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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Tino de Rans

 Já estás a imaginar-te Presidente da República Portuguesa, não? Eu já!
Já estás a imaginar-te naquele carrão preto, com um assessor fardado de luvas pretas na mão? Não? Eu já!
Já te imaginaste numa daquelas presidências abertas junto dos calceteiros, dando exemplo, de joelhos no chão, a assentar uns paralelepípedos na cama do areão dos passeios e nas calçadas portuguesas e depois fazer festinhas com o martelo e no finalzinho amassar-lhes o juízo com um maço? Já imaginaste o que seria de Rans, Tino? Eu já!
Já imaginaste a noite da eleição do Vitorino Francisco da Rocha e Silva, mais conhecido por Tino de Rans? Rans não dormiria, a igreja ficaria aberta para os menos crentes encontrarem a fé e a Junta de Freguesia em alvoroço, numa sessão plenária extraordinária, à procura de um cognome para ti. A Ana Malhoa a animar o bailarico no Largo do Cruzeiro, o tio Celestino com a adega aberta, coisa que nunca fizera em 97 anos, e a fogueira, Tino? Uma daquelas fogueiras que chegaria ao céu! Serias um orgulho para as gentes de Rans, Tino, podes crer! - Vejam só, Tino, um filho da terra, agora é rei em Belém, Senhor na Europa e famoso no mundo. Serias doutor honoris causa de todas as universidades, membro da Opus Dei, bem como membro de várias organizações internacionais. Serias confrade de um montão de confrarias das comezainas e das bebedeiras por esse mundo fora! Até terias direito a umas ações do BPN, BANIF, BES, e do BPP., Bancos Maus e Bons
Pois é, Tino! Tu que nasceste no meio dos cabrestos e te criaste no meio dos calceteiros és um homem do povo, tu és povo, mas vais ver que o povo é o primeiro a renegar-te e a dar-te com os pés, como Pedro fez a Jesus, quando o galo cantou pela terceira vez. Ele, o povo, vai achar que não és conhecido lá fora, que não tens experiência política, que não és professor, que não sabes falar inglês nem francês, que lá para as bandas do Largo do Rato até te acharam cómico e por isso te descartaram. Enfim, que não tens influência nem na banca, nem junto do poder económico.
Ó Tino, o povo vai preferir aqueles que não são do povo. Vai preferir os professores, os doutores, sobretudo aqueles que manipularam a opinião pública anos a fio na TV, vai preferir o pessoal dos partidos e o pessoal do sistema - apesar de eu achar que és do sistema, do sistema do povo. Entendes? É esse povo quem vai votar em massa; os que brincaram com a Barbie e com o Ken votam na Barbie com saudade da infância; os intelectuais querem ver Nóvoa a sair da névoa, tipo D. Sebastião, que foi mandar vir com os mouros, esquecendo-se que os mouros é que conheciam o deserto. Os comunistas e os católicos descontentes, juntos e de mãos dadas, votam no padre foragido da igreja. Os assinantes da Porto Canal votam sem hesitar no candidato do Júlio Magalhães, o tal que é professor, empresário e comentador, o tal de Braga, sabes? Sim, esse mesmo! A esse até acho graça, vi-o em cima da cadeira à porta do TC, achei giro.                                                                                                                                                          
Os leitores da revista Playboy, esses, são fiéis aos seus princípios e não vão  abrir mão de uma boa nudez. Vão depositar o voto, pela certa, na Marisa, na esperança de um dia a ver nua na Playboy…
Os polícias, os magistrados, os carcereiros, os investigadores e juízes da CMTV, os anti-ladrões vão todos a correr atrás do Morais - ele só agora descobriu a corrupção; quando andou nos corredores do poder, no PSD e na Câmara do Porto nunca viu nada.
Os ladrões, esses não vão votar; é melhor não contar com eles; esses passam o tempo a magicar qual vai ser o próximo banco a cair em desgraça e qual é a melhor parceria ou privatização para eles “botarem” as mãos em cima.
E tu Tino, para ti não auguro nada de bom. Vais entender como é o povo. Lembra-te que foi o povo quem mandou prender e condenar à morte Jesus Cristo e deixou à solta o ladrão Barrabás. Pois é Tino, é esse o tal povo que está sempre a criticar os mesmos do costume e vai votar como sempre nos mesmos do costume. E quando as coisas correm mal, como sempre correm, ninguém votou no tipo que está no poder.
Agora só cá para nós, ó Tino:
 - Achei original mesmo, curti bué aquela cena super baril, ver-te com a cesta de vime no ombro, cheia de assinaturas, à porta do TC. Até pensei que andavas nas vindimasTino, conta com o meu voto!

Aderito Barbosa in olhosemlente

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Para além do desejo





Para além do desejo

Eu queria que cantasses para mim,

Que fizesses um mundo só para nós,
Que pusesses minha estátua no jardim,
Iluminasses a direito o meu olhar.
Eu queria contigo ir à lua dançar,
Ficar com o pouco de nada que resta
Saborear a vontade do amor que quiseste.
Respirar o odor que adormece
Eu queria mais... se pudesses...
Me deitasses nas ondas a flutuar,
Me beijasses sem pressa na margem.
Eu queria sentir-te fresca, brisa nua,

Eu queria...
Cambalear nevado de amor agarrado a ti.
Dar-te quem sabe para além do teu desejo
Adérito Barbosa in olhosemlente

sábado, 19 de dezembro de 2015

All Along the Watchtower


"Deve haver algum jeito de sair daqui ", disse o coringa ao ladrão
"Há muita confusão ", eu não consigo nenhuma ajuda
Empresários, eles bebem meu vinho, escavam minhas terras plowmen
Nenhum deles ao longo da linha sabe que valeu a pena.



