Quarenta e nove, quatro e nove -
dois algarismos. Pode ser treze, com sorriso de menina, mas prefiro que sejam
“quarenta e nove” e o sorriso de uma mulher madura.
Feliz, perfume no ar, alegria nas
contagens dos parabéns postados no facebook que, por acaso, já somavam mais ou
menos a tua idade, quando os contei! O almoço arrefecera, à espera que
atendesses os inúmeros telefonemas, mas nem deste conta. Estavas feliz!... O
telefone não parava de tocar; e a resposta que deste a um gabiru?
- Obrigada, sim...claro, claro,
claro... estou sim... Estou a almoçar em Sesimbra com o meu namorado.
O caçador foi espantado e mesmo assim
endereçara-me cumprimentos, aceites prontamente - amigo da onça me saiu esse
invejoso. Silenciado o telefone, ali continuámos cúmplices os dois.
Ao lado, o imponente “Forte”
sabedor de muitos segredos, outrora colónia balnear e de férias para os filhos
dos militares da Guarda Fiscal, hoje transformado na Secretaria do Turismo e da
Juventude local e o malvado arquitecto que, certamente, mandou arrancar durante
as obras de restauro e requalificação a tua marca dos tempos de menina, aquela
figueira que tanto querias trepar e recordar.
E eu, encostado ao pilar que
sustenta o amor que te tenho, apreciava a tua alegria. Falaste do teu mundo
desse tempo e eu quis entrar nele. Bem queria continuar ali, só para te ver
feliz, de olhar nostálgico; o vidrado dos teus olhos deixava antever que ias
chorar, mas não, não choraste. Achei graça quando me falaste do teu apaixonado
que passava horas a olhar para cima, só para te ver um minuto e perguntei-te se
te assomavas ao parapeito do terraço.
- E eu sei lá! Talvez sim...
Talvez não… eu tinha 12 anos! Disseste sem certezas.
Coitado do moço! Deve ter ficado
com montes de dores no pescoço, pensei eu.
Um pedacinho teu ficou aqui, nos
quartos que agora não existem mais e que foram cenário de grandes sonhos de
amor de verão. É como se tivessem sido enterrados na areia; amor de verão é
assim mesmo, enterra-se na areia, no fim do verão.
Imaginei recordar-me de tudo
entre nós e do amor vivido nos quartos que não existem mais e daquele fio de
cabelo comprido teu, agarrado ao suor do meu corpo.
É um bom motivo para sorrir...
À hora de dormir, apagadas as
luzes - Silêncio! – Grito que ecoava pelos corredores das camaratas dava eu
início à longa espera que durava até de manhã, sempre na esperança de que ias
deitar-te ao meu lado, a contar as estrelas.
Sabes uma coisa? Hoje encontrei
um pedacinho de ti, um fio do teu cabelo e lembrei-me de todo o sonho vivido,
do fio do cabelo comprido que já esteve colado ao suor dos nossos corpos, da
fogueira que nos fazia companhia nas noites do cacimbo na praia. Naquele tempo
não havia tristezas, só mar e serra e no meio dessa ilusão toda, só se ouvia o
pipilar das gaivotas, o marulhar das ondas e o eco da tua voz. A maresia do
mar, essa cheirava ao perfume do teu corpo.
Este lugar é a tua saudade, a
nossa saudade! Parabéns.
Beijinhos, Ab
Adérito Barbosa in olhosemlente
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