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quarta-feira, 27 de maio de 2015

Amor no meu tempo

Amor no meu tempo

Ouvi dizer que ela está à procura do céu numa bola de sabão, sentada no cimo da vaga do tempo, que traz uma bandolete no cabelo, a tal que a minha irmã lhe ofereceu a meu pedido, que veste um vestido de chita aos folhos e nas costas um laço grande feito pela avó. No pescoço, um fio de ouro com dois corações sem nome. Sei que o brilho dos olhos dela faz perder a cabeça aos rapazes aqui no bairro. Eu quero ser o primeiro e o único amor... Eu sei que, mesmo que o mundo inteiro se ilumine, não chegará para brilhar como a candura do rosto dela! Mas sei que, mesmo que chova e o céu caia, a sua voz continuará doce e a esperar por mim. Ouvi-a dizer em sussurro que não quer namorado, mas quer descobrir o amor na fria lógica dos argumentos da inocência. Ouvi-a dizer que quer ver a vida com outros olhos e não mais com os que me viu até hoje. Ouvi-a dizer que vai escrever  um bilhete para mim, mas juro que não sei de       nada!
 E a minha mãe sorriu, malandreca, quando lhe contei o segredo de quem gosto.
- Acho que todos já sabem, meu filho! Ouvi dizer que, nos jogos do ringue, nunca a mataste só para a veres ganhar e sorrir, meu filho!...
- Um dia sonhei pedir-lhe um beijo, mãe! O que achas?
- Não és capaz!!!
- Olha que sou!!!


Adérito Barbosa in olhosemlente

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