Sou robusto, rápido, resistente,
silencioso e seguro. Sou comprido e, quando embalo, o meu colo é um baloiço. Minha
pele é em inox e cobre as vigas de aço que trespassam o meu corpo. Possuo dois
olhos à frente e dois atrás, apesar de os dois passarem, por vezes, a quatro. O
meu ventre é fofinho, mas tempos houve em que desgastava e calejava os rabos.
Testemunho diariamente coisas
incríveis. Meu nariz calejado goza de um olfato assaz apurado. Conheço bem
todos os odores, pelo que identifico quem ostenta “Dior” ou “Patchouli.”.
Reconheço de igual forma os que se lhes opõem. Identifico os ensonados, os
distraídos, as grávidas, os velhos e os jovens, todos amontoados, de manhã e ao
fim do dia. Permito-me ver belas pernas, leitores de ocasião, unhas bonitas, unhas
sujas ou unhas roídas. Umas vezes sinto-me cheio como um ovo, e outras não. Todos
os dias passo à mesma hora nos mesmos locais e sigo sempre o mesmo caminho. Sou
confidente de muita gente. Sou capaz de me lembrar de todos os namorados, das
trocas de olhares - que nunca passaram de sonho -, assim como presenciei
algumas cenas de amor das mais fugazes alguma vez vistas.
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Contaram-me que os meus tetravôs
eram pachorrentos, assobiavam quando partiam e deitavam fumo preto pela cabeça.
Para evitar que eu faça
disparates, colocaram-me no coração um sistema tipo “bypass”, a que deram o
nome de “homem morto”.
Sou o comboio!...
Adérito Barbosa
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