A.B - Caro Obama, obrigado por me receber na sua humilde
casa branca.
B.O - Caro Barbosa, fique à vontade, a casa é sua. Sente-se,
por favor!
B.O - Então, amigo, ouvi dizer que Portugal está a
atravessar um mau bocado.
A.B - Bem, eu não diria mau, mas sim péssimo bocado.
B.O - Reuni com os
meus assessores e não entendi bem o motivo de tanta insistência sua em ser
recebido por mim. Diga lá o que pretende.
A.B - Caro Presidente, eu vivo num país lixado, como é do
seu conhecimento. Vim saber se posso contar com o apoio da sua administração,
se, porventura, liderar uma intentona para depor o Governo de Passos.
B.O –Eh pá, isso é
complicado!!! Você deve estar
maluco! Eu não posso ajudar e nem quero
ouvir isso, até porque tenho andado com uns problemas lá pelo oriente; a coisa
está complicada, tenho a Onu a arranhar-me os calcanhares todos os dias e não
estou a ver nenhum país a querer saber de Portugal. Vocês vão-se matar todos
uns aos outros e ninguém vos vai levar a sério. Veja o que se passa em Darfur, e em todo o corno de África. Vê algum país a
querer saber daquilo? Sabe porquê? Eles não têm nada. É o que se passa com
vocês portugueses, não têm nada. Têm petróleo, ouro, indústria, madeiras nobres,
minérios, diamantes? Não têm! Esqueça isso, meu caro. Esqueça! Que tropa tem?
Você não tem tropa para isso, homem.
A.B - Pois aí é que o meu amigo Presidente se engana.
Tenho todos os militares que estão
na reserva e na reforma, pois mesmo os de bengala estão completamente
disponíveis para dar umas bengaladas. Os únicos tipos que não se interessam por
Portugal são aqueles que estão no
governo e os chefes miltares.
Trago aqui um relatório para lhe mostrar. Tenho a certeza
que irá pensar melhor, assim que o ler. O relatório é extenso, por isso, fiz um apanhado para facilitar a
leitura. Quer ver? Veja, por favor!
Obama começa a ler o relatório, que diz:
1. Os espanhóis, em tempos de seca, fazem trasfega da água
do rio Tejo para outros rios.
Eles tiram
ao Tejo 82 milhões de metros cúbicos de água (82 mil milhões de litros), sendo
o desvio feito na região de Acastela-la Mancha e a água encaminhada para o Rio
Segura, em Múrcia, no Sul. O caudal desviado ao Tejo dava para abastecer
durante um ano o Barlavento algarvio, cujo consumo ronda os 75 milhões de
metros cúbicos anuais. O caudal é cada vez mais pequeno. Sabe o que diz o
governo português sobre isso? Nada!!!
2. Privatizaram a Edp, porque o Estado não deve, segundo
eles, estar metido em negócios de energia, que é uma questão estratégica para o
país. Aquilo dava lucro, dá e vai continuar a dar!
Agora, ficamos a saber que é exactamente uma empresa
chinesa, de capitais públicos, que vai ter interferência num setor estratégico
como o da energia. Estamos perante uma posição incompreensível e inaceitável,
ainda mais grave, porque se trata duma empresa do estado chinês.
3. A água, bem
essencial para qualquer país, também não é incluída nos setores que o Governo
classifica como estratégicos para a
segurança, defesa e aprovisionamento do país. Assim, a gestão deste bem
precioso, absolutamente vital, pode cair nas mãos de gente sem escrúpulos e
perigosa, que , no quadro de uma gestão privatizada e correspondente lógica
empresarial, pode utilizar a água apenas para a obtenção de lucros e mais
valias.
Mas os nossos governantes
preocupam-se com o controlo da gestão da água e da respetiva rede de
abastecimento, que devia ser garantida pelo Estado? Está à vista que não….
4. Com a privatização da ANA, quase todos os aeroportos do
nosso país ficarão privatizados, ao contrário do que acontece na maioria dos
países europeus,onde são mantidos sob controlo do Estado. Sem controlar os
aeroportos, Portugal fica sujeito à vontade de terceiros para se entrar e sair
do país e entrega as chaves da nossa principal atividade exportadora, o
turismo, a “um monopólio privado dos aeroportos”.
E, neste negócio, onde está acautelada a importância
estratégica do chamado “hub de Lisboa”, enquanto plataforma fundamental de
ligação entre a Europa, a África e a
América Latina?
