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sábado, 28 de setembro de 2013

Neste quarto ainda...


Neste quarto ainda há cheiro no ar
As horas passam, cresço devagar
Fecho a porta, tranco as memórias
És um ficheiro com histórias
Que navega na minha tez
Sem perder a sensatez


Mão fria no meu peito
Assim é o jeito.
Danças de ventre enlevam
Entrego-me à loucura, sem reservas.
Sempre a primeira vez
Assim o quero, talvez…

Impudor sem limites
Aquieto os apetites
Frémitos de prazer
Com sussurros animais
Reguei com humidade a alma
Em torrentes de água calma.


A boca vende a lua
À bolina, numa falua.
Lábios que procuram os meus
Como teia em telas de museus.
Aninhados e trémulos em mim
Com sorriso de Aladino, por fim.
Cansados, a brotar luxúria


Sem palavras de lamúria
    Respiram o odor sem saber
    Naquela canção por entender
    Prostrar e respirar fundo
    Ir num sono profundo

    Rodopiar como velas de moínho
    ir com o vento e…
    Seguirmos o nosso destino.
    Toca-me agora!


                                                                                                                                  Adérito Barbosa



domingo, 15 de setembro de 2013

A cisma do Sr. Joaquim


A cisma do Sr. Joaquim

Hoje acompanhei a minha sobrinha ao  Médico. Apesar de maior e vacinada lá fui eu, orgulhoso, acompanhá-la a um médico meu conhecido e amigo.

Apesar de reconhecer competência superior ao médico não gostei da rececionista. Era uma daquelas pessoas que nada tem de sobra no que diz respeito à inteligência. Na sala de espera estavam quatro senhoras e o Sr. Joaquim, marido de uma delas e proprietário de umas dores nas costas que eu nem dadas as queria.
O Sr. Joaquim  mal se conseguia pôr direito, tamanha era  a dor e evidente pelos   seus suspiros. Mesmo assim, meti conversa com ele. Foi dizendo que em Portugal muitos velhos com a idade  dele morrem todos os dias nos hospitais por falta de assistência médica. Perguntou-me o que eu achava daquilo e afirmou que era uma tristeza uma pessoa chegar àquela idade e ir morrer nas urgências. Ansioso, ficou à espera que eu dissesse que era verdade o que ele dizia.

- Olhe que não Sr. Joaquim, Portugal tem dos melhores serviços de saúde,  toda a gente tem acesso a assistência médica - dei- lhe o exemplo dos americanos que pretendem copiar o nosso sistema. O Sr. Joaquim não ficou convencido e  manteve-se na dele.
- Morrem muitos velhos como eu nas urgências – ia dizendo o Sr. Joaquim, enquanto a tosse  da rececionista me  irritava os ouvidos.
- Então para que idade é este jovem? – espicacei o Sr. Joaquim.
-  Muitos! -  respondeu ele todo inchado, armado em conhecedor do mundo. - Eu... tenho 84 anos e já não é brincadeira nenhuma. E você?
- Eu!? Que idade me dá?
- 37 anitos - disse ele todo pimpão.
- Brincalhão! Grande brincalhão que você me saiu.
Do outro lado da sala, a mulher do Joaquim que conversava com a vizinha do lado mas com um ouvido no burro e o outro no cigano, atenta à nossa conversa, aprontou:
- Você tem 35.

  As outras para não ficarem caladas gritaram “40, 43, 45”. O leilão estava a aquecer.   - Este rapaz já conta com 54 anos. – Retorqui, inchado como um sapo.  Foi um "broá" na sala. As velhas perguntaram-me qual era o segredo para estar assim tão bem parecido. Entretanto, apeteceu-me dizer que o segredo estava no sexo. Mas fiquei calado.  Para ser franco nem eu sei. Só sei que ninguém me dá a idade que tenho. Com esta conversa fui constatando que as dores do Sr. Joaquim evaporaram como gasolina. Eis que o chamaram para a consulta. Assim que se ouviu: “Sr Joaquim, pode entrar!” .as dores voltaram e lá foi ele e  sua gemedeira pelo corredor fora, qual ambulância, avisando o médico que ia chegar um caso bicudo.

Passados vinte minutos aproximadamente regressou, o Sr. Joaquim, sem os gemidos.
- Então Sr. Joaquim que lhe disse o médico?
- Mandou-me fazer “um TAC”.
-.Então e as dores já passaram? - com a mão,  fez assim-assim. Bem, pensei eu, fez-se  milagre no gabinete do médico!

