“Nós, homens velhos
Tenham cuidado connosco.
Porque andamos por aí com o nosso coração endurecido.
Tenham cuidado connosco, já somos muitos e fáceis de identificar.
Já nos apaixonámos e já nos desapaixonámos.
Já nos perdemos e já nos encontrámos
Já chorámos e já esquecemos.
Já percorremos caminhos esquecidos, de aventura e de êxtase
Já sentimos o cheiro de flores e de perfumes manhosos…
Tenham cuidado connosco!
Já amámos corpos jovens, já escalámos com beijos montanhas erguidas em desertos e corpos morenos, ardentes de prazer.
Nossas mãos são peritas em acariciar, sabiam?
A nossa boca sabe a vinho velho e os nossos olhos são um paraíso que se os olharem
não o poderão abandonar.
Muito cuidado connosco portanto.
Nós já passámos dos 60, o nosso cabelo exibe brancos prateados com histórias nunca contadas.
Já não mentimos, já não brincamos e já não queremos aventuras.
Muito cuidado connosco…
Nós queremos apenas beijar enquanto elas dormem, segurar-lhes nas mãos, dar-lhes abraços eternos de segurança.
Nós sabemos cuidar, sabemos conquistar os dias e sabemos amar todas as noites,
chamá-las de tarde com um poema de quatro palavras, enchemos os domingos delas de alegria e saciedade.
Aos sábados olhamos para a Lua, lemos livros, cheios de paz.
As nossas palavras são sábias…
Nossos beijos ímanes dos quais elas não conseguem escapar.
Cuidado connosco, porque já não acreditamos em contos de fadas, nem nos apaixonamos pelos olhos ou pelas ancas, ou pelos seios firmes ou em longos cabelos e muito menos por uma cintura fina.
Tenham muito cuidado connosco!
Nós sabemos ouvir sem precisar que falem
Nós fixamos o olhar por detrás dos olhos,
na beleza da alma, na maturidade do espírito e na sabedoria mental.
Muito cuidado connosco!”
Autor desconhecido
Autor desconhecido
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