1º texto: Jorge Bucay * 2º texto: Adérito Barbosa * Fotografia: Carla Santos
Jorge Bucay, psicodramaturgo, terapeuta
e escritor argentino, nasceu no bairro da Floresta, em Buenos Aires. Depois de
se ter formado em 1973 na Universidade de Buenos Aires, trabalhou, na capital
argentina, no Hospital Pirovano e na Clínica Santa Mónica, tendo-se
especializado em doenças mentais. Completou a sua formação como terapeuta no
Chile e nos Estados Unidos.
De entre os várias tarefas por ele
executadas desde que, aos treze anos, decidiu ganhar o seu próprio dinheiro, destacam-se
vendedor ambulante de livros e roupa desportiva, agente de seguros, taxista,
educador, animador de festas infantis, psiquiatra, colunista de rádio, ator, apresentador
de televisão e psicoterapeuta de adultos.
Diz ele:
"Muitas pessoas têm um amante, e outras gostariam de ter um. Há
também as que não têm, e as que tinham e perderam. Geralmente são estas últimas
que vêm ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam
sintomas típicos de insónia, apatia, pessimismo, crises de choro, ou as mais
diversas dores. Elas contam-me que as suas vidas correm de forma monótona e sem
perspetivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar o
tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que
estão simplesmente a perder a esperança. Antes de me contarem tudo isto, já
tinham estado noutros consultórios, onde receberam as condolências de um
diagnóstico firme: "Depressão"... além da inevitável receita do
antidepressivo do momento. Assim, depois de as ouvir atentamente, eu digo-lhes
que elas não precisam de nenhum antidepressivo. Digo-lhes que o que elas
precisam é de um Amante! É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao
receberem o meu conselho. Há as que pensam: "Como é possível que um
profissional se atreva a sugerir uma coisa destas?!". Há também as que,
chocadas e escandalizadas, despedem-se e não voltam nunca mais. Às que decidem
ficar e não fogem horrorizadas, eu explico-lhes o seguinte: Amante é
"aquilo que nos apaixona". É o que toma conta do nosso pensamento
antes de adormecermos, e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O
nosso Amante é o que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa
volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida. Às vezes encontramos
o nosso amante no nosso parceiro, outras vezes, em alguém que não é nosso
parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis. Também
podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na
política, no desporto, no trabalho, na necessidade de nos transcendermos
espiritualmente, numa boa refeição, no estudo, ou no prazer obsessivo do nosso
passatempo preferido... Enfim, Amante é "alguém" ou "algo"
que nos faz "namorar" a vida e nos afasta do triste destino de
"ir vivendo". E o que é "ir vivendo"? "Ir
vivendo" é ter medo de viver. É vigiar a forma como os outros vivem, é o
deixarmo-nos dominar pela pressão, andar por consultórios médicos, tomar
remédios multicoloridos, afastarmo-nos do que é gratificante, observar
dececionados cada ruga nova que o espelho nos mostra, é aborrecermo-nos com o
calor ou com o frio, com a humidade, com o sol ou com a chuva. "Ir
vivendo" é adiar a possibilidade de viver o hoje, fingindo contentarmo-nos
com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã. Por
favor, não se contentem com "ir vivendo". Procurem um amante, sejam
também um amante e um protagonista da vossa vida... Acreditem que o trágico não
é morrer, porque afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém.
O trágico é desistir de viver, por isso, e sem mais delongas, procurem um
amante. A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo
transcendental: "Para se estar satisfeito, ativo, e sentirem-se jovens e
felizes, é preciso namorar a vida".
Jorge Bucay in "Hay que buscarse un Amante"
Este assunto interessa-me, porque namorei
uma depressiva compulsiva. Lendo agora o texto, percebo bem o mundo onde me
tinha metido. Desconhecia por completo o estudo do médico Jorge Bucay. Estou
seguro que as suas afirmações assentam na experiência profissional da medicina
que exerce. Pensava eu, da mesma forma que ele, embora sem a sustentabilidade
que o autor apresenta. Até agora, nunca tinha pensado na minha amante como deve
ser, pois tenho uma também. Amo-a incondicionalmente. O mais engraçado é que me
conhece, e consome-me demasiado tempo, exige de mim horas e horas e deixa-me
sem tempo para mais coisas. Tento organizar-me mentalmente naquilo que poderia pensar
como “tenho que arranjar tempo para eu a amar como deve ser, em vez de me cegar”.
