Eu não preciso de ver debates presidenciais para saber quem ganhou. Basta olhar para as notas dos painéis de cada canal e eu digo quem venceu. Não há debate de ideias, não há confronto sério, não há substância. Para mim, desde que nenhum futuro presidente desempenhe o cargo como Marcelo o fez, já fico satisfeito.
Os debates são feiras montadas à pressa e os jornaleiros fazem-se de agentes da ASAE do teatro, enfiam-nos interpretações pelos olhos dentro sem que ninguém dê por isso, corrigem-nos a vista como se fôssemos cegos do que vimos em directo. Eles tratam-nos como se fôssemos burrinhos.
A televisão portuguesa há muito que deixou de informar. De manhã à noite despejam vídeos requentados, material de YouTube mascarado de notícia, embrulhado na opinião rançosa de comentadores que debitam sempre o mesmo vómito. Não esclarecem, não investigam, não acrescentam. São influencers políticos a repetir narrativas alheias. O debate é ruído, é farsa, é palhaçada total servida como análise para quem já desistiu de esperar rigor. A informação virou repetição. A análise virou vaidade.
Falta aparecer um painel de comentadores para comentar comentários de outros comentadeiros. A esfera pública encolheu para isto: jornalistas a entreter pategos com tiques de vedeta, a criar memes, a fabricar polémicas, a transformar política em circo. A CMTV e a sua sucursal CNN Portugal reciclam fórmulas estrangeiras, mas o conteúdo é sempre o mesmo caldo sensacionalista, curto, vazio, feito para caçar audiência. A informação virou palco e o palco virou feira. O debate político tornou-se desfile de egos.
O público assiste, cansado e hipnotizado, ao mesmo espectáculo repetido até à náusea. Há cada vez mais jornalistas deslumbrados com o próprio reflexo, embriagados pelo drama fácil, pelo conflito, pelo barulho. As presidenciais servem apenas para meia dúzia exibirem vaidades mediáticas. Debates que não debatem, jornalistas que se pavoneiam, espectadores que consomem política como novela de fim de tarde.
No fim sobra só ruído. As presidenciais reduzem-se a um carnaval de egos onde jornalistas celebram a própria importância e candidatos disputam quem faz mais espuma no ecrã. Notícias requentadas, ataques coreografados, opiniões em loop, tudo a esmagar a informação que deveria existir. O povo vê, entre fascínio e tédio, esta encenação meticulosa que nada serve e nada resolve. Palhaçada apenas.
Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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