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sábado, 3 de dezembro de 2016

Vai-te fod.. disse ele.

Sou um tipo bafejado pela sorte, porque ainda estou vivo. Nunca tive grandes aspirações  que  fossem para além de viver a minha pacata vida, vida essa apenas  perturbada pelas facadas que os neurocirurgiões me dão  regularmente, num somatório que já vai em quatro e pelas Finanças, que se lembraram há dias de me chatear com umas contas esquisitas que só eles sabem fazer sobre o IRC da empresa,  referente ao ano de 2012 vejam só. De resto está tudo pacífico e não tenho nenhuma aspiração. Ah, esperem é mentira, há um pormenor que me ia esquecendo que faz com que a coisa não seja assim tão linear. Gostaria que me saísse o Euromilhões, com muitos milhões… Repartiria pelos meus fillhos, tirava algum para mim e o resto daria a uma Fundação que cuidasse de crianças com deficiência.
Depois disso, iria fazer uma licenciatura em Sociologia ou em Psicologia que me seriam úteis no aperfeiçoar da escrita -  preciso de entender melhor o ser humano.
Em conversa com um amigo meu das lides da escrita, fizemos uma espécie de tertúlia sobre as nossas escritas, falámos sobre psicologia e inevitavelmente veio à baila o meu livro dou-lhe fé do meu contentamento por ver o livro finalmente na rua e, entre outras coisas disse-lhe que a sala estava composta e que me senti bastante confortável com o calor humano lamentando porém a ausência total dos nossos  camaradas. Disse-lhe que convidara metade dos "amigos" que tenho no facebook, cerca de 350 e desses apareceu  apenas um, o Cor/Pq. Barroca Monteiro, o tal que, por sinal, me havia visitado no hospital na década de 90, quando estive internado no hospital da Força Área naqueles infindáveis meses medonhos.
- Olha, esse eu não esperava que fosse – retorquiu.
- Eu esperava , disse-lhe eu - ele é um homem que se interessa por História e pela cultura em geral; o que eu estranho mesmo é que os militares, exceptuando aqueles que enviaram mensagens, tenham primado pelo silêncio e pela indiferença em relação a um acto deste tipo, mas tudo bem não fizeram falta.
- Olha, Barbosa, sabes que, no nosso percurso militar, cultivamos a disputa e o despeito pelo trabalho dos outros e que esse espírito prolonga-se pela vida cá fora. Quanto menos te importares com o assunto,  melhor!
Entretanto, pus-me a pensar nas palavras do meu interlocutor e, tendo recuado uns dias, foi fácil compreender e conjugar o comportamento social militar paraquedista com a análise feita.
O Luis Nogueira Saju/PQ, foi hà pouco tempo acometido por um AVC que o empurrou para a cama do Hospital das Forças Armadas.
Vi no facebook a notícia, fiquei apreensivo e não resisti. Meti-me a caminho e fui até ao Hospital visitá-lo. Fui uma vez, depois outra e, na segunda visita, perguntei-lhe se a malta páraquedista tinha ido visitá-lo, ao que me respondeu: - Visitas de militares ? Tu e um ex -páraquedista que está agora na PSP.  Informei-o de que ia fazer a apresentação em Cascais e, lancei o desafio: Se te derem alta e te sentires bem, apareces lá tomas um cafezinho connosco e tiras umas fotos.
O Nogueira, mesmo com o corpo debilitado pelo  abanão que o AVC traiçoeiramente lhe pregou, apareceu no evento, carregado que nem um burro, com três milhões de máquinas e acessórios tendo o meu vizinho também ele convidado para fazer umas fotos, ficado em sentido com tanto material que o Nogueira ostentava.
No fim da cerimónia perguntei-lhe: - Nogueira, quanto é que te devo?
- Vai-te foder! Respondeu.

Adérito Barbosa in olhosemlente

1 comentário:

  1. Pois é meu querido amigo, como diz Paulo Coelho "O vencedor vai só"
    Abraço

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