" Não há razão para ficar animado ", o ladrão gentilmente falou
" Existem muitos aqui entre nós que sentem que a vida émais uma piada
Mas tu e eu, nós já passamos por isso, e isso não é o nosso destino
Então, não vamos falar falsamente agora, já é tarde ".


All Along the Watchtower, príncipes mantiveram a vista
Enquanto todas as mulheres iam e vinham, servos descalços também.
Fora na distância um gato selvagem rosnou
Dois motoqueiros estavam-se a aproximar, e o vento começou a uivar.

Bob Dylan  in olhosemlente

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

DEPOIS CONTO COMO FOI – Parte II



Atendendo a que os seguintes factos ocorreram tal e qual como os descrevo, quero salientar que não ficcionei nada. 

- Bom dia, minha Senhora! Sou DFA. Telefonei para estes serviços, para marcar uma consulta de neurocirurgia e disseram-me que teria que vir cá pessoalmente, para falar com o chefe dos serviços, a fim de ele avaliar a minha situação clínica e mediante isso determinar se tenho prioridade no atendimento, ou se vou para a lista de espera; porém, acontece que eu só quero que ele produza um relatório para eu juntar a um requerimento que vou fazer ao CEMFA.
A senhora ouviu tudo direitinho e, muito cortês, disse:
- Sim senhor, esse assunto não é comigo, é com o meu colega que vem já. Espere um bocadinho, por favor!
Passados dez minutos, apareceu um rapaz negro, simpático, praça do Exército com uns dezanove anitos, não mais; cabelo à escovinha, quase careca dos lados, mas no cimo da cabeça um tufo de carapinha, mais parecia um ninho de cuco, um verdadeiro dread, a quem só faltavam mesmo uns brincos na orelha, que vinha trincando uma maçã; parecia-me tudo surreal. Voltei a explicar, tintim por tintim, o assunto e pediu-me para aguardar um pouco, porque o chefe dos serviços de neurocirurgia estava atrasado; sentei-me na sala de espera, sala essa super pequenina, cheia de gente, sendo a maioria senhoras na casa dos 60, qual centro de saúde da minha freguesia. Com ar descuidado e amigas do peso, falavam alto umas com as outras, indiciando que já se conheciam - parecia que estava numa feira. Pus-me a imaginar e a comparar o que era o HFA com o que é, atualmente, o HFARMADAS.
Passada cerca de meia hora, o homem do ninho de cuco, já sem a maçã na mão,  chamou-me. O médico vinha juntamente com ele e assim que me viu levantar, perguntou-me bem alto, com ar de enjoado:
- O que é que o Senhor pretende?
- Disseram-me que eu teria de vir cá falar consigo, por causa da  produção de um relatório de que necessito, para reabrir o meu processo de averiguações por acidente em serviço, de acordo com este relatório médico que trago do Hospital da Luz.
- Eu não vou atendê-lo, porque não o conheço, você não é meu paciente!
- Ó Sr. Dr. o assunto é este assim, assim…E lá tentei explicar o meu caso. A meio da explicação, ele interrompeu-me e disse novamente, com ar intimidatório:
- Já lhe disse que o Sr. não é meu paciente, não o conheço de lado nenhum, não vou produzir relatório nenhum.
Esta conversa toda deu-se na sala de espera, espaço  que antes parecia uma feira e virou santuário, só devido ao tom de voz do médico.
- Doutor, não se preocupe, vou colocar o problema ao Director do Hospital! - Disse eu, em alta voz também.
- Faça o que quiser! - Contrapôs o médico.
Tal como disse, assim fiz; fui à Direcção do Hospital, local que conheço muito bem, desde os tempos em que trabalhei na secção de justiça na BETP; eram tantos os páras com pernas partidas, que rara era a semana em que eu não ia ao hospital tratar de assuntos relacionados com os doentes páraquedistas.
Como ia dizendo, subi à Direcção. A secretária ainda é a mesma senhora; outrora uma jovem que despertava sensações bruscas em mim e na rapaziada toda, mas que os anos se encarregaram de envelhecer sem piedade. Sem a frescura de outros tempos, conserva ainda a beleza entre as rugas que teimam em lhe marcar a face  e o cabelo grisalho disfarçado com tinta.
- Olá, bom dia, como está? - Reconheceu-me logo, trocámos palavras de circunstância e disparei:                                                      
- Preciso de falar com o Director do Hospital.
- Qual é o assunto?
- Quero apresentar uma queixa contra o chefe de serviços de neurocirurgia, mas pretendo falar pessoalmente com ele – expliquei.
- Pode sentar-se - disse ela.
Sentei-me  na poltrona da recepção. Durante o tempo em que estive à espera, passei os olhos pelas revistas da especialidade de medicina e pela revista Mais Alto; entre outras revistas destacavam-se, por exemplo, algumas do exército,  mas não me aguçaram a curiosidade.
Passados vinte minutos, sensivelmente, recebi a notícia de que o Sr. Director não estava.
- E o Sr. Director Clínico está? - Perguntei.
- Vou ver! - Disse a senhora e, dali a pouco, outra notícia:
- O Sr. Dr. está em reunião.
- Eu espero - disse eu. Como nunca mais acabava a reunião, disse à secretária:
- Já que não me atendem, vou ao Estado Maior da Força Aérea apresentar uma queixa ao CEMFA, contra o chefe dos serviços de neurocirurgia.
- Espere mais dois minutos, que a reunião deve estar a terminar.
Nisto, apareceu um médico TC do exército, assessor da Direcção, que é o responsável pelos assuntos dos DFA.  O Médico TC foi de uma cortesia extrema. Tomou conta do meu caso e tratou ele mesmo de toda a papelada necessária para os serviços de neurocirurgia produzirem o meu relatório.
No fim agradeci a gentileza e a amabilidade e disse-lhe:
- Sr. Dr. agora preciso de ir falar com o Sr. Director do Hospital, ou com com o Sr. Director Clínico; pode levar-me a um deles?
O simpático TC médico quis demover-me das minhas intenções, mas não abdiquei de ser recebido pelo Director Clínico do Hospital. Apresentei a queixa e manifestei o meu desagrado pela forma pouco cortês, pouco profissional e pouco humana como o chefe  dos serviços de Neurocirurgia me havia tratado.
O Director Clínico pediu desculpas pelo mau dia que o chefe de neurocirurgia eventualmente estaria a passar, pois era uma pessoa extraordinária, gentil e humana, blá-blá-blá  e disse-me que já se tinha inteirado do contencioso com o tal chefe de Neurocirurgia; houve um mal entendido e o médico julgava que eu era civil, blábláblá. No final, concluímos que já nos conhecíamos desde a década de 80.
Dez dias depois regressei ao Hospital e dirigi-me, desta vez, ao gabinete dos serviços dos relatórios médicos. Surpresa! Os documentos que preenchi na Direcção, com a ajuda do Assessor no 1° andar, em dez dias, desceram apenas vinte lanços de escadas e estavam a chocar tranquilamente na gaveta da secretária de uma militar da Marinha, à espera que também ela acabasse de comer uma maçã e sem qualquer preocupação de arranjar tempo para enviar, com protocolo, os documentos para os serviços de Neurocirurgia.
Sabem quem é que vai fazer o relatório?
- O tal médico que não me conhece de lado nenhum!
Depois conto o resto.

