Foi importante ter vivido por dentro esta maravilhosa mudança de paradigma. Longos anos passei mergulhado no mundo dos computadores, dos módulos de electrónica, dos inverters dos encoders, dos protocolos TCP/IP, no meio do zumbido das potentes ventoinhas dos servidores de RAID, dos switches da defunta PT e das birras das redes – costumo até dizer que as redes que administrei foram as responsáveis pelas rugas e cabelos brancos que já ostento.
Foi bom ter trabalhado em empresas de tecnologia de ponta e ter sabido desde muito cedo manipular as redes CAN/ BUS, o sistema de distribuição horária dos aeroportos, da rede ferroviária e da banca; ter conhecido por dentro a Autoeuropa, a EPAL, os servomecanismos, os autómatos e a engenhosa automação dos engenhos de granito, onde funciona um complexo sistema de pesagem da granalha e da cal.
Tive também a sorte de ter trabalhado de perto com alguns génios portugueses em electrónica e telecomunicações,que me transmitiram conhecimentos e com quem pude aprender os segredos escondidos nos sistemas de automação industrial; finalmente imergi no mundo dos cartões magnéticos das escolas portuguesas, de que, sem falsa modéstia, fui um dos impulsionadores - por tudo isso tenho a sorte de ter percebido cedo que a ciência tinha acelerado à velocidade da luz e nunca mais iria parar. Da minha geração, quem andou nesse comboio podeconsiderar-se uma pessoa de sorte; quem não andou pode ter a certeza de que é um analfabeto nesta área do conhecimento.
Tentei viajar nele com a evolução debaixo de olho e ávido por aprender, sobretudo por compreender o fenómeno - fui até onde pude. A ansiedade foi tanta que poderei ter-me prejudicado, às vezes, deixando para trás as questões afectivas.
Com este andamento, sei dos conhecimentos que possuo hoje, mas também sei que daqui a vinte anos valerá pouco mais do que zero.
Bastaram cinquenta anos para que o inimaginável passasse à realidade e o mundo se transformasse completamente.
Hoje fiz uma investida no rasto da internet. Quem a inventou, qual foi o propósito, quem foram os físicos, os cientistas que desde os anos 30 trabalharam neste assunto.
O tiro de partida deu-o o Pentágono, quando criou um grupo de estudos para proteger e disponibilizar os ficheiros militares rapidamente. Quatro universidades americanas acabaram por se interligar com este grupo de estudos e com um departamento da Nasa. A anarquia daquela minúscula rede com seis computadores foi tanta que se tornou indispensável pôr ordem, disciplinar e hierarquizar. Decidiram dividir a rede em dois grupos: um a que deram o nome MILnet, uma rede militar e outro Usnet, uma rede para as universidades - assim nasceu o protocolo TCP/IP.
Mais tarde, dois europeus avançaram com o HTML, e o WWW aquilo que hoje conhecemos como o mundo WEB.
O pior visionário de todos os tempos era por sinal um especialista em informática, de nome Boloney, quando há 25 anos dizia “nenhum banco de dados substituirá o meu jornal”.
Depois de três décadas on-line, estou contente por compreender o que é a Net, como funciona e por ter a consciência de que ainda estamos no princípio.
Os visionários mais sensatos que Boloney viram na computação o futuro. Hospitais, bibliotecas interactivas, salas de aula multimédia, videoconferências, comunidades virtuais, comércio e negócios mudaram-se para o interior das redes.
Considero o mundo on-line de hoje um fórum maravilhoso; permite que qualquer pessoa publique mensagens, tenha acesso a todo o tipo de informações e saiba o que se passa em todo o mundo. Cada voz pode ser ouvida de forma instantânea e independente. O resultado? Toda a gente tem voz.
Apenas um senão - ler um livro no ecrã, na melhor das hipóteses, é uma tarefa desagradável - o brilho míope de um computador desajeitado não substitui as páginas amigáveis dum livro.
Adérito Barbosa in olhosemlente
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