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sábado, 24 de maio de 2014

23 de Maio

Um amigo meu pediu que republicasse esta crónica que escrevi no dia 24 de Março de 2014 que havia retirado da circulação.

Aqui vai outra vez

"Há pouco perguntaram-me pelo telefone, qual a razão de ter deixado de aparecer no dia da Unidade em Tancos.

Respondi:
Não vou ao dia da Unidade da ex BETP, porque aquilo é exército e não FAP.
Não é BETP mas sim outro nome que nem sei qual é. Ora quando entrei para os para-quedistas em 1979, fi-lo primeiro porque eu queria alistar-me nos "páras", depois também porque queria pertencer à Força Aérea Portuguesa, caso contrário alistar-me-ia nos Comandos.
Foi ali que passei os meus melhores dias, dei corpo ao manifesto enquanto Instruendo. Como graduado passei pelo Batalhão de Instrução -1ª companhia de alunos, depois pela 311, depois pela CC e aí empurrado à força para a secção de justiça onde ia morrendo no meio de tantos processos, e, eu que só sabia de transístores.
Frequentei quase todos os cursos, uns como voluntário, outros, voluntário à força. Mais tarde passei pela BOTP1. Quer em Tancos quer em Monsanto, na CCOM , quer na escola Militar, sempre tive como chefe, oficiais para-quedistas de grande gabarito e ainda hoje nutro por eles bastante admiração. Com alguns deles ainda mantenho relação de amizade.
Todavia, no dia 18 de Fevereiro de 1991, sofri um acidente num salto e em consequência disso, passei 4 anos e meio no HFA internado, e conto pelos dedos de uma mão visitas hospitalares que tive dos para-quedistas que entretanto estavam a caminho do exército, e já pensavam à exército. Repararam bem, à exército!...
Fui submetido a três operações à coluna, uma aos testículos, e uma ao maxilar. Felizmente fiquei bem, recuperei mobilidade, fiquei nos quadros da Força Aérea esquecido pelos para-quedistas do exército, acabei colocado virtualmente na Direcção de Pessoal em Alfragide sem nunca ter lá posto os pés. Mais tarde fui considerado DFA e passei à reforma extraordinária pela FAP sem perder o direito ao uso da boina, o que muito me orgulha.
Hoje no meu BI militar da FAP vitalício, lá está "pára-quedista". E eu com a minha querida boina verde com águia, todo inflamado, fardado com a farda de cerimónia Azul emprestada. Eu só entro com o meu brevet, e a boina para a sessão fotográfica.
Como eu nunca quis nada com o exército, nunca me alistei nele, nunca convivi com o pessoal do exército, nem conheço os costumes deles, entendo não alimentar o ego dos Coronéis e dos Brigadeiros Para-quedistas que venderam os páras ao exército a troco de estrelas ou por um copo de vinho.
Por isso, entendo não fazer monte em Tancos para abrilhantar a festa do exército.
Hoje, os vendilhões, são todos Generais felizes na reforma com as estrelas na vitrine da sala e eu Eng. Electrotécnico feliz na reforma extraordinária com as medalhas na gaveta do escritório. Todos nós numa boa e amigos como dantes.
Eles reformados do exército e eu reformado da Força Aérea. Todos nós uma coisa temos em comum. - O Estado não que saber da gente para nada!!!
Camarada, julgo que agora entendes as minhas razões. Respeito e admiro a família pára-quedista que tudo fazem para irem a Tancos no dia 23 de maio.
Há um livro escrito por um tenente espanhol, onde ele trata a questão de como os Generais se servem dos soldados para subirem na vida.
Abraço"

24 de Maio de 2014
Aderito Barbosa "in olho sem lente"

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