Entretanto, a rececionista continuava com a tosse irritante, e tornara ainda  mais irritante, quando  tentava explicar como esta lhe tinha surgido. Enquanto isso, vagueava  no Google e em simultâneo recebia o dinheiro que a gestora financeira do Joaquim lhe entregava, em notas de 20 euros, uma de cada vez, devidamente alinhadas na mesa,  somando um total de oitenta euros. Após o pagamento, a rececionista pegou no dinheiro e colocou-o na gaveta. A esposa do Sr. Joaquim pediu-lhe para chamar um táxi. Ela chamou o táxi e pela conversa fiquei convencido que era alguém conhecido. Chegado o táxi, eis que a rececionista voltou a pedir o dinheiro da consulta.

- Eu já paguei, eu já paguei! – repetia a velhota em pânico.
- não pagou, não! Eu não tenho aqui o dinheiro.
A velhota começou a tremer e entrou em pânico e as dores voltaram às costas do Joaquim.
 Pensei eu:  “Bem, isto está aqui uma açorda... “
- A senhora já pagou! – intervim em voz alta, salvando os velhotes.
- já? - retorquiu a rececionista apinocada. - Quando?
- Sim, pagou com quatro notas de 20 euros! - esclareci eu.
- Eu não recebi! - afirmou ela.
- Então conte o dinheiro! - ouviu-se em coro na sala. - A senhora pagou sim!
- Se todos aqui na sala dizem que ela pagou é porque pagou - disse ela, perante a evidência.

O assunto ficou encerrado. Coitado do Joaquim. Foi ao médico por causa das dores nas costas e levou a mulher de perfeita saúde. Por pouco que não saía do consultório com as dores de costas que já tinha, com dores de cabeça, a mulher com  problemas no coração e com menos  oitenta euros na carteira, tudo provocado pela rececionista. A sorte do casal Joaquim foi o facto de na sala todos estarmos atentos.
Se estivessem lá sozinhos, não sei não... Imagino bem como seria...Por este episódio, compreende-se a minha aversão à rececionista. O Joaquim, refeito do susto dos oitenta euros e já a caminho do táxi, arrastando a perna, agradeceu-me e disse mais uma vez:
- Acredite que morrem muitos velhos como eu nas urgências, por mau atendimento. É uma tristeza....

Ninguém consegue tirar esta cisma ao Sr. Joaquim.

Adérito Barbosa
11 de Setembro 2013

 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

um país de generais sentados


"um país de generais sentados"

Há generais que nunca mais acabam que são oriundos do colégio. Porque não mostram o que valem?
Portugal tem 190 Generais e os Estados Unidos têm 31.
Os nossos como não têm soldados para comandar, ocupam o tempo a vigiarem-se uns aos outros, e a beijarem o rabo aos políticos. Eles atrás das estrelas, os políticos atrás de tachos.


" Espera o tempo suficiente um dia chegarás a coronel ou a general" é o lema.
 
Adérito Barbosa
 

Um país de generais sentados

Há uma cultura nas Forças Armadas em que, quase sempre, a melhor decisão que se pode tomar é não tomar decisões, dizem os americanos. Até para uma banda tocar é preciso autorização de topo.
Micael Pereira (www.expresso.pt)
A visão da diplomacia americana sobre a gestão e o exercício do poder dentro das Forças Armadas portuguesas é tudo menos diplomática, pelo que se pode ler num relatório assinado pelo embaixador Thomas Stephenson e que consta de um extenso telegrama já citado nas páginas anteriores - enviado a 5 de março de 2009 para Washington com o título "O que há de errado com o Ministério da Defesa português?"
O documento inclui um diagnóstico desassombrado sobre uma estrutura "rígida" e incapaz de tomar decisões. "A imagem de generais sentados sem fazerem nada não é uma mera alegoria".
"Os militares têm uma cultura de statu quo em que as posições-chave são preenchidas por carreiristas que evitam entrar em controvérsias, em vez de serem preenchidas com pensadores criativos, promovidos pelo seu desempenho", escreve o embaixador americano.
"Espera o tempo suficiente, dizem-nos os oficiais, e chegarás a coronel ou a general. Esta cultura fomenta um pensamento adverso a correr riscos e um corpo de oficiais superiores para quem adiar uma decisão é quase sempre a melhor decisão". Stephenson explica o que quer dizer com um caso: "Pedimos ao comandante da academia militar portuguesa se a banda da academia podia atuar numa receção da embaixada americana. O general de duas estrelas respondeu que isso teria de ser aprovado pelo chefe do Estado-Maior do Exército".
O problema não está, para o embaixador americano, na falta de recursos humanos. "Como a maioria dos aliados da NATO, Portugal encontra-se abaixo do padrão oficial que determina dois por cento do PIB para o orçamento de defesa. Portugal está nos 1,3 por cento e gasta esse dinheiro de forma imprudente. Portugal tem mais generais e almirantes por soldado do que quase todas as outras forças armadas modernas: 1 para cada 260 soldados. Em comparação, os Estados Unidos têm um rácio de 1 para cada 871 soldados". Mais: existem ainda "170 generais adicionais que recebem o ordenado por inteiro enquanto se mantêm inativos na reserva".