Bom Natal e boas festas para todos os meus amigos
Adérito Barbosa in olhosemlente

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Ao ritmo da taquicardia de cada um


Nunca escrevo para mim, nem para os meus amigos; escrevo para aqueles que quiserem ter a paciência de me ler. Escrevo para atingir os meus leitores, para soltar angústias ou, eventualmente, despertar nos outros sentimentos adormecidos. Escrevo também para os anónimos leitores do meu blogue, para todos os quadrantes da sociedade, indiferenciadamente, e para aqueles com quem, num puro exercício de ilusão, me quero afundar e subir à tona depois de um estúpido sonho e assim enfrentar com tranquilidade a dura realidade que a vida nos oferece.
Porque é que as pessoas se interessam pelos temas que escrevo, se nada tenho para lhes mostrar de novo? - Ah, já sei, querem que eu as convide a dar largas à imaginação e a dar seguimento à história, deixando a imaginação de cada um à solta. 
Escrevo para toda a gente, escrevo para a sociedade em geral, sobretudo para os mais jovens, mas para ninguém em particular. Se alguém me ler, será por sua conta e risco; não quero que tenham em conta as razões que me levam a escrever, mas quero que não corram, necessariamente, nenhum risco, que não corram, especialmente, o risco de se embrutecerem. Eu sonho escrever bem, sonho ser capaz de um dia crescer dentro do “rolling” de uma esferográfica, dormir com o tempo e acordar com tudo escrito, sem nunca esquecer as pessoas, nem nunca sentir medo de escrever palavras tais como gosto de ti, amo-te, senti saudades tuas, sinto a tua falta, pena estares doente, vou-te fazer uma visita, quero ir ao cinema contigo, ou, simplesmente, vem à minha casa esta tarde, ou quero que saibas que sou teu amigo. 
Escrevo na esperança de aprender a escrever melhor. No fundo, quero desabrochar-me, sacudir os sentimentos para fora de mim, entregá-los aos leitores e deixá-los ler ao ritmo da sua taquicardia. 
Às vezes sinto medo que algum pedaço de mim vá com a minha escrita. Não quero ir com os meus escritos, quero ficar e esquecê-los, quero abandoná-los para sempre e partir para outro lugar alienado de mim.

Adérito Barbosa in olhosemlente

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Ramon deixa o clube dos escritores

Ramon, apelido de guerra, com o nome de Joaquim, foi outrora um abnegado soldado de élite português, combatente e operador de rádio nas tropas páraquedistas. Conviveu de perto com o cheiro da pólvora, explosões, poeiras, mortes e sentiu nas mãos a temperatura do sangue de um camarada. Ramon conhece a angústia das emboscadas e o alívio de um trilho livre e desminado; sentiu a dor daqueles que tombaram e que antes de fechar os olhos, num último suspiro, ainda tiveram tempo para pedir um gole de água, sorrir e adormecer para sempre, porque é assim que morre um Paraquedista, nobre!...

Soube ontem a triste notícia de que o Ramon meteu os papéis para a reforma da escrita; não quer escrever mais, cansou-se, ficou farto dos hipócritas amigos do facebook, ficou farto dos falsos amigos e até ficou farto dos verdadeiros amigos. Ficou farto de mim próprio quando, em privado, lhe pedia para aprimorar a sua escrita e para tratar bem as palavras da língua de Camões. Ramon fartou-se de toda a gente e foi-se abaixo.

Preocupado, contactei-o, dizendo-lhe: - "Ó Ramon, estou triste contigo. Convives mal com a crítica, rapaz! Eu não sou hipócrita. As minhas críticas serviam apenas para melhorares a tua escrita. Como os entendidos acham que estás bem assim, olha, paciência..."

