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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Os Ratos de Calhoun



Quem não conhece a célebre experiência de John B. Calhoun, baptizada de Universo 25? 

O cientista fechou ratos num condomínio de luxo: comida à descrição, água corrente, abrigo seguro, sem predadores nem lutas pela sobrevivência. Criou-lhes um paraíso perfeito.

O paraíso, porém, durou pouco. Rapidamente os ratos descobriram que, sem esforço, a vida perde sentido.

No início, tudo corria bem: ratos bem nutridos, a multiplicarem-se a ritmo acelerado. A população cresceu em flecha e parecia que a experiência iria triunfar. Mas não. Em poucos meses, o condomínio entrou em decadência: menos reprodução, mais agressividade, hierarquias rígidas — uns tornaram-se reis, outros foram relegados à miséria. As mães começaram a abandonar as crias, os machos afundaram-se em apatia, e a comunidade resvalou para canibalismo, violência e comportamentos estranhos. Depois deixou de nascer qualquer cria e a mortalidade chegou a 100%. Restou apenas um silêncio de cemitério.

Calhoun chamou-lhe Universo 25. Eu chamar-lhe-ia a grande experiência da esquerda radical em laboratório.

Um Estado que oferece tudo de mão beijada, elimina a competição natural, proclama que ninguém deve enfrentar dificuldades e que a luta pela sobrevivência é fascismo. O resultado? Gerações inteiras que confundem direitos com esmolas, mérito com privilégio, trabalho com exploração.

Os ratos de Calhoun não tinham culpa: reagiram como ratos, perderam o rumo e devoraram-se. Os políticos da esquerda radical fazem o mesmo — mas conscientemente. Montam um sistema de abundância artificial, pago com o dinheiro dos contribuintes, e vendem a ilusão de que a teta do Estado é inesgotável.

Só que seca. E quando seca, seca de vez.

Tal como no laboratório, os ratos alfa são os barões do partido, prontos a morder os fracos enquanto discursam sobre igualdade.

As fêmeas que abandonam as crias são as ministras e secretárias de Estado que falam em políticas familiares enquanto empurram os filhos dos outros para a creche subsidiada.

Os miseráveis são a massa de dependentes, eternos eleitores fiéis, convencidos de que são protegidos quando, na realidade, apenas prolongam a experiência como cobaias.

No fim, como no Universo 25, não faltará comida. Faltará sentido. O colapso não vem da escassez, mas da saturação: o apodrecimento lento de uma sociedade que já não encontra propósito porque tudo lhe foi dado sem esforço.

E, inevitavelmente, a elite de ratos culpará o neoliberalismo enquanto a colónia se dissolve em silêncio.

A moral da história é simples: as minorias sem luta, sem mérito e sem esforço são um paraíso, são uma ratoeira. E os políticos da esquerda, são os zeladores desse laboratório gigante a que chamamos de subsídio garantido.

O que me assusta é repetir a experiência quando se sabe de antemão qual será o resultado. Mais subsidiados.

E, se dúvidas restassem, basta olhar para o nosso palco político nacional: o Bloco desapareceu no nevoeiro a caminho de Gaza e espero que não volte nunca mais.  O PCP esse definha à espera que um proletariado angustiado ressuscite e o PS arrasta-se como um rato obeso que comeu demasiado queijo. Todos vítimas do seu próprio Universo 25, todos a apodrecer no mesmo condomínio ideológico onde prometeram dar o que não é deles. No fim, sobrou-lhes apenas o silêncio — o silêncio de cemitério que sempre acompanha os ratos quando a teta seca.

Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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