5. Mais privatizações de empresas portuguesas, de
importância estratégica para o nosso país ,se perfilam no horizonte das
pretensões do atual (des)Governo e
escusado será dizer que todas cairão nas mãos de estrangeiros. Para não citar
muitas, lembro a TAP, a REN, as Águas de Portugal, os Correios, que estão a ser preparadas para venda.
Na minha opinião, todas estas privatizações são um erro
histórico; vendem a privados, em regime de monopólio, todos os mecanismos
fundamentais, que podem contribuir para um contexto económico competitivo, para a autonomia do país e para que o Estado Português se mantenha uma entidade
independente.
Adérito Barbosa
Segundo um estudo do Eugénio Rosa, que está publicado na
internet, "entre 1987 e 2008 as privatizações deram ao Estado receitas de €28
mil milhões. Contudo, a Divida Pública, no mesmo período aumentou 5,8 vezes
mais!
RESUMO DESTE ESTUDO
No passado, os governos do PSD e do PS utilizaram diversas
razões para justificar, perante a opinião pública, a privatização de empresas
públicas. A experiência depois mostrou que essas razões não eram válidas. Neste
momento, o governo defende a privatização de mais empresas públicas, com o
argumento de que isso é necessário para reduzir a divida pública. No entanto, a
experiência e a análise objetiva mostram que não é com a venda de empresas
públicas que se consegue reduzir a divida. Muito pelo contrário, até se agrava,
como se prova neste estudo.
Entre 1987 e 2008, os governos de Cavaco Silva, Guterres,
Durão Barroso e Sócrates, procederam à privatização maciça de inúmeras empresas
públicas, obtendo uma receita de 28.039,6 milhões de euros a preços nominais.
No entanto, no mesmo período, a Divida Pública passou de 19.049,4 milhões de
euros para 110.346,6 milhões de euros, ou seja, aumentou 5,8 vezes (+ 91.297,2
milhões de euros). Até 2013, o atual governo tenciona privatizar totalmente
cinco empresas (INAPA, Edisoft, EID, Empordef, Sociedade Portuguesa de
Empreendimentos), parcialmente sete empresas (GALP, EDP, TAP, CTT, ANA,
Companhia de Seguros Fidelidade-Mundial e Império-Bonança, e EMEF) e arrecadar,
desta forma, cerca de 6.000 milhões de euros. No entanto, em 2013, o governo
prevê no PEC: 2010-2013 que a Divida Pública atinja 89,8% do PIB, o que
corresponde a cerca de 163.860 milhões de euros, ou seja, mais 53.513,5 milhões
de euros do que em 2008, e mais 144.811 milhões de euros do que em 1987. É
claro o fracasso desta politica de venda de empresas públicas para resolver o
problema do aumento rápido da divida pública.
Ao vender empresas públicas, o Estado perde uma importante
fonte de receitas para o Orçamento do Estado. Só no período compreendido entre
2004 e 2008, o Estado recebeu das empresas com capitais públicos, que ainda
escaparam à fúria das privatizações dos governos PSD, PSD/CDS e PS, de
dividendos e de remunerações de capital, 2.251,1 milhões de euros. É uma
parcela significativa desta fonte de lucros que o governo de Sócrates pretende
vender aos grandes grupos económicos. É evidente que, se o Estado abdicar desta
fonte importante de receitas, o défice orçamental e a divida pública certamente
aumentarão.
Muitas das empresas privatizadas eram uma fonte muito
importante de receitas para o Estado. Apenas três – a GALP, EDP e PT –
obtiveram lucros líquidos no período 2004-2009 que somados atingiram 13.384,9
milhões de euros. E estas três empresas valiam, em 12 de Abril, com base no
valor de cotação de bolsa, 30.620,2 milhões de euros. Entre 2004 e 2008, oito
grupos económicos privados, quatro deles estrangeiros, que controlam já 43% do
capital da Portugal Telecom receberam desta empresa 1.330,8 milhões de euros de
dividendos. Na EDP, oito grupos privados que controlam 32,96% do capital da EDP
receberam 864,6 milhões de euros de dividendos. Na GALP, também entre 2004 e
2009, dois grupos económico, um parcialmente estrangeiro (Amorim energia) e
outro totalmente estrangeiro (a italiana ENI), que controlam 66,68% do capital
desta empresa, receberam, de dividendos, 1017,4 milhões de euros.
