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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Carta de amor



Desafio lançado: “Escreve-me uma carta de amor!...”

A carta de amor
Eternizar momentos e sensações que nos marcaram, por um instante que seja, é loucura?
- Não, não é! - É algo que vai perdurar na nossa memória por toda a vida. A isso, podes chamar amor. É o amor, sim, o tal amor que não cansa, não gasta e não envelhece.
O amor sabe impor-se na ausência e na distância.

Viver a saudade é sentir a nostalgia, é amar, é amar sempre da mesma forma, sempre com aquele desejo, imensurável. Quando se regressa a esses momentos e a esses instantes, voltamos sempre ao mesmo ponto de onde partimos, com um único objetivo - voltar a amar!...
Volta-se para reviver novamente o que nos fez e nos faz felizes. Voltamos inconscientemente e damos por nós a regressar no tempo ao mesmo lugar onde ficámos à porta e lembrar de olhos fechados como eram os contornos do teu rosto, o brilho dos teus olhos, o cheiro da tua pele, o calor dos teus braços, o deslizar das tuas mãos, o relevo dos teus seios. Só o ouvir a tua voz doce me fazia levitar enquanto sentia o coração, que teimava em transbordar e bater fora do meu peito.
Disso. Agora não quero falar!
E a alegria que eu sentia quando tu me sorrias?
Isso, era tudo para mim, sabias?  Bastava-me ver aquele sorriso, que só tu tinhas, para que fosse verão logo ali. Ah, como me fascinava ver-te sorrir!... E tu sorrias sempre!

Foi assim na estação do comboio quando nos vimos pela primeira vez; foi assim no salão de chá quando me olhavas com o olhar cúmplice e voz trémula; foi assim quando te dizia que tinhas  as mãos  frias; e foi assim, também, quando me disseste: "Adérito, eu não quero ser amada, quero amar!" E o brilho dos teus olhos quando te respondi: "Compreendo perfeitamente o que queres dizer".
Tudo isto para te dizer que o amor não é ingrato e faz-nos sempre voltar a querer amar outra vez.
Apesar das palavras baralhadas, provocadas pelas incertezas que sinto, e apesar de confusas, elas estão ansiosas de ser ouvidas, porque vão-te dizer que eu quero amar também.

Apraz-me ainda dizer-te mais uma coisa:
- Diariamente vivo com a tua memória, sem saber ao certo como vai ser. A ansiedade de te ter um dia sufoca-me, mas nada me impede de te imaginar. Ninguém me roubará essa imaginação, ninguém ma esconde ou ma tira. É a minha história, a nossa história. É essa memória, que num instante fugaz me faz sorrir e pensar que, à média luz, te vou amar loucamente, com a intensidade que me pedires, trancado em algum quarto de hotel e depois sereno te digo: “Vamos amar-nos novamente!” Sim, porque é afinal disso que se trata... AMAR!

Querermos voltar onde nunca estivemos e viver a paixão que nunca sentimos, só pode ser loucura! É um segredo que será nosso!

Foi isto que me ocorreu ao aceder ao teu pedido: - “Escreve-me uma carta de amor!...”

Adérito Barbosa

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