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sábado, 28 de junho de 2014

O MEU BARCO TEM ASAS

O meu barco tem asas…

- Olá, Mãe! Bom dia!
- Bom dia, filho! E a mãe beijou-o com a      ternura de sempre.
- Estás cansado, filho!
 - Sim, muito cansado.
- Como correu a viagem?
 - Foi uma seca!
- Pronto, o que importa é que chegaste bem; toma um banho, que eu vou preparar-te o almoço. Queres que te sirva uma bebida? O teu pai, que Deus lá tem, sempre bebia um whisky antes das refeições. Desde que o médico lhe disse que a bebida tinha benefícios, foi o que ele quis ouvir. Aliás, tu sempre lhe fizeste companhia. Desde que ele morreu, que ninguém mais abriu aquela garrafeira! Aquele desgraçado podia ainda estar vivo, não fora a vida de boémio que sempre levou. Deixou-me sozinha a tratar dos filhos... O que vale é que nunca vos faltou com nada. Era um bom homem! Nunca conheci outro...
 Foram as últimas palavras que o Manuel ouviu da mãe, sempre rabugenta... E deixou-se afundar no sofá, vencido pelo cansaço da viagem.
E começou a sonhar... Procurara uma razão para escrever uma crónica para uma comunidade de futuros escritores, à qual pertencia, sob o mote: "Margens inertes abrem os seus braços, um barco no silêncio parte" …
Lembrou-se de que nunca precisara de se preocupar com o encontrar argumento para escrever sobre um rio, suas margens e ainda por cima de braços abertos... Navios que partem no silêncio...
Então e a buzina do navio? O navio tem buzina. Todos os navios que partem buzinam no nevoeiro. Coisa estranha! Como vai o barco partir, se ali, a duzentos metros mais abaixo, o rio se vai precipitar numa queda de água e, ainda por cima, o rio só tem a profundidade de vinte centímetros? Está nervoso, vai acontecer uma desgraça; está nevoeiro! Como é que o comandante consegue que o barco navegue nestas condições?
Na outra margem está sol, há festividades da colectividade com arraial e tudo. Desde ontem que o Quim Barreiros canta, sem parar, sempre a mesma canção: “Ponho o carro, tiro o carro à hora que eu quiser...” Desde ontem que todos os passageiros do barco estão na festa.  Um turbilhão de confusão vai naquela margem. Barco grande sem buzina e sem passageiros, rio sem profundidade, queda de água a duzentos metros, comandante que não vê, nevoeiro numa margem, sol e arraial na outra.
Temos pouco tempo, precisamos de convocar a malta. Pego no megafone e falo para a outra margem.
- Com a força da nossa amizade, sinto que vós tendes força para escrever uma história, contando que nas margens, de sol e nevoeiro, ancoramos o nosso barco de papel, na convicção de que lhe construiremos as asas!
Com o seu discurso magnético da retórica, todas as personagens do mundo imaginário, sob as ordens do  Peter Pan, montaram uma mesa enorme e estão a dobrar papel vegetal que os ratos roubaram no armazém do tio Xico, um grande forreta da margem!
 Para que as asas não fiquem grandes, o Gato das Sete Botas vai queimando as folhas dobradas que iam saindo do tapete rolante artesanal, por ordem do Peter Pan.
O pai falecido também apareceu para ajudar
- Oh pai, também tu aqui? Mas tu não estás morto?
- Estou, filho; pedi licença no céu, para vos vir ajudar a salvar este barco do naufrágio, temos que pôr asas pequenas nisto!
- Pequenas? Quem disse, Pai?
- Foi o Peter Pan. Ele recusa-se a crescer!!!
- Aquela do céu é verdade?
- Sim, claro que é!
O barco está pronto, já tem asas pequenas como o Peter Pan quis. O pai morto entrou num Ferrari amarelo, conduzido por uma loira e esfumou-se; o nevoeiro dissipou-se, a festa terminou, todos embarcaram no barco de papel com asas iguais às que a mãe vezes sem conta dobrara, para eu pôr a navegar na banheira da casa de banho.
- A nossa amizade está realmente muito próxima de transformar-se em sentimento maior, mas preferimos  não viajar com vocês para a margem inerte comandante! diz o Peter Pan.
- Preferimos a nossa margem! Agora temos de ir, que o almoço está pronto, ouviu ele, quando a mãe o acordou:
- Anda, filho; o almoço está na mesa!
- Adormeci.
- Deixa lá, depois do almoço vais dormir.
- Não posso, tenho uma crónica para escrever hoje, para uma associação de futuros escritores.
- Sobre?!
- "Margens inertes abrem os seus braços, um barco no silêncio parte"
- E o que é isso, filho?
- Barco de papel com asas.
- Como aqueles que eu te fazia, quando eras pequeno e punhas a navegar na banheira?
- Sim, Mãe. Sabes por que tipo de mulheres o meu pai se perdia, quando era jovem?
- Por loiras, meu filho… por loiras!!!
Adérito Barbosa in olho sem lente

