Um amigo meu pediu que republicasse esta crónica que escrevi no dia 24 de Março de 2014 que havia retirado da circulação.
Aqui vai outra vez
"Há pouco perguntaram-me pelo telefone, qual a razão de ter deixado de aparecer no dia da Unidade em Tancos.
Aqui vai outra vez
"Há pouco perguntaram-me pelo telefone, qual a razão de ter deixado de aparecer no dia da Unidade em Tancos.
Respondi:
Não vou ao dia da Unidade da ex BETP, porque aquilo é
exército e não FAP.
Não é BETP mas sim outro nome que nem sei qual é. Ora quando
entrei para os para-quedistas em 1979, fi-lo primeiro porque eu queria
alistar-me nos "páras", depois também porque queria pertencer à Força
Aérea Portuguesa, caso contrário alistar-me-ia
nos Comandos.
Foi ali que passei os meus melhores dias, dei corpo ao
manifesto enquanto Instruendo. Como graduado passei pelo Batalhão de Instrução
-1ª companhia de alunos, depois pela 311, depois pela CC e aí empurrado à força
para a secção de justiça onde ia morrendo no meio de tantos processos, e, eu
que só sabia de transístores.
Frequentei quase todos os cursos, uns como voluntário,
outros, voluntário à força. Mais tarde passei pela BOTP1. Quer em Tancos quer
em Monsanto, na CCOM , quer na escola Militar, sempre tive como chefe, oficiais
para-quedistas de grande gabarito e ainda hoje nutro por eles bastante admiração. Com alguns deles ainda mantenho relação de amizade.
Todavia, no dia 18 de Fevereiro de 1991, sofri um
acidente num salto e em consequência disso, passei 4 anos e meio no HFA
internado, e conto pelos dedos de uma mão visitas hospitalares que tive dos
para-quedistas que entretanto estavam a caminho do exército, e já pensavam à
exército. Repararam bem, à exército!...
Fui submetido a três operações à coluna, uma aos testículos,
e uma ao maxilar. Felizmente fiquei bem, recuperei mobilidade, fiquei nos
quadros da Força Aérea esquecido pelos para-quedistas do exército, acabei
colocado virtualmente na Direcção de Pessoal em Alfragide sem nunca ter lá
posto os pés. Mais tarde fui considerado DFA e passei à reforma extraordinária
pela FAP sem perder o direito ao uso da boina, o que muito me orgulha.
Hoje no meu BI militar da FAP vitalício, lá está
"pára-quedista". E eu com a minha querida boina verde com águia, todo
inflamado, fardado com a farda de cerimónia Azul emprestada. Eu só entro com o meu brevet, e a boina para a sessão fotográfica.
Como eu nunca quis nada com o exército, nunca me alistei
nele, nunca convivi com o pessoal do exército, nem conheço os costumes deles, entendo não alimentar o ego dos Coronéis e dos
Brigadeiros Para-quedistas que venderam os páras ao exército a troco de estrelas ou por um copo de vinho.
Por isso, entendo não fazer monte em Tancos para abrilhantar a
festa do exército.
Hoje, os vendilhões, são todos Generais felizes na reforma
com as estrelas na vitrine da sala e eu Eng. Electrotécnico feliz na reforma
extraordinária com as medalhas na gaveta do escritório. Todos nós numa boa e amigos como dantes.
Eles reformados do exército e eu reformado da Força Aérea. Todos nós uma coisa temos em comum. - O Estado não que saber da gente para nada!!!
Camarada, julgo que agora entendes as minhas razões.
Respeito e admiro a família pára-quedista que tudo fazem para irem a Tancos no
dia 23 de maio.
Há um livro escrito por um tenente espanhol, onde ele trata a questão de como
os Generais se servem dos soldados para subirem na vida.
Abraço"
24 de Maio de 2014
Aderito Barbosa "in olho sem lente"
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