Passado pouco tempo recebo a resposta do Ramon.

"Como estás enganado, companheiro. Apenas optei por escrever como eu sou, sem qualificações. Acredita que, se o texto for muito corrigido e elaborado, deixo de o sentir como meu. Em relação a eu querer ter mimos, é mais ou menos isso. Fico incomodado como os heróis de sempre colocam uma foto, ou fazem um comentário e vêm logo uns milhares de fãs comentar. Foi por isso que escrevi a opinião anterior. Abç."

Li, reli e voltei a ler. O Ramon não sabe que um texto bem escrito é sempre melhor, porque quem nos lê gosta também de ler histórias bem escritas, independentemente do interesse que a história gera. O texto deixa de nos pertencer no momento em que o publicamos. Ramon não entendeu nada! Não entendeu que na escrita é como em tudo na vida. Um gajo com estatuto de importante, é importante em qualquer lado; mesmo sendo ignorante e fútil, mantém o estatuto de importante. Ainda que essa importância não seja importância de coisa nenhuma, é sempre importante. Ramon não entendeu também que precisa de escrever muito, que precisa de saber dispensar os elogios dos iliterácios, dos burros, saber destrinçar os apoios e os vivas dos oportunistas, das críticas daqueles que sempre lhe quiseram bem, porque ele conhece os que outrora o prejudicaram e que agora passam pelo seu mural, deixando lá palavrinhas mansas. 
Ramon, não adormeças, precisas de saber que podes ser um bom escritor, ou mesmo um bom contador de histórias. Ainda não sabes que na vida de escritor o caminho tem altos e baixos, mais baixos do que altos? Há momentos de desânimo, quando pressentimos que pouca gente nos lê, ou mesmo quando nos faltam ideias ou forças.

Ramon não sabe que a maioria dos Portugueses não lê nem sequer um artigo de jornal, quanto mais perderem tempo com a escrita dele ou com a minha; sente-se revoltado por ver qualquer fotografia da treta, sem nexo, postada por um imbecil qualquer, merecer milhões de elogios dos nossos camaradas. 
Ramon, vai descansar, depois voltas! Volta como um guerrilheiro, volta com as histórias reais de quem viveu a guerra por dentro, debaixo da farda de um páraquedista. Volta e conta-nos as histórias das noites boémias de Luanda, das amantes e dos orgasmos precoces, das secas que deste e das que levaste, dos teus medos, das tuas derrotas e vitórias. Ramon, vais voltar e contar, direitinho, as tuas experiências que todos nós, que gostamos de ti, vamos continuar a ler-te. 

Depois disso, então põe os papéis para a reforma e vai descansar com os poetas pescando carpas, rezando para que o Toni Rebelo pesque apenas petingas. Como dizia alguém - "Se escreveres sobre pesca aí vamos ter que dar um desconto no tamanho dos peixes".

Adérito Barbosa in olhosemlente

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

FRENESIM



Tenho a percepção
Que Isto vai ser uma complicação,
Quando tocarmos os dois o mesmo diapasão
Não faremos objecção
Grande será a fornicação!
Para ti, Mirita Casimiro, estou em concessão
Sempre tive a obsessão
Mas não falei na Constituição.
Ao Senhor pedi redenção
E à polícia intervenção
Mas olha que vai haver retaliação
Disso ninguém fez menção.
Sobre mim caiu a suspeição
De qual era a minha religião.
Folha de rescisão na mão
Eu já sabia de antemão
Que na cabeça deles tinham essa concepção
Fizeram mitigação…
Nos colhões sinto comichão
Raio do chato fez intromissão
O médico passou a prescrição
O governante grita massificação,
Institucionalização do poder,
Moção conversa da oposição
Mansidão! diz o Ambrósio.
Ambrósio tem convicção
Que o povo sofre de obstipação, usurpação, abstenção
E impuseram sanção
Não querem saber da subversão
Todos sofrem da disfunção
Mas ninguém quer ser canastrão
O pai não é o padre, mas é o sacristão!
País em recessão
Tudo não passa da socialização
Alusão, insubordinação, obstinação
Coacção é coisa a que nos sujeitam
Inclusão de pobre na vida de rico
Ó rapaz, o que é isso de ser Cristão?
Não assino a petição
Tens muita persecução, és fodilhão
Mas não tens noção, não senhor!
O que eu quero é oração
Ponderação, abstracção
Segregação de raças
Crítica e depreciação
Qual é, óh meu, onde está a rectidão?
Se morreu, temos consternação
Se casou, há emancipação
Sexo, algemas, chibata, submissão
Mas eu sou um pagão
Sem constipação
E o juiz leu o acórdão
Numa de repressão
Fanfarrão cagão!
Definição de uma proposição é afirmação
Da deterioração da compreensão
Mas quem não lhes tem aversão
Lei, legislação, promulgação
É tudo uma questão de parametrização;
Sem haver conclusão
Dão opinião
O que querem é projecção
Das raças que convivem sem discriminação
Inserção social, deflagração da bomba
Vamos mas é cumprir a missão!
Gosto do vinho, sou escansão.
Cheiro a ratos? Já p´ra desinfestação
Etelvina, põe-te na justaposição
Que vais fazer prova de aferição Porque eu já não sinto tesão
De viver
Neste frenesim…


Adérito Barbosa in olhosemlente

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Florbela Espanca, Correspondência (1916)




"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinteressada delas. Eu sou ao contrário: o tempo passa e a afeição vai crescendo, morrendo apenas quando a ingratidão e a maldade a fizerem morrer".