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Os nós que somos nós

“Os nós que somos nós”
(Uma história colectiva construída por Adérito Barbosa, Ana Maria Santos, Ana Paula Ferreira, Asun Estévez, Fátima Veríssimo e Maria José Castro, a partir de uma fotografia).




Chegou com ansiedade aos cais da vila piscatória aninhada numa pequena enseada, uma baía que une as duas margens, onde o rio desagua no mar, sem sombra de dúvida!
Marver procurava encontros e desencontros, um mar de sensações, uma fatia da natureza, um objecto onde todas as histórias tivessem um ou vários sentidos, algo que ultrapassasse a simples fotografia. Ajustou o ISO à luz inconfundível daquela baía, salpicada aqui e ali por alguma nostalgia. Debaixo das arcadas, junto ao cais, adivinhava-se alguma solidão, mas desviou o seu olhar para uma corda bem esticada, um cabo como dizem os marinheiros. Não era uma corda qualquer, havia qualquer coisa naquela simetria, naquele cabo de amarração, naqueles nós, naqueles laços.
Preparou a objectiva e congelou a imagem. Partiu com a sensação de que aquele objecto não era apenas uma fotografia.
O que fazer com aqueles nós agora congelados na imagem digital? Meteu as 5 imagens, uma em cada garrafa, e lançou-as ao rio, ao rio da sua aldeia, como diz Fernando Pessoa. Do rio ao mar, cada garrafa percorreu o seu caminho até cada um dos seus amigos – a Ana que teria de esperar mais tempo pela garrafa, a Teresa, o Manuel, a Maria e a Laura.
E dos novelos de nós foi surgindo uma teia de histórias que Marver (re)conta com as cartas que recebeu nas garrafas lançadas ao rio da sua aldeia.
Maria não tinha muitas certezas na vida, mas isso dava-lhe uma grande sensibilidade para imaginar que os nós são o que nós queremos. Não sabia se eram nós, se éramos nós, se eram os laços que nos unem, os laços com que vamos desenhando os nossos espaços, criando as nossas frágeis pontes como flores, como flores perfumadas... Nós, amarras... âncoras!
Pelo contrário, Laura só sabia que as cordas têm nós quando nos amarramos uns aos outros, numa (in)dependência de nós, de laços, de linhas cruzadas. Nós lassos, nós apertados, nós cegos: de amor, de amizade, de solidariedade, às vezes de servidão. Numa existência que queremos feliz (ou apenas não infeliz).
A vida é feita de nós, dos nós que nos apertam a garganta, lembrava Teresa, quando recordou o episódio que a marcou para o resto da vida, quando conseguiu salvar Manuel de cair no abismo. Às vezes, não acreditamos que quem nos agarra nos quer libertar, murmurava Teresa ao ouvido de Manuel e acrescentava que a liberdade é um estado de alma que passa muitas vezes pelo corpo também.
Pelo corpo dorido de sofrimento, quando António puxa os cabos que amarram o barco ao cais, quando o liberta, quando os homens e mulheres lançam a esperança ao rio ou ao mar. Ai que saudades tenho eu de lamber as feridas daqueles que o mar fustigou!  Mas as memórias impressas na areia como carimbos relembram as vozes das palavras que a espuma não apaga. E Maria recitou o poema com os olhos colados ao horizonte:
Uma corda, um nó, uma união!
Uma corda, um nó, uma maresia!
Uma corda, um nó, uma amizade!
Uma corda, um nó,
Um cabo de mãos que se entrelaçam
de mãos salgadas de vida,
de medos e de ternuras,
de mãos que criam pontes, caminhos
delicados sobre as águas….
Uma corda, um nó,
um Cabo da Boa Esperança,
um abraço
que abraça o rio, e
que tu pescador da beira Tejo
nos ofereces
como se fosse a tua rosa preferida!

