Na década de oitenta eu era um jovem cheio de vida e muita testosterona no cérebro - acreditava piamente no nacionalismo e na independência de Portugal. Preparei-me para defender a nação, caso algum país ou grupo de camones mal intencionados tentassem invadir o nosso Portugal, a fim de ficarem com o nosso cozido à portuguesa, com o nosso pastel de Belém, com o nosso vinho do Porto, com o nosso bacalhau, com o nosso leitão de Negrais, ou com a nossa chanfana. Ainda pior do que isto seria ver as nossas miúdas nos bares, a dançar folclore no colo dos forasteiros invasores.
Frequentei um curso duríssimo, por imposição, de seu nome “Subversão”, onde apanhei uma valente coça. Fui torturado num interrogatório na torre da igreja de Constança e ainda hoje me doem os ossos da alma, só de pensar na tamanha surra que apanhei, quando eu, terrorista, fui apanhado numa cilada, amarrado e encapsulado. Esse curso foi ministrado na Base Escola de Tropas Pára-quedistas, no âmbito do CFS 1/82.
No final do curso fiquei apto para passar à clandestinidade, se necessário, organizar células, angariar homens e mulheres descontentes com a perda da soberania nacional, roubar armas, lançar o caos, incutir a incerteza aos governantes invasores que podiam morrer às nossas mãos a qualquer momento. Fiquei apto para lançar o pânico nas forças policiais e militares, colocar bombas em todo o lado, mutilar indiscriminadamente, raptar banqueiros, extorquir-lhes dinheiro e interrogá-los sob tortura. Vejam só, até um presunto e vinho para o vigário e uma prostituta para o Presidente da Junta da Freguesia tivemos que arranjar. Em suma, fui treinado para ser um terrorista a sério.
Naquele tempo aprendi que o terrorismo é um acto ou acções perpetradas por um grupo ou por uma organização de descontentes, sem capacidade de lutar taco a taco com o seu opositor, reivindicando algo como, por exemplo, a reconquista da soberania, no caso presente.
O acto de terror visa criar pânico na população em geral, incutir medo, provocar indiscriminadamente danos em infra-estruturas cruciais, como pontes, estradas, aeroportos ou edifícios públicos, fazer tudo para parar a economia e o normal funcionamento do Estado e, se possível, encher os hospitais de mutilados.
O assalto à Academia do Sporting nada tem que ver com o terrorismo que estudei. Aquilo não passou de uma brincadeira de meia dúzia de putos mal comportados, sem referência de valores, que nunca foram à tropa, mas que gostavam de ter ido e não foram graças aos políticos de merda que tivemos e temos por cá, quando acabaram o SMO.
Isto vem a propósito dos cinco dias de palhaçada das TVs à porta do Tribunal do Barreiro, incluindo a RTP, por causa da prisão do terrorista Bruno de Carvalho.
Pior foi ouvir a acusação do Ministério Público considerar como terrorismo as bofetafas que os jogadores levaram das claques e não considerar como tal as cotoveladas e as caneladas que os próprios jogadores dão uns aos outros, os insultos das bancadas, sem falar na escolta que a Polícia faz à “Caixa”, o que é bem revelador de que o próprio Estado aceita e promove a existência de arruaceiros.
Fiquei pasmado por a Sra. Procuradora não saber o que é o Terrorismo!
O Ministério Público nunca viu nem ouviu falar da ETA, nem do IRA. Nunca ouviu falar do atentado no metro de Madrid, nunca viu nem ouviu falar do atentado das Torres Gémeas em Nova Iorque, nunca viu nem ouviu falar dos carros-bomba no Afeganistão, dos atropelamentos em Nice e em Londres, nem do atentado do Bataclan em Paris, nem do atentado em Boston, nem do sequestro no teatro pelos tchetchenos, nem das acções dos estados ocidentais, incluindo Portugal, no Iraque, na Líbia e na Síria.
Eu gostaria de ver a Sra. Procuradora acusar Durão Barroso, George Bush, Asnar e Tony Blair de terroristas.
Esses sim, esses destruíram o Médio Oriente praticamente todo e andam por aí a gozar as belas reformas.
Quando ouvi a patética dissertação das acusações de terrorismo e as explicações dos juristas instruídos pela porquinha da Tany, enquadrando o terrorismo nos actos das bofetadas,
achei tudo muito chato.
Foi chato, durante cinco dias, ver a SIC e a RTP a competirem com a CMTV.
Foi chato saber que o terrorista Bruno nem sequer tomou banho.
Foi chato ver os especialistas de terrorismo de secretária bailarem sobre o campo minado com tacos de madeira.
Portugal é o país do mundo que tem aprisionado mais terroristas.
Comparar a triste e condenável atitude da Juve Leo com terrorismo é a mesma coisa que comer caganitas de cabra, convencido de que se está a comer chocolates Ferrero Rocher do Ambrósio.
Adérito Barbosa in olhosemlente
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