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domingo, 7 de setembro de 2025

Rockin’ 1000 Leiria 2025

À hora marcada o cronómetro regressivo foi descontando segundos em direcção ao zero. Quando finalmente estalou o zero, rebentou o Rockin’1000 no estádio. Fui, com a ajuda da minha filha, ver a malta dos mil roqueiros. E olhem que foi coisa bonita de se ver.

O concerto teve o selo do Turismo Centro de Portugal e, ao que parece, também da edilidade de Leiria. Vieram músicos de todo o mundo, cerca de trinta países representados. Europa, América do Sul, África do Sul, Indonésia. O mais velho tinha setenta e quatro anos, português, baixista. Os dois mais novos também portugueses. Curiosamente, os três de Leiria.

Antes da primeira nota, houve o ritual: juramento solene de que ninguém se atreveria a dedilhar cordas ou a martelar teclas nos intervalos. Disciplina, dizia-se. Mas disciplina rockeira, com mais de mil almas prontas a rebentar colunas de som… é obra.

No ano passado, o alinhamento do relvado foi de duzentos e vinte vocalistas, trezentos e cinquenta guitarristas, cento e oitenta baixistas, duzentos bateristas e cinquenta teclistas. Este ano o equilíbrio foi semelhante, só mudou a energia. Do Brasil chegou o maestro Daniel Plantes, e da casa tivemos Daniel José Neto. Ambos meteram ordem na anarquia, chicote em riste mas com um sorriso de quem manda.

O público vibrava ao fim de cada música, e logo de seguida as trezentas e cinquenta guitarras, carregadas de drives, rasgavam o ar sob o olhar do castelo. Bateria a rebentar pratos, baixo a cavar o chão, teclas a costurar atmosferas, vozes a gritar ao céu. E que vozes. A maioria raparigas, a saltar e a cantar como se a vida lhes dependesse desse momento, numa espiral sonora, sempre a subir, até ao infinito, a cortar-nos o fôlego.

Nas bancadas ninguém ficou quieto. Eu próprio, pregado na cadeira, batia o pé e abanava o capacete, contagiado pelas músicas. Todo o estádio cantava, e tudo tremia de tal forma que por momentos temi pelas juntas do meu esqueleto.

E houve convidados. A Marisa Liz apareceu no palanque central, com a canção “Guerra Nuclear”, acompanhada pelos mil. Foi um momento fora da escala. Depois, surpresa maior: o Tim dos Xutos disparou a canção À minha maneira.

Nem tudo foi música. O organizador, armado em profeta de causas, resolveu puxar a ladainha do costume, o discurso mole dos coitadinhos palestinianos, parlapier escrita pelos de sempre. Gaza e Sudão no cartaz da converseta, silêncio absoluto sobre Israel, que há setenta anos engole foguetes, raptos e insultos de ódios da vizinhança. Foi um momento de incoerência vestido de moralismo barato.

No próximo ano lá estarei, quem sabe como músico participante.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blospot.com

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