Manuel ouviu com emoção estas palavras de quem já viveu um segundo suspenso numa corda grossa pendurada numa árvore. Todas nós imaginámos o cenário que Manuel ia relatando vagarosamente com a voz arrastada, como se aquele nó lhe atravessasse a garganta: “Agarrei-me à corda grossa pendurada à árvore. Extensa corda esta, cheia de nós que parece ligar o mundo ao céu.
Fora colocada de maneira que ficou à vertical da represa, a meia altura da água, permitindo a manobra de um baloiço. Não tem cadeirinha não, apenas nós pelo seu corpo acima. Muitos nós, talvez de trinta em trinta centímetros. Nos nós de baixo, mais próximo da água, fixo os meus pés, nos nós mais a cima, seguro com as mãos. Aos nós me agarro e lhes confio a vida numa espiral de inocência. São nós que estrangulam a própria corda como uma cobra aperta a presa, como um nó de marinheiro, aperta, aperta...
Confio nestes nós. Eles suportam o meu peso, são neles que me penduro. São nesses nós que entrego a vida sem medo, tentando descobrir as razão das coisas que não entendo, e ali teimo em ficar pendurado, indo e vindo ao sabor do vento, baloiçando naquele prumo, de nós sobre a suave tolha de água e ler no espelho de água, antes de o rio se precipitar nas pedras com o teu sorriso, a palavra quero-te.
Extensa corda de nós com muitos nós, nós de trinta em trinta centímetros; nós que estrangulam sem piedade a minha garganta ressequida, quando te escutei dizer sem piedade:
- não, não te amo Manuel, eu amo outro e tu sabes disso!!!
Quero desatar esse nó que me aperta a garganta, não mais beber da minha lágrima.
Quero agarrar os nós da vida e gritar bem alto e dizer ao mundo que já tenho a parcela que me pertence. Por isso, agarrado a estes nós, vou e venho de uma margem a outra ao sabor do vento e sobre este espelho de água respiro os ruídos do tempo sem nó na garganta, enquanto sonho com o teu beijo”.
Já nada demovia Teresa da sua intenção. Manuel teria que suportar aquele nó bem apertado na sua garganta. Talvez fosse a sua libertação, um momento de felicidade, uma esperança encontrada na garrafa que Ana lançou ao mar da Galiza e ao rio Tejo veio desaguar. Foi António, o pescador de beira-rio, que a entregou a Manuel, percebendo que aquele nó teimosamente lhe apertava a garganta. E a missiva de Ana foi a última história que Manuel nos contou até que o nó da sua garganta ficou cada vez mais lasso: “Ás veces nesa procura da felicidade imos sen rumbo na nosa rutina, sen saber moi ben a onde, nin cómo...
Nin buscamos, nin pretendemos, incluso, xa cansos de corpo e alma, desistimos ata de soñar.
Mais a vida, sempre sabia, sáenos ó paso e toma conta. É ela a que dispón no momento certo, a que ata ou desata os nós.
Chegados a este punto podemos mirar para outro lado negando a evidencia ou aventurarnos coa vertixe do descoñecido. O tempo é sempre fugaz e non entende de pausas, nin admite prórrogas. El camiña cara adiante e non agarda por nada nin por ninguén.

