Palhaço espantalho
Especado no silêncio do nabeiro
Vagabundo e chorão no meio de nada.
Cheio de medo das palmas
De ninguém.
Às vezes só consegue escutar o ruído do mundo ao longe
Noutras esquece-se
De escrever na areia fina
O silêncio que arrepia o deserto nos dias de tempestade
E a resposta "não sei"
Tem pressa em viver hoje,
amanhã devagar e morrer só depois do luto e da festa.
Sonha soprar o vento
De Leste para Oeste,
De Sul para Norte
De Nordeste para Sudoeste
De Noroeste para Sudeste,
Da Noruega para a Suécia, dali para acolá
De mim para ti
De ti para eles,
Deles para outros,
Do mar para a serra
Do chão para o ar
Das batatas para as papaias
Do açúcar para o sal
Da água para as rochas
Do nada para todo o lado...
Para todo o lado...tudo numa perfeita e harmónica confusão do caos.
Para que ninguém entenda
Nada!
E ri-se, o maroto do palhaço…
Mas depois, depois quer viver
O amainar da brisa no meio da regueira das couves e do escaravelho
E ainda rebolar na samarra na anca da mondadeira.
Quer ver o pescoço sufocado da gola alta,
O fumo sair de um tubo de escape do brinquedo abandonado.
Quer ouvir o choro de uma boneca sem braços,
De cabelos arrancados sem piedade pela criança que brinca na soleira da porta.
Quer ouvir o apito desalvorado do comboio em marcha atrás
Sentir o silêncio húmido e frio das estrelas apagadas
E para acabar com isto, ainda quer sentir o vulcão moribundo
A fumegar dentro do cachimbo
De tudo um pouco quer ele fazer circo da sua
Adérito Barbosa in olhosemlente
Sem comentários:
Enviar um comentário