
Eis que chega outro indivíduo ao telefone, mas em alta voz, talvez com o Facetime ligado; do outro lado ouvia-se uma voz feminina com sotaque “meio franciú, meio portugais”. Talvez uma irmã, prima ou sobrinha que insistia:
- Tens de cá vir passar uma temporada connosco. Vens, que o Carlos vai buscar-te ao aeroporto. Nós vivemos a 80 km de Paris. Na França 80 kms não é nada, faz-se num instantinho a 180…
Ele continuava na dele:
- Não, eu não vou! Tu queres é controlar-me, estás sempre a telefonar; telefonas de meia em meia hora; tu queres é controlar-me! Olha lá, vocês aí nessa zona têm muitos coelhos? Eu não vou, nunca andei de avião, ainda aquela coisa cai! Não, deixa-me estar que eu estou bem. Sabes o que vai ser o meu jantar? Vai ser carapaus. Hoje levantei-me cedo, fui à lota e às seis da manhã já estava novamente em casa.
O dia deste fulano começa cedo; teimosias…
 É assim o passar dos dias na província… uma maravilha.

Adérito Barbosa in olhosemlente



sexta-feira, 1 de junho de 2018

Pequenino e insignificante

Sou de grandes sonhos - um verdadeiro pastor dos meus dias. Sou pequenino e insignificante aos olhos do mundo, mas sou enorme nos meus sonhos. Encontrei refúgio longe dos olhares dos lisboetas, mas não me escondi de ninguém - apenas quis encontrar-me comigo, sonhar, escrever, entender a música e os contornos da vida na província e sentir saudades nenhumas da electrónica e da informática que foram muitos anos a minha vida e me consumiram a alma até aos ossos.
É o meu destino - retirei-me e é neste retiro que continuarei. A serenidade tomou conta de mim e já anda comigo para todo o lado. Foi a idade e o tempo que a cultivaram, certamente. Luto pela sorte, que está sempre quase à mão, mas nunca fui bafejado por ela - considerando as inúmeras vezes que me foge.
Nunca me surpreendo com as boas coisas que faço, nem com as más que acontecem.
Não me iludi com as promessas e juras que me fizeram, nem me desiludi, quando me falharam com as mesmas. Sem pressa conto os dias que vagueiam por aqui, para me assegurar de que não falta nenhum.
No recato quero ser antes apreciador dos elementos, quando estão no lugar certo.
É o caso deste pôr-do- sol no Baleal.

Adérito Barbosa in olhosenlente.blogspot.com

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...