Estou sempre com os mesmos dias
já atolei a respiração nas insónias
já fui náufrago na eternidade do instante,
já fiquei noites adentro nas profundezas do sonho,
já vi estrelas sussurrarem segredos,
na cama onde nasceu a inquietude,
e já descansei no jardim de medos e esperanças.
Já estiquei a mente como um elástico
já me contorci até o infinito,
já fui prisioneiro voluntário na cela do abismo,
onde as sombras dançam
com a luz que não existe
mas teima em me encandear.
Já dormi destapado, de olhos abertos
como um farol num mar sem fim,
já vivi desesperado e confundido
como um caleidoscópio de sentimentos,
já rasguei as memórias atrozmente belas,
e já dei golpes profundos nas lembranças
e fantasias.
O que me corrói por dentro,
flui como um rio subterrâneo
nas cavernas do meu ser…
é uma gota, é uma lágrima de tempo,
é a angústia em êxtase.
Sou como um búzio que guarda
o som do universo, e nas noites
envia a melodia do silêncio.
Estou sempre com os mesmos dias,
vago entre o real e o que me espera,
sou um peregrino na terra dos sonhos,
onde cada passo é um suspiro,
cada batida do coração é um relâmpago
na minha tranquila tempestade.
E assim sigo, pela madrugada que vivo,
onde a luz se apagou
e a escuridão se fixou.
De espada cravada na alma,
sigo com a terra o perpétuo movimento
e, quando acordo, já é dia outra vez…
E assim há-de ser enquanto o poeta viver.
Adérito Barbosa, in olhosemlente.blogspot.com
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