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

in olhosemlente

Fernando Pessoa 80 anos depois da morte





"...tanto assim que decidiu morrer injustamente na flor da idade, aos 47 anos, imagine-se. Um momento antes de acabar pediu que lhe dessem os óculos: “Dá-me os óculos” foram as suas últimas e formais palavras. Até hoje nunca ninguém se interessou por saber para que os queria ele




"80 ANOS DA MORTE DE FERNANDO PESSOA

Fernando António Nogueira Pessoa, nasceu em Lisboa no dia 13 de junho de 1888. Faleceu em Lisboa em 30 de novembro de 1935.
Foi poeta, escritor, crítico e tradutor. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa.
Enquanto poeta, escreveu sobre múltiplas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro –, sendo estes últimos objeto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra.

Sobre Fernando Pessoa

Era um homem que sabia idiomas e fazia versos. Ganhou o pão e o vinho pondo palavras no lugar de palavras, fez versos como os versos se fazem, como se fosse a primeira vez. Começou por se chamar Fernando, pessoa como toda a gente. Um dia lembrou-se de anunciar o aparecimento iminente de um super-Camões, um camões muito maior que o antigo, mas, sendo uma pessoa conhecidamente discreta, que soía andar pelos Douradores de gabardina clara, gravata de lacinho e chapéu sem plumas, não disse que o super-Camões era ele próprio. Afinal, um super-Camões não vai além de ser um camões maior, e ele estava de reserva para ser Fernando Pessoas, fenómeno nunca visto antes em Portugal. Naturalmente, a sua vida era feita de dias, e dos dias sabemos nós que são iguais mas não se repetem, por isso não surpreende que em um desses, ao passar Fernando diante de um espelho, nele tivesse percebido, de relance, outra pessoa. Pensou que havia sido mais uma ilusão de óptica, das que sempre estão a acontecer sem que lhes prestemos atenção, ou que o último copo de aguardente lhe assentara mal no fígado e na cabeça, mas, à cautela, deu um passo atrás para confirmar se, como é voz corrente, os espelhos não se enganam quando mostram. Pelo menos este tinha-se enganado: havia um homem a olhar de dentro do espelho, e esse homem não era Fernando Pessoa. Era até um pouco mais baixo, tinha a cara a puxar para o moreno, toda ela rapada. Com um movimento inconsciente, Fernando levou a mão ao lábio superior, depois respirou fundo com infantil alívio, o bigode estava lá. Muita coisa se pode esperar de figuras que apareçam nos espelhos, menos que falem. E porque estes, Fernando e a imagem que não era a sua, não iriam ficar ali eternamente a olhar-se, Fernando Pessoa disse: “Chamo-me Ricardo Reis”. O outro sorriu, assentiu com a cabeça e desapareceu. Durante um momento, o espelho ficou vazio, nu, mas logo a seguir outra imagem surgiu, a de um homem magro, pálido, com aspecto de quem não vai ter muita vida para viver. A Fernando pareceu-lhe que este deveria ter sido o primeiro, porém não fez qualquer comentário, só disse: “Chamo-me Alberto Caeiro”. O outro não sorriu, acenou apenas, frouxamente, concordando, e foi-se embora. Fernando Pessoa deixou-se ficar à espera, sempre tinha ouvido dizer que não há duas sem três. A terceira figura tardou uns segundos, era um homem daqueles que exibem saúde para dar e vender, com o ar inconfundível de engenheiro diplomado em Inglaterra. Fernando disse: “Chamo-me Álvaro de Campos”, mas desta vez não esperou que a imagem desaparecesse do espelho, afastou-se ele, provavelmente tinha-se cansado de ter sido tantos em tão pouco tempo. Nessa noite, madrugada alta, Fernando Pessoa acordou a pensar se o tal Álvaro de Campos teria ficado no espelho. Levantou-se, e o que estava lá era a sua própria cara. Disse então: “Chamo-me Bernardo Soares”, e voltou para a cama. Foi depois destes nomes e alguns mais que Fernando achou que era hora de ser também ele ridículo e escreveu as cartas de amor mais ridículas do mundo. Quando já ia muito adiantado nos trabalhos de tradução e poesia, morreu. Os amigos diziam-lhe que tinha um grande futuro na sua frente, mas ele não deve ter acreditado, tanto assim que decidiu morrer injustamente na flor da idade, aos 47 anos, imagine-se. Um momento antes de acabar pediu que lhe dessem os óculos: “Dá-me os óculos” foram as suas últimas e formais palavras. Até hoje nunca ninguém se interessou por saber para que os queria ele, assim se vêm ignorando ou desprezando as últimas vontades dos moribundos, mas parece bastante plausível que a sua intenção fosse olhar-se num espelho para saber quem finalmente lá estava. Não lhe deu tempo a parca. Aliás, nem espelho havia no quarto. Este Fernando Pessoa nunca chegou a ter verdadeiramente a certeza de quem era, mas por causa dessa dúvida é que nós vamos conseguindo saber um pouco mais quem somos.

José Saramago, "Cadernos de Lanzarote" São Paulo: Companhia das Letras, 1997

in olhosemlente


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

PONTE DOS AFECTOS



No dia em que souberes  o destino
E ninguém souber o caminho
Segreda-me com carícias esquecidas,
Vamos atravessar a ponte dos afectos
E beijarmo-nos  no jardim dos cardos
Há sinais da libido,
Menu que a  imaginação quer
Transformar na razão

Está-se bem assim...
Hum, vai ser bom de mais
Sentirmos morrer por nós
Um homem sem segredos sente só
Quando o certo se torna errado
É melhor agarrar os fantasmas
O amor veio para ficar
Ninguém pôs a mesa para o jantar
Foi sonho de ontem esquecido na escuridão.

