Carta aberta ao Zé Neves
Quando hoje acedi aos meios de
comunicação social, dei de caras com várias notícias desastrosas, reveladoras
do clima de insegurança que se vive no arquipélago de Cabo Verde. Uma jovem foi
assassinada com dois tiros e os criminosos levaram o telemóvel e o dinheiro;
outra jovem, indignada, numa reportagem de vídeo, reclamava justiça pela morte
dum irmão, que ocorrera há cinco anos; uma senhora, já anciã, que parece ser
mãe de um reputado político da praça, foi também vítima de assassinato e para
culminar, o país utilizou todos os recursos policiais na caça ao homem, o que
normalmente não acontece em idênticas situações. Vi ainda uma reportagem
publicada pelo jornal Online Oceanpress,
sobre a insegurança neste nosso arquipélago.
Fico triste uma vez mais, e
interrogo-me sobre a razão pela qual ainda me preocupo com as questões de
segurança em Cabo Verde. Afinal, a TV France Ô tinha razão e eu até já me pronunciei
a esse respeito, escrevendo um artigo intitulado "As Mentiras da France Ô". Bem sei que não escrevo com palavras
pomposas, que V. Exª usa nos seus discursos, mas acho que dá para entender. Viu
também a indignação do povo? O povo tem razão, quando reclama justiça. E olhe
que quem o avisa, seu amigo é!... Repare
que o povo já perdeu o medo e já fala às claras; além disso, já apelida os
governantes e os seus apaniguados de corruptos, porque sabe que já nada tem a
perder e olhe que são muitos, os que dizem que perderam tudo!
Na minha opinião, é evidente que
o seu governo é composto por pessoal de vistas curtas.
O Sr. José Neves e as restantes
criaturas que compõem o indigente desgoverno, em cada dia que passa, mais não
fazem que falar de banalidades que nada significam para as reais necessidades
do país, nem tão pouco geram qualquer dinâmica, optimismo, ou expectativas
positivas, importantes para a consecução de qualquer projecto de liderança que não
existe de todo.
É da mais elementar
razoabilidade, justiça e bom senso que o povo vos tire do poder e o mais
depressa possível! O País não é vosso, não é seu, vocês não são o Estado e o
Estado não é vosso! Vocês são tudo, menos servidores daqueles que vos elegeram.
Não fustiguem mais os Cabo-Verdianos,
não abandonem mais os cidadãos, não empobreçam mais as pessoas que confiaram em
vós e vos entregaram o seu voto, não desgracem mais as famílias, não chateiem
mais os cidadãos com tanta incompetência e, acima de tudo, não continuem a
desprezar a educação, a formação, a disciplina e a justiça.
Sr. Ministro, irei chateá-lo
sempre, até que um dia perca a mania de se julgar importante e volte a pôr os
pés na terra e a lembrar-se daqueles locais que fez o favor de descaracterizar,
transformando-os numa selva de blocos, sem pés nem cabeça, sem lei nem roque,
circundados de lixo, clamando por saúde pública.
O Sr. Procurador-Geral da
República, como solução para a criminalidade, propõe o aumento da pena máxima de
prisão. Transmita-lhe lá, por favor, e aos seus correligionários, que não é
dessa maneira que tal problema se combate, mas sim com medidas de fundo, de
carácter social e económico. A seguirmos a sua sugestão, qualquer dia as
prisões ficam cheias e nem sequer há dinheiro para alimentar os presos.
Aumentar a pena máxima de prisão
é, claramente, um sintoma de estupidez aguda. Deve ser este o vírus que vos
infestou os neurónios, se ainda os tiverem!
Tudo começa na educação. E para
haver educação tem que se ter a barriga cheia. Para se ter a barriga cheia, é
preciso trabalho. Para se se ter trabalho, é preciso gente com cabeça para
governar.
Viu que não foi preciso utilizar
palavras caras?
Adérito Barbosa in olhosemente
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