Sonhar acordado não chega
não basta porque nem dá pra acreditar
Essa que não pára de crescer
é uma história que sabia complicada.
E eu não sabia bem porquê
nem mesmo o porquê.
É um fardo da culpa
que eu carrego na alma,
me encolhe
e me verga de cansaço.
É uma dor dos diabos a que sinto...
É a maldade do tempo
a fazer das suas.
Quis que te afastasses de mim
e eu não consigo dormir.
Fantasmas trauteiam um blues
acelerando o compasso
é um tormento...
Sinto-me frio com esta solidão...
Deitado na cama
de olho na quinzena do terço
e de telefone na mão
sei o que te quero pedir.
Não me deixes só!
Bastava-me ouvir-te.
Mas a esta distância não dá!
E era real, tudo é irreal, mas eu fui quem inventou as memórias
do teu cabelo a branquear
esperava saber desenhar um dia
as tua rugas assim que surgissem.
Estudei pintura para pintar os teus cabelos de branco
ainda estou à espera, confesso,
de ver-te subir as escadas da estação outra vez.
Foi o tempo com a sua maldade
quis que fosse assim!
Nublou a forma como subias em mim
revi os segredos que já não
são meus
mas que me pertenceram
e senti saudades...
Tenho palavras não ditas engasgadas ...
esta paixão é antiga e o tempo nunca a apagou.
E quando chegam as noites e eu não consigo dormir - são sempre iguais... não consigo!
Com telefone na mão sei que não ligas mais, mas fico com ele na mão
nesta e noutras noites.
Nem a televisão ligada
faz adormecer a espera.
Olho o tecto com telefone na mão
e tu não chamas.
Apetece ligar, mas não tenho forças
para ouvir “o número para a qual ligou, está desligado, deixe mensagem”
Só queria pedir,
- não deixes que anunciem a minha
morte nas redes, nem nos jornais!
Se não estás,
então quero morrer sozinho
como nasci!
Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com
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