Face a estes números retirados dos relatórios e contas
publicados por estas empresas, as quais representam apenas uma pequena amostra
das empresas privatizadas, conclui-se que as privatizações têm representado um
fabuloso negócio para os grandes grupos económicos, incluindo estrangeiros, e
um mau negócio para o Estado que perdeu assim uma importante fonte de receitas
que poderia aliviar as dificuldades orçamentais e reduzir o défice orçamental.
Alex Jilbeto e Barbara Hogenboom mencionam na obra colectiva
Big Business and Economic Development
que se assistiu nas décadas 80 e 90 do séc. XX, em muitos países a um
gigantesco movimento de privatizações maciças de empresas públicas, de
desregulamentação e de liberalização, iniciado nos EUA de Reagan e na
Inglaterra de Thatcher, que depois se estendeu a muitos países com o apoio do
FMI e do Banco Mundial que deixou o Estado fragilizado, submetido ao poder
económico, incapaz de promover o desenvolvimento e o crescimento sustentado, e
que conduziu o mundo à primeira grande crise global. Portugal também não
escapou àquele movimento, e o actual governo parece não ter aprendido nada com
essa experiência e com a actual crise pois tenciona continuar a politica de
privatização de empresas públicas.
Os sucessivos governos têm utilizado justificações diversas
para privatizar as empresas públicas. Os argumentos utilizados pelos governos
de Cavaco Silva e Guterres, assim como pelos defensores das privatizações, eram
que as privatizações seriam necessárias para criar grupos nacionais
competitivos, o que seria bom para o País, e para aumentar a concorrência
interna, o que beneficiaria os consumidores porque levaria à baixa de preços. O
que efectivamente veio a acontecer foi precisamente o contrário. A maioria das
empresas privatizadas acabaram parcial ou mesmo totalmente por cair sob o
controlo de grandes grupos económicos estrangeiros, por um lado, e, por outro
lado, os preços praticados por essas empresas em Portugal são actualmente
superiores aos preços médios da União Europeia (combustíveis, electricidade,
telefones, etc.).
No PEC: 2010-2013 consta a intenção do actual governo de
privatizar total ou parcialmente mais 15 empresas (uma parte significativa das
que ainda restam). E a justificação agora é que isso é necessário para reduzir
a divida pública. Por isso, tem interesse analisar se este argumento tem alguma
coisa de verdadeiro. É o que se vai fazer seguidamente.
ENTRE 1987/2008 AS PRIVATIZAÇÕES DERAM AO ESTADO UMA RECEITA
DE 28.039 MILHÕES €, MAS A DIVIDA PÚBLICA AUMENTOU 91.297 MILHÕES € (5,8 vezes
mais)
As privatizações realizadas no período 1987/2008, pelos
governos de Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso e Sócrates, deram uma receita
ao Estado que, de acordo com dados divulgados pela Direcção Geral do Tesouro do
Ministério das Finanças, atingiu, a preços correntes, 28.039,6 milhões de
euros, Durante esse período, isto é, entre 1987 e 2008, a Divida Pública passou
de 19.094,4 milhões de euros para 110.346,6 milhões de euros também apreços
correntes, ou seja, aumentou 5,8 vezes (mais 91.297,2 milhões de euros).
Apesar destes resultados, e de ser claro que não é através
da venda, muitas vezes aos desbarato, de empresas públicas a grandes grupos
económicos que se resolve o problema da divida pública, o actual governo
anunciou, no PEC:2010-2013, a intenção de proceder a uma nova vaga de
privatizações. Pretende arrecadar desta forma mais 6.000 milhões de euros. Mas,
apesar desta receita, o governo também prevê, no PEC: 2010-2013, que a Divida
Pública atinja, no fim de 2013, 89,8% do PIB o que deverá corresponder a cerca
de 163.860 milhões de euros, ou seja, mais 53.513,5 milhões de euros do que em
2008, e mais 144.811 milhões de euros do que em 1987. É claro o fracasso desta
politica de venda de empresas públicas para reduzir a divida.
AO VENDER AS EMPRESAS PÚBLICAS O ESTADO PERDE UMA IMPORTANTE
FONTE DE RECEITA
O quadro seguinte, com dados da publicação "Sector
Empresarial do Estado " da Direcção Geral do Tesouro do Ministério das
Finanças revela que as empresas públicas, apesar das privatizações maciças,
ainda são uma importante fonte de receitas para o Orçamento do Estado.