Juro, nunca contei nada ao futuro
Todos esqueceram rápidamente
Os fantasmas do passado
E o amor que era para durar
Nunca pensou dormir sozinho no escuro!
Jura que não crucificas a razão
Quando dizes que não sabes
Se queres ficar comigo!

Aderito Barbosa in olhosemlente

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Obrigado!


Eu te agradeço por tudo o que os teus filhos nos tem feito.
Eu te agradeço por tudo a que nos tens sujeitado. Eu te agradeço pela crise, pela ganância de alguns, pelas injustiça social, pela política que fazes sempre a favor dos ricos.
Eu te agradeço por tudo. E mais ó Portugal, eu te peço perdão pelas bocas que mandei há uns tempos injustamente contra o nosso governo, contra a forma salazarenta e bafienta como a justiça portuguesa funciona. Hoje no jornal das 14h00 da CMTV, um personagem representante do sindicato dos polícias, ainda não cansado de pôr em causa durante toda a manhã a táctica e o excesso de meios que os franceses utilizaram no assalto ao apartamento; local onde se encontravam os hipotéticos terroristas, ainda teve o discernimento de dizer que a polícia portuguesa é das polícias mais bem preparada do mundo para
lidar com casos de terrorismo. Perguntado quantos efectivos especializados tem essa força, respondeu: - não posso revelar!.

Adérito Barbosa. in olhosemlente

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Só não entendeu o toque do Daniel Pinéu quem não quis.

Só não entendeu o toque do Daniel Pinéu quem não quis.

Vi o programa do Daniel Pinéu na SIC, tecendo comentários a propósito dos ataques de Paris e afirmando, entre outras coisas, que a lavagem ao cérebro que o estado islâmico faz aos seus aderentes é igual à que o exército português faz aos jovens de 17 anos, geralmente filhos da classe média baixa e baixa.
O Daniel Pinéu sabe, como eu sei, que os cabecilhas do estado islâmico eram oficiais do exército de Saddam, outrora alunos da doutrina americana. Eles também estudaram subversão pelo mesmo manual por onde eu estudei no meu CFS. São lamentáveis os actos de terror tanto em Paris como em Espanha, tanto em Beirute como no avião russo que caiu no Sinai. À luz da doutrina militar, estes atentados são actos subversivos.
Por isso entendi o que o Pinéu quis dizer. Alguém, habilmente, tirou a conversa do contexto, manipulou-a e lançou-a para a discussão, para angariar simpatia. No meu tempo, salvo algumas excepções, os filhos da classe alta e média alta e alguns pobres (poucos) seguiam para as faculdades e tiravam cursos de medicina, engenharia, direito, arquitectura, etc. Os filhos da classe média, média baixa e dos pobres, salvo algumas excepções, seguiam na sua maioria para os correios, para as fábricas, para a lavoura, para a GNR e PSP,  ou  ofereciam-se como  voluntários para as forças especiais das Forças  Armadas, como era o caso dos paraquedistas e ainda havia outros que não seguiam para coisa nenhuma. 
Era esta a realidade da sociedade portuguesa do meu tempo no que diz respeito aos jovens.
Havia alguns, os filhos aburguesados de oficiais, que viram uma passadeira de relva verde nos paraquedistas, estendida, expressamente, para eles. Entravam para o CGM, donde saiam, em média, 6 a 8 aspirantes, num universo de 60. Tantos aspirantes quantos os filhos de oficiais daquele contingente. Há casos raros de filhos de oficiais terem saído furriéis, tal como a maioria da turma a isso estava condenada; a coincidência era que esses sete ou oito aspirantes, filhos de oficiais, mais tarde já como tenentes milicianos, iam frequentar o CFO e regressavam oficiais SG.
Se não me falha a verdade, no exército essa premissa existia para permitir que os sargentos pudessem progredir para a classe de oficiais. Ora aqui é que está a tramóia. Os oficiais SG, que estão indignados com o Sr. Pinéu, deveriam ter ficado indignados, quando eles ocuparam, ilegitimamente, as vagas dos sargentos. O que ele, Pinéu, não disse, se calhar porque não sabe, é que nos páras aquilo era um ninho de promoção a oficial, sobretudo para os filhos dos oficiais, de forma enviesada e muitíssimo pouco clara. 
Foi a isto que assisti e que vi, entre 1979 e 1991. Foi isso que os nossos camaradas nunca viram ou não quiseram ver ou não souberam ver.

Adérito Barbosa in olhosemlente


domingo, 15 de novembro de 2015

Angústia em Paris

Angústia em Paris

Ó abridores de portas a quem tem escárnio por nós, sabem como eu me sinto?
Ó ocidente inventor da primavera árabe, que decapitaste os líderes árabes, o que tens para me contar?
Ó brisa que passas com odor a sangue de inocentes, sabes como eu me sinto!
Choro de Paris, na noite de ontem, do amanhecer da Estação de Atocha, do Metro de Londres, do Bataclan, de Nova York, do Charlie, de maratona de Boston e de outros locais fazem-me sentir muito mal.
Tolerância a mais, faz-me sentir mal e eu nada ser capaz de fazer. Resta-me ficar de luto por aqueles que morreram por nada.


Adérito Barbosa in olhosemlente

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Depois conto-vos como foi

12 de novembro, dia soalheiro. Um autêntico dia de verão.