Sempre haberá un porto para aqueles que camiñan descalzos de destinos. Sempre haberá cordas para os que prefiren ficar presos. Ás veces mesmo é así. Quizais antes de acontecer, as historias que nos conforman, xa estaban escritas. Agora só resta ter o valor de vivir, con ou sen nós, pero iso si, sen quitarlle ollo á corda”.

Adérito Barbosa in olhosemente

terça-feira, 24 de junho de 2014

A minha corda ficou na vertical.

Escrita colectiva, promovida pela Fátima Veríssimo - mote fotografia em baixo

A minha corda ficou na vertical.

Agarrei-me à corda grossa pendurada à árvore. Extensa corda, esta cheia de nós, que parece ligar o mundo ao céu.
Fora colocada de maneira que ficou à vertical da represa, a meia altura da água, permitindo a manobra de um baloiço. Não tem cadeirinha não, apenas nós pelo seu corpo acima. Muitos nós, talvez de trinta em trinta centímetros. Nos nós de baixo, mais próximo da água, fixo os meus pés. Nos nós mais a cima, seguro com as mãos. Aos nós me agarro e lhes confio a vida numa espiral de inocência. São nós que estrangulam a própria corda como uma cobra aperta a presa., como um nó de marinheiro, aperta aperta...
Confio nestes nós. Eles suportam o meu peso,. São neles que me penduro. São nesses nós que entrego a vida sem medo, tentando descobrir a razão das coisas que não entendo e, ali teimo em ficar, pendurado, indo e vindo ao sabor do vento, baloiçando naquele prumo, de nós sobre a suave toalha de água, e ler no espelho de água antes de o rio se precipitar nas pedras com o teu sorriso, a palavra quero-te.
Extensa corda de nós com muitos nós, nós de trinta em trinta centímetros. Nós que estrangulam sem piedade a minha garganta ressequida quando te escutei dizer sem piedade: - não, não te amo Aderito, eu amo outro e tu sabes disso!!!
Quero desatar esse nó que me aperta a garganta, não mais beber da minha lágrima.

Quero agarrar aos nós da vida e gritar bem alto e, dizer ao mundo que já tenho a parcela que me pertence. Por isso, agarrado a estes nós, vou e venho de uma margem a outra ao sabor do vento e, sobre este espelho de água, respiro os ruídos do tempo sem nó na garganta, enquanto sonho com o teu beijo.

Adérito Barbosa in olhosemente

sexta-feira, 20 de junho de 2014

E assim fizeram troça dos militares…

No ano de 1977, a cidade da Guarda foi a cidade escolhida pelo General Ramalho Eanes, então Presidente da República, para receber as cerimónias do dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Na altura, a Guarda engalanou-se para para receber o Presidente da República e os militares. Houve espectáculos de toda a ordem, incluindo um festival aéreo, exposição estática e os sempre esperados  saltos de demonstração dos páraquedistas, de que a miudagem e graúdos tanto gostam. Houve ordem e  respeito, tendo estado bem patente o orgulho dos militares que desfilaram e o orgulho da população, por ver ali tão perto os seus militares.
No ano de 2014, para a celebração da mesma data, o 10 de Junho, a Guarda voltou a ser a cidade eleita  para receber o evento.
 A cerimónia militar inclui os três ramos das Forças Armadas  e com a sua parada e desfile tem como objectivo, entre outros, mostrar aos Portugueses os equipamentos militares, dizer à população o que andam a fazer e lembrar e homenagear publicamente aqueles que tombaram em combate.
Ora, aconteceu que um grupo de manifestantes, identificados como membros da Fenprof se lembrou de ir perturbar a cerimónia militar, apupando e exibindo faixas com a inscrição “Governo Rua”, em claro desrespeito pelos militares.
 Eu também acho que o governo deve ser posto na rua! No entanto, naquele momento não estávamos perante qualquer parada do governo,  mas sim perante a parada e desfile dos três ramos das Forças Armadas de Portugal, que integravam na sua formatura o estandarte nacional!
Porque é que os manifestantes não foram fazer a algazarra na sessão  solene para entrega de condecorações, que se seguiu à cerimónia militar?
O Presidente da República, quer se goste ou não dele, ali na cerimónia militar erá só o Comandante-Chefe das Forças Armadas. Mesmo quando ele desfaleceu, a rapaziada representante dos professores lá continuou a algazarra e com a algazarra, esqueceu-se de que ali, na formatura que integrava o estandarte nacional, estavam militares que nada tinham  a ver com a acção dos governantes. Uma vergonha!
E este é o país que temos; já nem os professores respeitam as Forças Armadas; já nem os professores conhecem os valores e símbolos  de uma nação. Como podem eles ensinar os valores patrióticos aos seus alunos?