QUADRO II – Dividendos e remunerações de capital estatutário
recebidos pelo Estado das empresas com capitais públicos
ANO Milhões euros
2004 482,7
2005 120,2
2006 532,8
2007 556,3
2008 559,0
SOMA 2.251,1
Fonte: Sector Empresarial do Estado -2005-2009 - Direcção
Geral do Tesouro
Só no período 2004 -2008, o Estado recebeu das empresas com
capitais públicos que ainda escaparam à fúria das privatizações dos governos
PSD, PSD/CDS e PS, de dividendos e de remunerações de capital, 2.251,1 milhões
de euros. É uma parcela significativa desta fonte de lucros que o governo de
Sócrates pretende agora vender aos grandes grupos económicos. É evidente que o
Estado, se vender esta fonte importante de receitas, o défice orçamental e a
divida pública certamente aumentarão. E tenha presente que é uma fonte continua
de lucros e não apenas num ano. É como "matar a galinha de ovos de
ouro" da fábula popular.
SÓ A EDP, GALP E A PORTUGAL TELECOM DERAM AOS SEUS
ACCIONISTAS 13.384,9 MILHÕES € DE LUCROS LIQUIDOS EM 6 ANOS E VALIAM NA BOLSA,
EM ABRIL DE 2010, 30.620,2 MILHÕES €
Para que fique claro como têm sido utilizadas as empresas
publicas que foram privatizadas, vamos analisar três casos paradigmáticos: EDP,
GALP e PT. O quadro seguinte construído com dados constantes dos seus
Relatórios e Contas mostra de uma forma clara como elas estão a ser utilizadas
pelos grupos económicos para acumular riqueza.
QUADRO III – Lucros Líquidos e capitalização bolsista da
EDP, GALP e PT
ANOS LUCROS LIQUIDOS
- milhões €
EDP GALP PT
2004 271,6 331,1 623,0
2005 1.971,1 442,0 654,0
2006 940,8 754,8 866,8
2007 907,3 776,6 741,9
2008 1.212,0 116,9 576,1
2009 1.168,0 347,0 683,9
SOMA LUCROS LIQUIDOS (2004/2009) 6.470,8 2.768,4 4.145,7
CAPITALIZAÇÃO BOLSISTA
(Valor da empresa calculada com base na cotação da bolsa de
12/04/2010) 11.866,2 11.232,3 7.521,7
Fonte: Relatórios e Contas -2004/2009, e informação
disponível no "site de cada empresa
Em seis anos, os lucros líquidos da EDP somaram 6470,8
milhões de euros; a GALP, no mesmo período, obteve 2.768,4 milhões de euros de
lucros líquidos, e a Portugal Telecom 4.145,7 milhões de euros. Só estas três
empresas que foram privatizadas deram, no período 2004/2009, lucros líquidos
que somaram 13.384,9 milhões euros. Por esta pequena amostra fica-se já com uma
ideia clara da importância como fonte de receitas para o Estado que eram estas
empresas. E elas são apenas três de um conjunto grande de empresas públicas que
foram privatizadas pelos governos de Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso
Sócrates. Basta lembrar toda a banca e seguradoras, com poucas excepções, que
foram também privatizadas que constituem actualmente para os grupos económicos,
incluindo estrangeiros, um instrumento importante de exploração e de acumulação
de riqueza. Só a PT distribuiu aos seus accionistas, no período 2004/2009,
dividendos no valor de 3102,2 milhões de euros. E cerca de 43% desses lucros
foram parar às mãos de apenas 8 grupos económicos, sendo metade estrangeiros.
Portanto, oito grandes grupos económicos privados, sendo
quatro estrangeiros, receberam dividendos da Portugal Telecom no valor de
1.330,8 milhões de euros (deste total 678,8 milhões de euros de dividendos
foram recebidos por grupos económicos estrangeiros). O accionista Estado, por
possuir, através da CGD, uma participação de apenas 7,3% recebeu somente 226,5
milhões de euros de dividendos. Situação semelhante também se verificou na GALP
e na EDP, assim como em todas as outras empresas que foram privatizadas, as
quais deixaram de ser fonte de receitas para o Orçamento do Estado, e passaram a
ser para os grupos económicos privados um instrumento importante de acumulação
de riqueza e de domínio sobre o poder politico.
