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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Geografia lisboeta




 Num caminho eleitoral tão animado como um circo de pulgas treinadas, onde os políticos fazem promessas mais altas que a Torre de Belém e onde até o vento na Assembleia cheira a perfumaria, dou conta de um lugar misterioso com mais habitantes do que uma colmeia de abelhas embriagadas.


Descendo pela geografia lisboeta, entre o alto do Pina e a serra de Monsanto, encontramos uma taberna com a ousadia de se chamar "Lisboa", gerida pelo destemido taberneiro Marcelo. O espaço, além de servir jantares, explora o ramo de alojamento local, incluindo o pitoresco palácio de São Bento.


Na tasca, as iguarias são o ponto forte do Marcelo, que é famoso por inventar pratos e soltar mais postas de pescada do que um pescador aposentado. Ele até criou a "posta de fígado", um prato tão revolucionário que causou uma revolta intestinal nos taberneiros alojados em São Bento. O mordomo Costa foi o primeiro a saborear essa "delícia", enfrentando as pauladas do grupo "Mais Política", que mais parece ser o Hamas da política nacional.


Cautela é a palavra chave, quando se questiona o "Mais Política", pois a esperança de vida do inquisidor tende a ser mais curta que o discurso do Jerónimo de Sousa. Por precaução, recolhi-me cedo em São Bento, ora vago, servindo-me de um cálice de uma bebida africana vendida no Martins Moniz, por apenas 2,5€, prometendo mais emoção sexual do que um episódio de Game of Thrones.


A noite revelou os polícias a fazerem um improvável velório com cerca de sete caixões ao frio, enquanto os investigadores da PJ estavam entretidos com os mil euros de aumento, cortesia do mordomo Costa. As luzinhas no jardim da residência oficial do ministro, refletiam sombras da Basílica da Estrela e da ladeira que leva ao cemitério dos Prazeres - o roteiro dos caixões dos polícias.


Bebendo champanhe gélido, contemplei o rio, imaginando lisboetas puxando as canoas rio acima como se fossem protagonistas de um episódio de Fort Boyard, só que com mais vinho verde, fecho os olhos, escuto os gritos desesperados do vento e imagino barcos despedaçando-se contra as pedras do Bugio - um espetáculo mais emocionante do que o último episódio de qualquer série da Netflix.


Com o espetáculo da noite, recolhi-me, despedindo-me da internet como quem se despede de uma ex que nunca mais quer ver. Adormeci com a promessa de uma manhã idílica - acordar e correr como um velocista dopado para ouvir Pedro Nuno a prometer uma vida melhor, enquanto eu sonhava com rendilhados de vinhas e obras em Matosinhos.


Na quinta do Monte Negro, descobri que o projeto estava feito, vi o dossier do projecto e custos não vi nada de impostos. Vi também o plano de culinária da Dona Benta.


A caminho da festa do Ventura, ouvi na rádio que as finanças não conseguem cobrar IMI sobre as barragens da EDP, uma notícia tão surreal que até a minha sogra, que não fala comigo por eu ter sido infiel à filha dela, concordou balançando a cabeça que sim.


Na festa do Ventura, tudo estava em alvoroço. Ele prometeu dinheiro aos militares como se fosse o Pai Natal do Quartel General. Quer acabar com fundações e fundilhos dos gays, fazer os preguiçosos trabalharem, e peneirar os imigrantes como se estivesse a preparar uma sopa da pedra do nacionalismo. E o melhor de tudo: os bancos vão pagar as nossas dívidas! Eu já me considero rico, só falta o Ventura chegar lá e declarar-me rei da alheira.


Fui ao bar do Ventura, pedi sopa da pedra, uma iguaria que se revelou mais consoladora do que uma maratona de stand-up do Ricardo Araújo Pereira. Colher numa mão, pão de centeio na outra, enquanto as alheiras suavam nas brasas, criando um espetáculo mais emocionante do que qualquer debate político.


E assim, entre promessas, postas de pescada e sopas da pedra, Portugal segue o seu caminho, onde a política é um espetáculo cómico digno de um circo de pulgas treinadas.


Adérito Barbosa

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