Maré baixa, rochas a praticar nudismo; há cheiro a entranhas das rochas e a maresia. É como se o mar tivesse transpirado todo o seu suor de uma só vez e agora se lembrasse de pôr os sovacos ao ar livre; o cheiro a sovaco do mar vem e vai com a brisa fresca. O sol está baixo como o mar. Parece que combinaram ir-se embora juntos. Assim como vejo as águas longe, também vejo que o sol está de olhos postos lá para o outro lado do horizonte, deitado a dezoito metros da altura da linha d'água. Não, não pensem que estou num fim de tarde, não! O relógio marca 9H59 da manhã e é quinta feira. Hoje tive alta médica. O médico considerou-me apto e clinicamente curado da intervenção cirúrgica a que me submeteu em Julho; foram quatro meses terríveis de recuperação.

Foi aqui, neste sítio tranquilo, que ao longo destes meses andei de bicicleta, ou a pé, quase todos os dias, por ser um sítio plano, por não haver carros e com isso evitar ganhar peso. Sei que não é permitido andar-se de bicicleta aqui a determinadas horas e, por isso mesmo, alguns dos polícias que zelam pela segurança daqueles que fazem footing, ainda me fizeram alguns auto-stop.

Nessas operações de auto-stop não pedem documentação. Umas vezes dizem que não ê permitido andar de bicicleta, outras vezes perguntam se não vi a tabuleta de proibição e outras passa-se por eles e não dizem nada. Sempre que fui abordado refilei, dizendo que não tenho outro sítio para andar, ao que eles ripostavam sempre:
- Ande na estrada, ou nas picadas, ou nos jardins.
- Eu não posso andar de bicicleta na estrada, porque posso levar uma traulitada de algum carro e nas picadas também não posso, porque acabei de ser operado pela 4ª vez à coluna, logo, não posso sujeitar a minha coluna a grandes solavancos; mostrava-lhes então a cicatriz ainda fresca da costura e o inchaço que ainda ostento no sítio onde o bisturi do médico cortou sem piedade aquela zona, naquela tarde do dia 15 de Julho.
- Eh pá, essa costura é grande; isso está alto que se farta; isso não vai baixar? Isso dói? Perguntavam os polícias.
- Não, isso aí não vai baixar nunca mais; não vai baixar porque aí debaixo estão uns parafusos e uns travessões em titânio, que me colocaram para fixar as vértebras uma à outra.
- Você está lixado com isso! Onde é que arranjou essa brincadeira? Perguntou um dos agentes mais afoito.
- Eh pá, isto foi nos Páras.
- Você é militar? O pára-quedas não abriu, foi? Perguntava, curioso, um dos agentes.
Depois de responder afirmativamente que sim, que era militar, expliquei que, se o para-quedas não tivesse aberto, a esta hora já eu estava a fazer tijolo há muito. Então, contei aos recentes amigos da PSP DE OEIRAS que sofri um acidente em para-quedas em 91, quando ainda era um jovem e tinha apenas 35 anos. Daí para cá, já somei quatro intervenções à coluna, sem contar com as outras ao joelho, aos testículos e ao braço.
 - Um martírio!... desabafei.
Os agentes, todos eles jovens e já sensibilizados, abanavam o esqueleto como quem diz: - Você está fodido!
No decorrer da conversa, dizia um deles que o que gostava mesmo era de ter sido paraquedista; outro comentava que aquilo é que era tropa a sério, enquanto outro acrescentava:
- Eu nem pensar, saltar de avião nem empurrado!!
Contei-lhes que era DFA e passei a contar com a compreensão e simpatia dos nossos agentes da PSP que passaram a fazer vista grossa, quando me viam andar de bicicleta aqui no Passeio Marítimo de Oeiras.
 Passados estes anos, ainda ando a caminho dos hospitais. Estou a ser seguido no Hospital da Luz. Quando telefonei para o Hospital das Forças Armadas, para marcar uma consulta de neurocirurgia, como sempre fiz, quando aquela coisa era Hospital da Força Aérea, do outro lado da linha alguém respondeu, para meu espanto, que não podia marcar consulta para essa especialidade, porque eu teria que lá ir falar com o Chefe dos Serviços de Neurocirurgia. 
- O quê!?... Eu tenho que ir ao hospital falar com quem!? Peguei em mim, liguei para o Hospital da Luz, marquei a consulta e 30 dias depois já estava operado e em casa a recuperar.
Passei hà dias no Estado Maior da Força Aérea em Alfragide e fui à Secção de Justiça e Disciplina para me inteirar das papeladas necessárias para reabrir o meu processo. O TCOR Domingos, um dinossauro da justiça da FAP (no meu tempo, era ele em Alfragide e eu em Tancos, quais homólogos justiceiros), recebeu-me com parcimónia. O engraçado é que se lembrava perfeitamente do meu processo. Deu-me as indicações dos passos que tinha que dar.
Na sequência disso, hoje liguei para o hospital, à semelhança do que fiz há  quatro meses e pedi para marcar uma consulta de neurocirurgia; esclareci que sou DFA, blá, blá, blá e que o meu objectivo era mostrar os exames e o resultado da cirurgia e que pretendia reabrir o meu processo, blá, blá, blá por aí fora. A resposta foi esta:
 - Não podemos marcar consulta de neurocirurgia. O Sr. tem que vir ao hospital falar com o chefe dos serviços de neurocirurgia.
No dia 19 vou ao Hospital das Forças Armadas; pelo cheiro da coisa, fiquei com a impressão que esta instituição tresanda à fragrância de uma cavalariça.
Enquanto isso, vou saboreando o prazer que o Passeio Marítimo de Oeiras oferece aos seus munícipes, inalando aqui e acolá esta maresia e escutando os açoites que as ondas dão às rochas, quais submissas sexuais.
"Na tropa, quando há um acidente, o acidentado é o primeiro a perder. E quando se ganha alguma coisa, o acidentado é o primeiro a não ganhar".

