"O MEU RIO" por: Joaquim Moreira
Não lhe conheci esteiros nem
marés.
Os seus afluentes descem das
montanhas, trazendo águas cristalinas, gélidas e revoltas. No desejo de chegar
ao grande rio, modificam a paisagem, desgastando e arrastando rochas, criando
profundos desfiladeiros.
Não vi sapais, salgueiros ou
caniços. Por isso não ouvi o trinar melódico dos rouxinóis da caneira. Em suas
águas ao entardecer, não vislumbrei vacadas, eguadas ou toiros bravos de lide
matando a sede. Não descobri a figura imponente de um campino na sua montada,
nem ouvi os acordes de um fandango.
Não achei bateiras de avieiros,
nem catraios, faluas ou fragatas de velas desfraldadas ao vento, navegando à
bolina, transportando nos seus ventres, cascos de vinho, trigo, arroz ou sal a
granel.
Não vi valados com palafitas.
Encontrei nas suas margens recantos idílicos, onde jaziam os destroços de
pretéritos lares de sonho. Incendiados ou destruídos à bomba pelos seus donos,
para que mais ninguém deles pudesse usufruir, ou, por outros homens, movidos
por fobias, alimentadas por credos religiosos ou ideais políticos e
independentistas…
Quando tinha que sair para
verificar antenas ou testar frequências, procurava-o. A contempla-lo
revigorava-me. Cheguei a invejar e a querer roubar a pureza e cores das águas
do rio Drina. O meu TEJO na ex. Jugoslávia.”
Joaquim Moreira
Esteiro - Braço de mar ou de rio que se estende pela terra dentro.
Vacadas - Conjunto/manadas de vacas.
Eguadas - Conjunto/manadas de éguas.
Avieiros - Pescadores do Tejo, que migraram para o Ribatejo nos anos quarenta, vindos da
praia Vieira de Leiria. Ficaram imortalizados na obra de Alves Redol “Os Avieiros”.
Bateira - Barco em madeira de fundo chato, usado pelos pescadores. Muitas vezes eram o
seu único lar.
Palafitas - Construção assente em estacas, elevada, para se proteger da subida das águas.
Valado - Muros em terra que definiam a margem e evitavam o alagamento dos campos.
Catraio - Barco do Tejo da família das fragatas, mas de menor porte.
Joaquim Moreira
Esteiro - Braço de mar ou de rio que se estende pela terra dentro.
Vacadas - Conjunto/manadas de vacas.
Eguadas - Conjunto/manadas de éguas.
Avieiros - Pescadores do Tejo, que migraram para o Ribatejo nos anos quarenta, vindos da
praia Vieira de Leiria. Ficaram imortalizados na obra de Alves Redol “Os Avieiros”.
Bateira - Barco em madeira de fundo chato, usado pelos pescadores. Muitas vezes eram o
seu único lar.
Palafitas - Construção assente em estacas, elevada, para se proteger da subida das águas.
Valado - Muros em terra que definiam a margem e evitavam o alagamento dos campos.
Catraio - Barco do Tejo da família das fragatas, mas de menor porte.
Olá companheiro, o que eu sei é que aqueles que te denegriram e te fizeram a vida negra ficaram por saber escrever só o nome deles e mesmo assim mal. Tu sabes que eu sei quem são!
Li o teu texto, fiquei fascinado por ele. Dancei com as tuas palavras e deixo-te aqui na terceira pessoa o que eu senti que sentiste e viveste. Joaquim, continua a escrever que eu leio-te como sempre fiz! Espero que gostes.
Escrita sobre escrita do "O meu Rio" de Joaquim Moreira
O Rio do Joaquim Moreira.
Desce das montanhas, com as suas águas revoltas e geladas, num frémito desejo de ir fecundar um outro grande rio qualquer. Com esse desejo, não olhou a quem: - modificou paisagens, desgastou e arrastou pedregulhos e consolidou desfiladeiros. Joaquim não lhe conhece esteiros nem marés, nem mesmo nenhum dos seus afluentes.
Nunca viu nas suas margens sapais, salgueiros ou caniços.
Nos seus lameiros também nunca viu vacadas, éguadas ou toiros bravos de lides matando a sede, nem valados viu sequer. Joaquim procurou, procurou mas não se surpreendeu com nenhuma figura imponente de um campino na sua montada, mas também não ouviu acordes de fandango à porfia com o trinar do rouxinól da caneira.
Nunca viu, mas não esperou ver baterias de agueiros nem catraios à falua, nem fragatas de velas ao vento grávidas de trigo, arroz, vinho e sal a granel, nem valados com palafitas viu...
Nos seus recantos, Joaquim encontrou destroços de casas de sonho incendiadas ou destruídas à bomba pelos próprios donos, para que mais ninguém delas pudesse usufruir.
Joaquim tinha um fascínio pelo rio e pelo seu ruído, que indiferente, na sua ância de ir fecundar um outro rio, corria ansiosmente pelo seu leito de águas agitadas, não fazendo caso dos horrores da guerra que testemunhava, mantendo-se calado no seu curso, sem nunca falar.
Do alto da colina, Joaquim reconfortava-se quando o procurava para entender a razão da indiferença. Houve um dia em que ele pensou roubar as cores das águas do rio Drina. Afinal era o seu Tejo na ex Joguslávia, longe do seu Ribatejo.
Adérito Barbosa in olhosemente
Sem comentários:
Enviar um comentário