Escrita colectiva, promovida pela Fátima Veríssimo - mote
fotografia em baixo
A minha corda ficou na vertical.
Agarrei-me à corda grossa pendurada à árvore. Extensa corda,
esta cheia de nós, que parece ligar o mundo ao céu.
Fora colocada de maneira que ficou à vertical da represa, a
meia altura da água, permitindo a manobra de um baloiço. Não tem cadeirinha
não, apenas nós pelo seu corpo acima. Muitos nós, talvez de trinta em trinta
centímetros. Nos nós de baixo, mais próximo da água, fixo os meus pés. Nos nós
mais a cima, seguro com as mãos. Aos nós me agarro e lhes confio a vida numa
espiral de inocência. São nós que estrangulam a própria corda como uma cobra
aperta a presa., como um nó de marinheiro, aperta aperta...
Confio nestes nós. Eles suportam o meu peso,. São neles que
me penduro. São nesses nós que entrego a vida sem medo, tentando descobrir a
razão das coisas que não entendo e, ali teimo em ficar, pendurado, indo e vindo
ao sabor do vento, baloiçando naquele prumo, de nós sobre a suave toalha de
água, e ler no espelho de água antes de o rio se precipitar nas pedras com o
teu sorriso, a palavra quero-te.
Extensa corda de nós com muitos nós, nós de trinta em trinta
centímetros. Nós que estrangulam sem piedade a minha garganta ressequida quando
te escutei dizer sem piedade: - não, não te amo Aderito, eu amo outro e tu
sabes disso!!!
Quero desatar esse nó que me aperta a garganta, não mais
beber da minha lágrima.
Quero agarrar aos nós da vida e gritar bem alto e, dizer ao
mundo que já tenho a parcela que me pertence. Por isso, agarrado a estes nós,
vou e venho de uma margem a outra ao sabor do vento e, sobre este espelho de
água, respiro os ruídos do tempo sem nó na garganta, enquanto sonho com o teu
beijo.
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