Qualquer um pode ser um obstáculo

"Um corolário da regra de que ninguém toma decisões de comando", continua o embaixador, "é que qualquer pessoa pode bloqueá-las. Ultrapassar estes obstáculos exigiria que um oficial viesse a público desafiar a oposição interna, num ato raramente valorizado".
O cenário de bloqueio interno é agravado pela segregação que existe entre os três ramos das forças armadas e o Estado-Maior-General. O telegrama refere-se aos ramos (exército, marinha e força aérea) como "feudos". "O chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas não tem orçamento nem autoridade sobre os chefes dos ramos, que regularmente ignoram as ordens dele".
"A necessidade de consenso na estrutura militar", diz Stephenson, "inviabiliza muitas vezes os planos do Governo". E dá um exemplo: "Nas reuniões da comissão bilateral luso-americana, elementos do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Defesa têm implorado para que cooperemos em programas de formação militar na África lusófona. Nós concordámos, mas só um em 16 projetos de cooperação trilateral propostos por nós - a pedido do Governo português - teve a participação de Portugal (um único sargento associado à formação do exército americano sobre desminagem na Guiné-Bissau)".
Segundo o telegrama, há franjas no Ministério da Defesa que têm um sentimento de posse em relação à África lusófona e não querem o envolvimento de outros países em programas militares com as ex-colónias.

Devemos fazer o trabalho interno dos portugueses

A par da radiografia negativa sobre as Forças Armadas, o telegrama estabelece linhas orientadoras de como a diplomacia norte-americana deve abordar o Ministério da Defesa - e também o Governo português em geral. O princípio básico, para o embaixador, passa por incentivar Lisboa sempre que possível. "Nunca deveríamos perder uma oportunidade para encorajar o Governo português, porque o Governo português nunca perderá uma oportunidade de procrastinar (adiar)".
Para isso, Stephenson acredita numa tática de infiltração nas estruturas internas do poder: "Devemos envolvermo-nos cedo e frequentemente e estarmos prontos para fazermos as consultas internas por eles dentro do Ministério da Defesa".

Adérito Barbosa in "olhosemlente"


terça-feira, 10 de setembro de 2013

Manual da treta converseta

 O Manual Universal do Discurso Político-Tecnocrático, a seguir apresentado, foi originalmente publicado pela “Zyele Warsawy” (Revista de Varsóvia), periódico do governo polaco, e se constitui num mecanismo que desmascara a superficialidade e falta de conteúdo da linguagem oficial.
A maneira de empregá-lo é muito simples: inicia-se sempre o discurso pela 1ª casa da 1ª coluna, passando-se a seguir para qualquer outra casa da 2ª coluna, depois para qualquer casa da 3ª, depois para a 4ª coluna, voltando para qualquer outra casa da 1ª coluna (com exceção da 1ª casa) e assim por diante, de coluna em coluna, sem importar a casa escolhida em cada coluna, mantendo-se apenas a ordem I, II, III, IV. São possíveis 10.000 combinações para um discurso pomposo e totalmente inócuo de até 40 horas.

