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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Quando a Ideologia fala mais alto que os factos

A recente confirmação da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) de que as centrífugadoras nucleares iranianas localizadas em Karaj e Natanz foram severamente atingidas e ficaram fora de serviço deveria, à luz dos factos, encerrar qualquer debate sobre o alcance e eficácia da operação militar israelita. Contudo, perante este cenário cristalino, o General Agostinho Costa continua, nos estúdios da CNN Portugal, numa campanha obstinada de negação da realidade, defendendo com convicção inabalável que Israel “não atingiu nada”, que “não há domínio aéreo em Teerão” e que as forças armadas iranianas “são as maiores do mundo”. É impossível assistir a este tipo de comentário sem sentir um profundo desconforto — não só pelo conteúdo ideologicamente enviesado, mas pelo estatuto de autoridade militar que o general representa. A sua postura não é apenas desinformada; é perigosamente cúmplice de uma narrativa que visa descredibilizar os interesses estratégicos do Ocidente em benefício de regimes autoritários e teocráticos. A insistência cega de Agostinho Costa em relativizar ou negar factos atestados por fontes independentes e credíveis revela mais do que uma simples cegueira ou erro de análise. Trata-se de uma linha de discurso cuidadosamente alinhada com uma corrente ideológica que há muito se enraizou em certos setores da opinião pública: uma mistura de antiamericanismo primário, romantismo antiocidental e simpatia ativa por regimes autocráticos sob o disfarce de resistência ao “imperialismo”. Neste caso, é o Irão que merece a defesa cega do general — mas podia ser a Rússia ou a Síria, como já o vimos fazer no passado recente. A verdade é que o General Agostinho Costa, general (NATO) com visível costela soviética, parece mais empenhado em manter viva a chama da Guerra Fria do que em contribuir com análises militares honestas e informadas. A sua leitura da atualidade internacional está contaminada por uma nostalgia ideológica, uma espécie de síndrome de Moscovo, que distorce permanentemente o seu julgamento. É curioso como, independentemente do tema, Agostinho Costa parece sempre encontrar uma forma de colocar a Rússia, o Irão ou grupos armados como o Hamas ou Hezbollah na posição de vítimas injustiçadas — enquanto Israel, os Estados Unidos ou a NATO são invariavelmente retratados como agressores imperialistas. Esta parcialidade é ainda mais grave por ser apresentada sob a capa de "análise militar especializada". O público, ao ouvir um general português a comentar assuntos internacionais, espera ponderação, conhecimento técnico e, sobretudo, independência. Mas o que recebe de Agostinho Costa é uma ladainha panfletária, repetida ad nauseam, com os mesmos chavões: “resistência armada”, “ingerência ocidental”, “soberania dos povos” — tudo, evidentemente, desde que esses  “povos” estejam alinhados com Moscovo ou Teerão. A questão ganha contornos ainda mais preocupantes com os relatos crescentes de que existe uma rede bem estruturada de comentadores pro-Rússia e pro-Irão nos media europeus, muitos deles direta ou indiretamente financiados para propalarem uma narrativa de sucesso militar das forças aliadas a Moscovo, Líbano, Gaza ou Teerão. Esta propaganda, disfarçada de análise, tem como objetivo enfraquecer o consenso ocidental, gerar confusão entre a opinião pública e legitimar as ações de regimes que desprezam sistematicamente os direitos humanos e o direito internacional. E, quer se queira admitir ou não, o General Agostinho Costa está a desempenhar um papel ativo — consciente ou inconsciente — nesse esforço de desinformação.

A guerra da informação é hoje tão importante quanto a guerra no terreno. E quando figuras públicas com passado militar e acesso privilegiado aos media se tornam peças dessa máquina de propaganda, estamos perante um problema de segurança e credibilidade nacional. O espaço público democrático deve ser plural e aberto ao debate — mas também deve exigir responsabilidade. A liberdade de expressão não pode ser escudo para quem, sob o pretexto de "opinião", promove sistematicamente interesses antidemocráticos e revisionistas. Os factos são claros: Israel lançou uma operação cirúrgica que conseguiu danificar instalações nucleares iranianas de alta relevância, segundo confirma a própria AIEA. Esta ação demonstra, independentemente da opinião que se possa ter sobre os méritos morais da mesma, uma superioridade tecnológica e estratégica assinalável. Negar isto é negar a realidade. E quando essa negação vem de um oficial-general reformado, que deveria estar ao serviço da verdade e da soberania da informação, isso deixa de ser apenas patético — passa a ser profundamente irresponsável. A televisão não pode continuar a servir de tribuna a este tipo de propaganda encapotada. É preciso fazer perguntas sérias: a quem serve o General Costa? Com quem se alinha ideologicamente? E por que continua a gozar de tanto tempo de antena para espalhar posições que coincidem, de forma quase milimétrica, com a retórica oficial de regimes hostis ao Ocidente? Está na hora de fazer um escrutínio sério sobre a qualidade e independência dos comentadores que povoam os nossos media. Não podemos continuar a aceitar, em nome do pluralismo, que se ofereça palco a quem trocou o rigor pela ideologia e a análise pela propaganda. O caso do General Agostinho Costa é apenas o mais evidente — mas não é único. É urgente defender a informação da intoxicação programada que visa corroer os alicerces do debate democrático.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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