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terça-feira, 24 de junho de 2025

I am a descendant of Mr. Ambrósio Silva






O mais recente desastre aéreo na Índia revelou a alma putrefacta da república portuguesa. Entre os 298 desgraçados que subiram ao céu, estavam sete portugueses que nunca ouviram sequer um fado, e talvez nem sabiam onde ficava  portugal. Obtinham passaportes com uma facilidade tremenda, mais rápido que uma trincadela num pastel de bacalhau. Tudo graças ao labirinto legislativo do Governo da geringonça, que transformou a Constituição num menu de bufê, onde cada um serve-se a gosto e ninguém lava os pratos.

Segundo o jornal O Diabo (que, como todos sabemos, é o único periódico com coragem de chamar nomes às coisas), milhares de indianos — pasme-se, quase cem mil por ano! — usam Portugal como escadote para a Europa. Naturalizam-se mais depressa do que o meu neto de cinco anos muda de clube. Tudo com a ajuda de redes mafiosas que anunciam passaportes portugueses genuínos como se fossem tupperwares em promoção na feira de Nova Deli.

Cheguei mesmo a visitar um desses sites. Entre conselhos sobre como parecer devoto do Mr. Silva (uma divindade civil fictícia que substitui o nosso falecido Estado-nação), ensinavam como inventar aldeias transmontanas onde ninguém fala português, mas toda a gente sabe tirar fotocópias. Por diversão mórbida, fui procurar os nomes indianos mais comuns. Depois juntei “Silva”, claro. O resultado? Uma nova geração de lusos.

Rav Silva – Deus do Sol e da bica tirada curta.

Aditya Silva – Filho de Aditi e sobrinho do António Costa.

Dev Silva – Divino e isento de IRS.

Indra Silva – Deus da chuva, causa directa das infiltrações no IC19.

Hari Silva – Leão com passe da TAP.

Raj Silva – Príncipe do SEF.

Surya Silva – deus dos vistos gold.

Mohan Silva – deus da isenção de prova de residência.

Kabir Silva – Deus das filas do consulado.

Aarav Silva – Deus passaportes português 

Harvinder Silva – Deus do vinho, senhor do tinto do LIDL.

Nota de rodapé: Foi preciso cair um avião para se descobrir a marosca dos passaportes dos Silvas. Não havia necessidade.

Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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