Justificar-se-ia melhor, nesta situação, uma carga policial da grossa no lombo destes arruaceiros do que as que, por vezes, ocorrem  na escadaria da  Assembleia da República, por uma simples pisadela no primeiro lance das escadas.

Adérito Barbosa in olhosemlente

sábado, 14 de junho de 2014

Macacos me mordam!!

Deixa andar ó Zé
É só conversa e cada vez mais...
Cala-te, não te preocupes
Que há impunidade
Ladrões e mentirosos
governam com recortes de fina
incompetência... e Prepotência
Já nem os juízes têm razão
O povo é quem paga
Eu também!
Pago o preço  da ignorância,
Da Ignorância de quem vota
De que nada sabe do que faz.
Abaixo os jotas prostitutos
Que chafurdam nos esgotos da Política.
Da política que não temos
Da tanga que nos vestem
Dos paneleiros e maricas,
Das putas e proxenetas
que agora tudo conta para o PIB
É «show-off»
É «show-off» total
Viva os "boys" sem cornos
Que pastam na arena
Do chefe, do ministro do patrão e do crime da gola Branca
Dos parceiros das PPs e outros que tais.
Tais como Sto. António virtual casamenteiro entregador de virgens aos caprichadores.
Porra!  É o país total «Tal & Qual» parem com esta merda!
Parem, com esta vergonha,
Deixem de aplaudir a pedintes
Dívida sussurramos não pagar. Mas vamos pagar e não bufar!
Viva as marchas da avenida
há  um dildo sem pilhas esquecido no canteiro. E sardinhas frias sem pele.
É o conto do vigário, das Cartomantes, das tardes da Júlia, das manhãs
Do Gouxa, dos prémio garantido,
Burla instituída, comentadores eternos.
Viva o relógio do Largo do Caldas É «show-off» que já parou
Macacos me mordam. Arre!!! Porque não mandamos foder essa gente 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Toca-me só com a mente…

Vamos para junto do rio
Podemos ouvir as cascatas
Vamos passar a noite com a lua
Água calma e silêncio
Ele alimenta como chás e laranjas
Que vieram do oriente
Apenas quero dizer
Que tu não tens amor!
Esquece a onda da dúvida
Deixa a resposta ao rio
Sempre foste sua amante.
Vamos viajar com ele
Vamos viajar sem ver
Saltar com ele
Toca só com a mente
O seu leito perfeito.

Agora somos marinheiros
Caminhamos sobre a água
Longo tempo percorrido
Solitária jangada de nada
E quando nos despimos
Somente os afogados nos vêm
Até que o rio nos liberte.
Mas ele quebra na cascata
Antes de o céu abrir
Ele abandona a razão
E afunda a sabedoria como uma pedra

Vamos viajar com ele
Vamos saltar sem ver
Vamos contornar suas curvas
Vamos tocar no seu leito perfeito
Só com a mente…

E agora, pego tua mão
Vou-te levar de volta ao rio
Vestido de trapos e penas
E o sol derramando como mel
Naquele porto de Abrigo
Mostra-me teu o olhar
Por entre os escombros das flores
Há heróis nas algas
Odor e neblina
Toca-me só com a mente… mas toca-me!!

