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sexta-feira, 27 de junho de 2025

A FOME DO LUME




Já me tens nas trevas,

a escorrer sangue das veias,

feito lume escondido,

nos olhos do demónio,

a cuspir silêncio.


Sou música das maldições

de Iron Maiden,

Sou o riso dos acrobatas

do inferno,

Sou quem dança enquanto ardo.


No fundo do grito

há uma ausência que canta.

É aí que te encontro,

É aí que me chamas,

sem saberes o meu nome.

Sinto a fome do desejo,

vermelha, crua,

rasgada nas entranhas.


Cor de sangue —

gota que lambe o corpo -‐

gota que não seca.

Lágrimas de orvalho,

lamber chão,

num suspiro

que não se encontra,

que morre antes de nascer.

Ver sem forma,

gritar sem boca

até deixar de caber...

em mim.


Não entendo, mas luto.

Luto de mãos fechadas

contra o vento que me veste.

Na ópera do Drácula em 

"Forgetting Sarah Marshall",

dançando de sentidos partidos,

verdades do "Hallowed be thy name"

que se engasgam na língua.


E então, 

as palavras são só cascas.

Os sons são só ecos.

Tudo ecoa

e eu sou o Drácula. 

E alguém me chama,

e eu não sei.

O mundo afunda-se no ruído

e eu, de pé, ainda ardo.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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