 
I
II
III
IV
 
1
Companheiros,
a execução das metas do programa
nos obriga à análise
das condições financeiras e administrativas exigidas
 
2
Por outro lado,
a complexidade dos estudos efetuados
cumpre um papel essencial na formulação
 
das diretrizes de desenvolvimento para o futuro
 
3
Assim mesmo,
a constante expansão de nossa atividade
 
 
exige a precisão e a definição
do sistema de participação geral
 
4
No entanto, não podemos nos esquecer que,
a estrutura da organização
auxilia a preparação e a composição
das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições
 
5
Do mesmo modo,
o novo modelo estrutural aqui preconizado
garante a contribuição de um grupo importante na determinação
das novas proposições
 
6
A prática cotidiana prova que,
o desenvolvimento contínuo de distintas formas de atuação
 
assume importantes posições no estabelecimento
das direções preferenciais no sentido do programa
 
7
Nunca é demais lembrar o peso destes problemas, uma vez que,
a constante divulgação de informações
facilita a criação
do sistema de formação de quadros que corresponda às necessidades
 
8
As experiências acumuladas demonstram que,
a consolidação das estruturas
obstaculiza a apreciação da importância
 
das condições inegavelmente apropriadas
 
9
Acima de tudo, é fundamental ressaltar que
a consulta aos diversos militantes
oferece uma interessante oportunidade para verificação
dos índices pretendidos
 
0
O incentivo no avanço tecnológico, assim como
o início de atividade geral de formação de atitudes
 
acarreta um processo de reformulação e modernização
das formas de ação

 

Comboio


Sou robusto, rápido, resistente, silencioso e seguro. Sou comprido e, quando embalo, o meu colo é um baloiço. Minha pele é em inox e cobre as vigas de aço que trespassam o meu corpo. Possuo dois olhos à frente e dois atrás, apesar de os dois passarem, por vezes, a quatro. O meu ventre é fofinho, mas tempos houve em que desgastava e calejava os rabos.
Testemunho diariamente coisas incríveis. Meu nariz calejado goza de um olfato assaz apurado. Conheço bem todos os odores, pelo que identifico quem ostenta “Dior” ou “Patchouli.”. Reconheço de igual forma os que se lhes opõem. Identifico os ensonados, os distraídos, as grávidas, os velhos e os jovens, todos amontoados, de manhã e ao fim do dia. Permito-me ver belas pernas, leitores de ocasião, unhas bonitas, unhas sujas ou unhas roídas. Umas vezes sinto-me cheio como um ovo, e outras não. Todos os dias passo à mesma hora nos mesmos locais e sigo sempre o mesmo caminho. Sou confidente de muita gente. Sou capaz de me lembrar de todos os namorados, das trocas de olhares - que nunca passaram de sonho -, assim como presenciei algumas cenas de amor das mais fugazes alguma vez vistas.

Contaram-me que os meus tetravôs eram pachorrentos, assobiavam quando partiam e deitavam fumo preto pela cabeça.

Para evitar que eu faça disparates, colocaram-me no coração um sistema tipo “bypass”, a que deram o nome de “homem morto”.

Sou o comboio!...

Adérito Barbosa

domingo, 8 de setembro de 2013

Fiz a minha parte


 Fiz a minha parte
Fiquei à tua espera
e de repente,
dentro desta esfera
senti o vazio,
o frio.
Este jogo é uma ilusão,
é um rodopio constante,
e com a mão cheia de sonhos,
plantei na noite
a voz que se calou…
O silêncio!
Duro é o momento,
parece inevitável.
É tarde demais.
Acabou-se!
desiludido como aço
sinto-me como gelo,
é o cansaço… 
Nesta caminhada,
no meio deste ermo,
piso vidros partidos,
reconheço a tua partida.
baixo os braços,
e não sinto dor…
Vai!...
Adérito Barbosa in "olhosemlente"
8 de Setembro 2013

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cabo Verde




C...anta aos teus filhos
A...ntes que a noite caia,
B...elas mornas
O... ndas beijam tuas ilhas
V...êm e vão com o vento
E...esperas pela chuva

R...emas no mar imenso
D...esistir? nunca!
E...u canto-te, ó Cabo Verde



Tens!
S. Vicente, S. Nicolau
Santo Antão e Santa luzia?
...tens!


Tens S. Filipe
e Boa Vista?
...tens!


Tens gente Brava
e Pico em Santiago?

...tens!

Tens Fogo que aquece
as lágrimas do vulcão?
...tens!


 No Maio
tens virgens praias?
...tens!

 Tens Sal
no teu corpo?
…tens!

Deixa-me
lamber

a tua pele, crioula!

Adérito Barbosa in "olhosemlente"
5 de MAio de2013


Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...