Adérito Barbosa in olhosemlente


sexta-feira, 6 de junho de 2014

Vá Beijem-se

A minha intervenção de ontem

Todos os poetas rabiscam na tela os sentimentos que lhes passeiam pelas veias naquele momento. A isso chamamos nós, estado de Alma. Os poetas respiram e expiram estados de Alma. O bonito da questão é quando os leitores inspiram essa magia se embriagam com ela. Quem dera à humanidade inteira morrer no lume da paixão ao invés das guerras. Eu quero sentir um um beijo nos meus lábios a saber a mel, arder lentamente no lume de papel e convidar o mundo inteiro a arder nas chamas da paixão também. Digam aos vossos maridos, às vossas esposas, aos vossos namorados ou às vossas namoradas e aos amantes - quero que me beijes hoje meu amor!! -  haverá labareda esta noite em todas as casas e bombeiro nenhum está disponível para apagar as chamas porque ele próprio estará a arder na labareda do beijo. Vá beijem-se!!!!

Adérito Barbosa in olhosemlente

Poema aos homens constipados


                     Pachos na testa, terço na mão,
                     Uma botija, chá de limão,
                     Zaragatoas, vinho com mel,
                     Três aspirinas, creme na pele
                     Grito de medo, chamo a mulher.
                     Ai Lurdes que vou morrer.
                     Mede-me a febre, olha-me a goela,
                     Cala os miúdos, fecha a janela,
                     Não quero canja, nem a salada,
                     Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
                     Se tu sonhasses como me sinto,
                     Já vejo a morte nunca te minto,
                     Já vejo o inferno, chamas, diabos,
                     Anjos estranhos, cornos e rabos,
                     Vejo demónios nas suas danças
                     Tigres sem listras, bodes sem tranças

                     Choros de coruja, risos de grilo
                     Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
                     Não é o pingo de uma torneira,
                     Põe-me a Santinha à cabeceira,
                     Compõe-me a colcha,
                     Fala ao prior,
                     Pousa o Jesus no cobertor.

                     Chama o Doutor, passa a chamada,
                     Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
                     Faz-me tisana e pão de ló,
                     Não te levantes que fico só,
                     Aqui sozinho a apodrecer,
                     Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer

António Lobo Antunes
Adérito Barbosa  in olhosemente

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Cuidados de ninguém


Noite tentadora
Sem cuidados de ninguém
Só quero sonhar
Entrei!
Quero voar em ti,
Sou a tua voz
Do lado de fora da janela
Espreito pelo vidro
Lambo a humidade que escorre
quero ir embora e regressar
Mais tarde...
Subir a tua escada devagar
Trepar ao teu céu
Entender a tua vida
O amor espera por nós
Só quero sonhar
Que entrei em ti
Quero ver-te sorrir...
Dizer
Que me ligaste hoje,
Que me encontraste
Nas páginas deste livro
Quando música calou
O teu gemido.
Ainda estou acordado
sofri porque esperei
Eu só quero sonhar
Não tinha que entrar
Porque esse mundo é teu
Nesta noite tentadora


Sem cuidados de ninguém


Entrei!


Adérito Barbosa in olhosemlente

domingo, 1 de junho de 2014

As minhas contas


O sistema de eleições está montado de tal maneira que se fossem votar apenas 21 eleitores as eleições seriam válidas na mesma e lá iam os 21 deputados gozar a vidinha da boa lá para Bruxelas 

Pus-me a fazer as contas e cheguei à seguinte conclusão: 

Somos 10,6 milhões de cidadãos em Portugal. Se retirarmos  os menores de 18 anos e os dois terços dos estrangeiros que não têm direito de voto que se estima 290 mil, chega-se a um total de 8,37 milhões de eleitores. 
A listagem das freguesias aponta para 9,62 milhões. A diferença mostra que há 1,25 milhões de eleitores fantasma no país.
Então somos 8,54 milhões com idade superior a 18 anos. Descontando emigrantes registados, há ainda cerca de 879 mil eleitores, dos 9,6 milhões que estavam inscritos na base de dados do recenseamento eleitoral, não se conhece o paradeiro dos 1,25 milhões de fantasmas

Vamos às contas:

- Votaram então cerca 30% dos 8,54 o que totaliza  2,53 milhões. Entre nulos e em branco contamos 1,59 milhão. 
A verdade é que só 0,94 milhões votos foi indicativo.

Isto dá que pensar!



Adérito Barbosa in olhosemlente




Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...