No dia 15 de Agosto de 1959 nascia eu em Cabo Verde, na ilha de Santiago, concretamente na Vila de Santa Catarina, outrora bonita vila de Assomada. Dizia a minha mãe que eu era tão gordo que, ao passar pelo canal e respirar, a deixei muito maltratada; por isso, só pôde levantar-se e levar o bebé um mês depois de ter nascido à presença do Escrivão da conservatória Sr. Garcia , para este confirmar o rebento e o registar.
Garcia, escrivão atento, sabia melhor que a mãe quem era o pai da criança e o dia do nascimento.
A minha mãe, para se safar da multa e quem sabe do raspanete daquela corja toda, acabou por mentir, dizendo que nasci no dia 1 de Setembro com o título pomposo de filho de pai incógnito - foi assim mesmo que me registaram.
Pasme-se que o Secretário da Câmara, equivalente a Vice -presidente de Câmara actual, era nem mais nem menos primo do pai “incógnito”, ou seja, primo do bebé.
Assim se percebe a razão por que o progenitor não se deu ao trabalho de ir registar o gorducho, talvez atarefado em engravidar outras moçoilas da vila.
Medonha competição aquela entre os demais nobres da vila!
Com dez anos expulsaram-me da Assomada, num processo sumário por mau comportamento e deportaram-me para Lisboa. Alegação “Cabeça Rija” era o que constava da acusação, sem referir as muitas agressões à mistura.
Tudo porque o pequenino Adérito questionara a miséria da ilha, a condição de filho incógnito, a educação de merda, as agressões gratuitas da besta de quem sinto alguma repulsa, sabendo que era minha avó.
Levei tanta porrada que jurei que jamais admitiria que verme algum me levantaria a mão no futuro.
Para minha glória, hoje posso dizer que, desde a deportação, ninguém mais me levantou a mão.
Passados 50 anos, atrevi-me a discordar de um dos meus irmãos. Ele achava e acha que o nosso pai era um santo, fora “homem grande” expressão dele. Discordei e pus a nu os podres da coroa do Rei.
Ensaiaram partir-me os dentes e num concílio via redes sociais, formado por quórum meio infantilizado e um tanto ou quanto primitivo, retiraram-me o brasonado nome de Barbosa.
Houve um que até disse que eu não era irmão dele.
Com a independência, apercebi-me que ano pós ano brotava da terra, como cogumelos, gente muito esperta.
Não regressei à Illha, mas fiquei atento e de olho no lote das sumidades que cursavam por correspondência. Isto vem a propósito de o governo do arquipélago ter aberto a fronteira, apesar do país estar à frente do campeonato mundial de Covid19.
Por sua vez, o Sr. Erlendur Svavarsson, Presidente da TACV disse que a decisão do governo apanhou a companhia aérea de surpresa.
De acordo com o CEO da fantasmagórica CV Airlines, o facto de as fronteiras de outros países permanecerem em grande parte fechadas aos passageiros provenientes de Cabo Verde, independentemente da nacionalidade desses passageiros, inviabiliza as operações aéreas.
Não duvido: - Quem se mete com os tipos da Ilha, ou apanha como eu, ou fica como eles!
O CEO podia e devia dizer simplesmente isto:
- Não há voos, porque os nossos aviões estão confiscados em MIAMI; nós não temos aviões e portanto a companhia não existe e eu não sou CEO de coisa alguma!
Coisas de gente com cabeça mole.
Adérito Barbosa
In olhosemlente.blogspot.com
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