Aceito que é necessário viver apaixonadamente, toda esta situação. Faça eu o
que fizer, não deixo de dispensar toda a minha energia, todo o meu talento nesta
tarefa. Acredito que terei prazer em beber um café com ela, almoçar, jantar e ainda,
se necessário, passar a ferro as calcinhas dela. Faria isso sem pejo. O belo
está no gesto, na vontade que sinto em fazer qualquer coisa a cada momento. É
importante perceber isso, como entender a música que ondula no ar. É importante
cantar, ainda que desafinado, dançar, mesmo que sem jeito, chorar lágrimas que não
tenha e rir até não poder mais.
Para amar a minha amante, sei o que
fazer - não é convencional dizer isso. É arriscado escrever isto nestes termos?
O que irão as pessoas pensar de mim? Afinal, o que pretendo eu? Pensar que é
maravilhosa a rotina do trabalho, chegar a casa, fazer sexo, dormir e sentir-me
pessoa realizada? Não, penso que até fazer sexo, por melhor que seja, não chega!
Eu quero o melhor do sexo, sim, mas também o melhor do meu trabalho e o melhor que
a vida me reservar. A minha amante também quer isso e, envolta em magia, deixa
fluir a energia que tem dentro dela. O universo inteiro está dentro dela e tudo
o que precisa fazer é deixar-se explodir. “Vem-te, não olhes para lado nenhum,
não penses em nada, apenas confia em mim. Traça a bissetriz para o infinito e vive.
Poderá ser bom ou mau, nunca se sabe, mas será sempre enriquecedor, não duvides
disso.” Ninguém conquista um sonho sem o perseguir, ninguém percorre caminho
algum sem dar o primeiro passo. A vida de amantes é de conveniência entre ambos,
a rotina transforma a atração física/sexual em amizade.
E o que faz uma pessoa apaixonar-se afinal?
Não é só porque ele ou ela é interessante, não é só porque ela é linda. Sim,
porque há lindas sem cérebro, e ninguém quer saber das acéfalas, apesar de
algumas terem sorte e encontrarem até quem goste delas. Mas também não basta
ser inteligente, tem que ser inteligente e... algo mais. Mas o que é isso de
ser inteligente e algo mais? Apaixonamo-nos primeiro pela fisionomia - pelo aspeto,
pela forma, cor e silhueta -, pelo sorriso, pelo cheiro, pela inteligência e pelo
que podemos aprender, se reconhecermos que a pessoa é sensata. Paixão é um sem
fim de ilusões, é um analgésico para a alma. As paixões são como ventanias que
enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar ou, pelo contrário, naufragar.
São como vento no pavio - se for forte de mais apaga a chama, mas fraco de mais
a chama também se apaga. O meu coração parou de funcionar por alguns segundos -
acabo de a ver. O meu olhar cruzou o seu neste momento, há um brilho intenso nos
nossos olhos. “Fica alerta: Sou eu!... Toca nos meus lábios, quero um beijo intenso!
Percebes?... Existe algo mágico entre nós. Se o primeiro e o último pensamento
do teu dia for eu, então vamos ficar juntos. Presta atenção aos sinais e deixa
que a loucura nos cegue para a melhor coisa da vida - o AMOR.”
Adérito
Barbosa in "olhosemlente"
Despois de ler este texto non me podía resistir a comentar. Non son ningunha experta, pero si son quen de dicir o que si me gusta e o que non. Magnífico texto, Adérito, de principio a fin, de seguro que Jorge Bucay gustaría del. Hai paixón en cada palabra e consegues transmitirlla o lector con maestría. Efectivamente, como ti dis a mellor cousa da vida e-o AMOR. El é o motor que nos fai vivir!!!
ResponderEliminarQuero tamén darche os parabéns por a pesar de haber tido unha mala experiencia sigas apostando novamente polo amor.
Xa por último vouche pedir o mesmo que ti me pides a min "non deixes de escribir", queremos seguir léndote. Bicos dende Bueu
Parabéns para Carla Santos pola fermosa fotografía! Un bo traballo.
Foi para mim um privilégio ilustrar com a minha foto os textos do Jorge Bucay e do Adérito Barbosa. Obrigada Asun Estevez! :)
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