Entre 2004 e 2009, na EDP oito grupos económicos privados
(Iberdrola, Caja Ahorros Astúrias, José de Mello, BCP, BES, PAM, PIPIC),
receberam 864,6 milhões de euros de dividendos e na GALP, durante o mesmo
período, dois grupos económicos privados (Amorim Energia e a italiana ENI)
receberam também de dividendos 1017,4 milhões de euros. O Estado, devido às
participações que ainda tem nestas duas empresas, através da PARPÙBLICA e da
CGA, recebeu na EDP 786,7 milhões de euros de dividendos, e na GALP 122,1 milhões
de euros no período 2004 e 2009. Mas é uma parte destas participações já
minoritárias que, apesar de tudo, ainda dão elevados lucros, que o actual
governo pretende privatizar até 2013.
Finalmente há ainda um outro aspecto que interessa também
referir. É o valor actual destas três empresas com base no valor de bolsa. De
acordo com as cotações da bolsa de 12.4.2010, só estas três empresas (EDP,
GALP, PT) valiam 30.620,2 milhões de euros (quadro I), portanto certamente um
valor muito superior ao obtido pelo Estado com a sua privatização
Não resta dúvida que os grupos económicos fizeram um grande
negócio com a privatização destas três empresas. Elas são uma fonte permanente
de elevados rendimentos anuais para eles, por um lado, e, por outro lado,
quando quiserem vender obterão por elas certamente um valor gigantesco. Para a
maioria da população as privatizações das empresas publicas, transformou estas
em instrumentos importantes de exploração a que está submetida, através dos
preços elevados que têm de pagar pelos bens essenciais produzidos por essas
empresas.
UMA ONDA DE LIBERALISMO E DE PRIVATIZAÇÕES QUE ATINGIU E
AINDA ATINGE PORTUGAL
Alex Jilbeto e Barbara Hogenboom na obra colectiva Big
Business and Economic Development
verificam que nas décadas 80 e 90 do séc. XX se assistiu, em muitas
partes do mundo, a um gigantesco movimento de privatizações maciças de empresas
públicas, acabando muitas destas empresas por serem adquiridas imediata ou
pouco tempo depois por grupos multinacionais. Só entre 1988 e 1995, estes
autores calcularam que num total de 88 países desenvolvidos ou em vias de
desenvolvimento, cerca de 3.801 empresas públicas acabaram por serem vendidas a
grupos multinacionais. Isto também se verificou em Portugal
Este movimento global de privatizações em larga escala, de
desregulamentação e de liberalização económica e financeira, que se verificou
inicialmente nos EUA com Reagan e na Inglaterra com Thatcher, que rapidamente
se alastrou por quase todo o mundo, apoiada pelo FMI e pelo Banco Mundial, com
base nos mitos da autorregulação e da eficiência dos mercados, como os
instrumentos mais adequados para fazer uma afetação eficiente dos recursos e
para garantir um crescimento económico elevado, deixou os Estados, os países e
as populações totalmente indefesas , mas permitiu aos grandes grupos
multinacionais consolidar o seu domínio à escala global, e impor uma
globalização capitalista que agravou as desigualdades a uma escala nunca antes
vista, e que conduziu o mundo capitalista a uma das suas maiores crises da sua
história.
Portugal não conseguiu escapar a esta onda de
neoliberalismo, de desregulamentação, de privatizações maciças, sendo os
sucessivos governos meros instrumentos desta politica neoliberal global, que
aumentou o poder dos grandes grupos económicos no nosso País deixando o Estado
profundamente enfraquecido, submetido ao poder económico e incapaz de defender
os interesses da população trabalhadora e de promover o desenvolvimento e o
crescimento económico sustentado. Infelizmente, o actual governo parece não ter
aprendido nada com a experiencia do passado e com a grave crise actual, e teima
em continuar a política de privatizações que não resolve os problemas, até os
agrava e enfraquece ainda mais o poder de intervenção do Estado.
O governo actual, ao tencionar continuar a politica de
privatizações, vai abdicar de um instrumento importante de politica económica e
de defesa dos interesses da população e do País, ficando ainda mais à mercê e
submetido ainda mais ao poder dos grandes grupos económicos, permitindo a estes
controlarem os instrumentos mais importantes no mundo actual, por um lado, para
imporem um crescimento económico de acordo com os seus interesses e, por outro
lado, para submeterem a maioria da população a uma exploração desenfreada com
base em preços leoninos de bens essenciais, como são a electricidade, os
combustíveis, as telecomunicações, etc., a que se assiste neste momento em
Portugal."
Adérito Barbosa in "olhosemlente"