A BOTP1 agitava-se todas as manhãs com grandes jogos de Futebol de 5, grandes corridas pela mata de Monsanto e no verão, de vez em quando uma sardinhada promovida pela messe na mata da CCOM; se não me falha a memória, o gerente na altura era o Capitão Espírito Santo, que nos proporcionava pequenos-almoços à maneira e refeições de sonho. Depois das 16:30, infindáveis imperiais no clube e as secas do chefe Prucha, do Major Cavaco e do chefe Clemente, sem nunca descurar o chefe Candeias, mais conhecido pelo “Tirinhos”, sempre pronto a disparar a sua 38 sobre qualquer um!
Tudo ali era rotineiro e previsível até que apareceu na Base, vindo da BETP o falecido e saudoso Major Krug. Eu e o Krug éramos amigos e tínhamos em comum os filhos no Colégio Militar, daí alguma afinidade entre nós.
O Krug mal chegou à BOTP1 inventou a corrida da unidade - entre tantos gajos escolhia-me sempre a mim para dar o aquecimento e assim que acabasse o aquecimento, começávamos a corrida dos loucos pela serra abaixo.
Não contente com isso inventou o exercício BAT/CAÇ, o que nos obrigava a roubar-lhe os planos dos exercícios. Depois inventou Saltos, demonstração para tudo quanto era sítio, com ou sem vento.
Ainda hoje quando passo pelo Cacém dou comigo a pensar:
- Como fui capaz de saltar para um sítio destes?
Daí para a Alemanha, exercício NATO Schinderhannes - Patrulhas de Longo Raio de Ação - foi um passo. Só fui por imposição do comandante de companhia, porque os doutores já tinham reservado os lugares para eles, excluindo-me desta missão.
Estávamos no ano de 1990. Feitos os treinos, lá fomos nós para a Alemanha com muitos quilos de moedas de 25 tostões, que passavam por marcos nas máquinas de vending. O mesmo será dizer que o níquel português passava a valer um euro.
Na 1.ª noite da nossa chegada fui dormir cedo. O Lixívia, também já falecido, ficou no bar e contou uma história macabra aos alemães, dizendo que eu tinha sido apanhado no mato em plena guerra colonial, aos cinco anos e que fui adoptado pelos paraquedistas.
No outro dia de manhã, quando fui tomar o pequeno almoço, tornei-me o centro de atenções na messe. No bar internacional, nem os alemães nem os americanos me deixavam pagar nada. Ficavam todos à minha volta, com perguntas e mais perguntas sobre as tretas do Lixívia. Estava bastante incomodado com o assunto e fiz essa observação no nosso acampamento; vim a saber que me admiravam por ser um paraquedista desde os cinco anos.
Não satisfeito com esta mentira, inventou ainda que eu era campeão de boxe em Portugal; um calmeirão tipo armário veio ter comigo, querendo fazer umas luvas no ring da base. Eu é que sei as voltas que dei para me livrar do calmeirão alemão - só olhar para as mãos dele metia medo.
Connosco foi também o Pires, um soldado da CCOM. O Pires era louro, pequenino ainda com cara de puto, 18 ou 19 anos, não mais!
Numa das nossas saídas para a vida da vergonha fomos a um bar da pesada em Colónia, daqueles por pisos, onde as moças serviam as bebidas em biquini.
Mal entrámos, o capitão e o Pires não me largaram um minuto. O Pires ficou maluco com uma grandalhona, duas vezes o tamanho dele, mamalhuda, mas estava receoso. Depois de muitas hesitações, alertei a moldava grandalhona das intenções do Pires. Acertados os valores, lá subiram.
Como o capitão não falava patavina de inglês, também tive que negociar com uma alemã a missão dele e lá subiu.
Na sala-bar cá em baixo eram putas de todos as nacionalidades - brasileiras, jugoslavas, francesas, turcas e até encontrámos uma portuguesa fora de prazo.
Eu estava preocupado porque o Pires tinha subido antes do capitão. O capitão já tinha descido e o Pires ainda não; fiquei com medo que a grandalhona tivesse pisado o Pires por descuido e que o coitado estivesse moribundo. Falei com uns caramelos seguranças e disseram que até àquele momento estava tudo normal.
Passado um bom bocado chega o Pires, sorriso de orelha a orelha, vermelho que nem uma abóbora, todo feliz, acabadinho de descer do céu.
⁃ Então Pires, safaste-te bem?
⁃ Safei pois!
Lá contou as façanhas que considerei mentiradas do pequeno macho português. Fui ter com a grandalhona e perguntei:
- Então o pequenino portou-se bem?
- Puta que pariu o português. Ele é pequenino mas trabalhador e deixou-me num estado lastimável. O garoto usa pilhas, não?
Foto: major Krug e o Alcides Pires na BOTP1
Adérito Barbosa in olhosemlente