Vou ver se isso é verdade, depois conto-vos como foi.

Adérito Barbosa in olhosemlente

domingo, 8 de novembro de 2015

Não quero cá os pseudo-refugiados!

Assim como eles não querem a Lady Gaga na terra deles, eu também não quero cá os pseudo-refugiados!

Os muçulmanos chegaram a Portugal felizes e de Burka enfiada na cabeça. Vi e ouvi os discursos de Presidentes de Câmara, de presidentes de associações em apoio aos coitadinhos e de outros tantos paneleirotes. Os pseudo-refugiados tinham a sua espera apartamentos novos.
A esses anormais peço que façam uma visita por volta da meia noite à Estação Gare do Oriente  e lá encontram refugiados portugueses que ninguém quer saber e que o nosso governo nunca viu ou finge não ver.
A chegada destes oportunistas podia passar despercebida, se não tivesse dado conta que algumas mulheres traziam Burka enfiada na cabeça. Eu pergunto: - e as mulheres ocidentais podem usar mini-saia na terra deles?

Caros amigos:
- Os muçulmanos não estão felizes na Síria, nem na Cisjordânia, nem em Gaza, nem em Jerusalém, nem em Israel, nem no Egito, nem na Líbia e nem na Argélia.
Também não estão felizes em Tunis, nem em Marrocos,
nem no Iêmen, nem no Iraque,
nem  no Afeganistão, nem  no Líbano nem  no Sudão nem na Jordânia e nem no Irão

Onde é que os muçulmanos  se sentem  felizes afinal?

Eles estão felizes na Inglaterra, França, Itália, Alemanha.
Portugal, Suécia, Holanda. Dinamarca, Bélgica, Noruega., U.S.A, Canadá, Roménia, Hungria, Austrália ou Nova Zelândia.
Eles os muçulmanos estão felizes em qualquer  país do mundo que não seja muçulmano, onde possam viver livremente, onde são  tratados como lords e não precisam de trabalhar. Adoram viver nos países católicos ocidentais que eles não toleram.
Eles aproveitam a alta qualidade de vida desses países ocidentais que eles não construíram e
nem trabalharam para ter. Podem manter seus costumes,
desobedecem às leis, exploram os serviços sociais. Os muçulmanos são especialista em morder a mão que os alimenta. Exploraram as redes sociais como ninguém. Fazem guerra sem farda, e não têm problemas em utilizar crianças e hospitais como escudo.
Curiosidade: De tantos naufrágios no Mediterrâneo os telemóveis e os iPad dos refugiados esses nunca foram ao fundo.
Também constacto  que nas guerras deles nunca se viu um combatente morto só se vêm crianças mortas!
Eu adoro muçulmanos mas, lá na terra deles.
Assim como eles não querem Lady Gaga na terra deles eu também não os quero cá!

Adérito Barbosa in olhosemlente

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Vou de cangalho


Hei, tu aí, que lágrimas são essas?

Não contes a razão que isso não interessa para nada. 

Está na hora de acabar com o choro e começar a revolta.

Não me contes nem nem uma vírgula da tua vida

Porque não preciso saber do assunto!
Vamos falar de coisas bonitas
Das boas e das más notícias                                                                                         
Das conversas da esquina ao fim da tarde.

Das  boas nada! Só das más e da nossa falta de sorte,

Da morte e da bala perdida,
Do pedido de clemência do padre para o cadáver                                                              
E ainda para o escravo que vai ser presidente.

Ninguém de nós subirá ao cadafalso, 

Mas eles sim.                                                           
Eles subirão depois da ceia.

Repara nos olhos tristes dos ratos

Que saíram do frigorífico do tio Chico
Que pena, nem queijo, nem migalhas de pão.
Levanta esse copo e faz comigo um brinde,
Um brinde aos idiotas.

É urgente colocar a corda no pescoço desses abutres.

Os direitos deles acabam onde começam os nossos,                                                         
Mas quando é que acabam os direitos deles?
Escuta o gemido! Consegues ouvir?!

Pois é, são gemidos do povo moribundo a ser copulado à força toda 

Porque ainda ele esperneia
Não vai ter o orgasmo não, está a sentir dores
Porém vai continuar a pagar para ser sodomizado                                                             
Até ao dia do seu finado.

Vai pagar impostos, taxas, internet, TV

Comida, água, alcatrão, casa, esgotos e Edp
Carro, bicicleta, brinquedos, colégios                                                                               
A teta a secar e eles a chupar. 

Em forma de agradecimento vai votar todo contente,                                                      

Alguém lhe mentiu dizendo que o voto é a sua arma. 
A mim quiseram mostrar-me o caixão para a viagem 
Todavia recusei!

Preferi escolher um cangalho…                                                                                         

Assim falarei com o cangalheiro pelo caminho                                                                  
E tenho a certeza que comigo levarei as minhas ideias.





Adérito Barbosa in olhosemlente



domingo, 1 de novembro de 2015

Vá lá um gajo compreender certas merdas!

   
Um irmão meu dizia-me um dia: "Ele acontece cada coisa… e eu sem culpa nenhuma.” É isso mesmo; há coisas do catano que acontecem… e nós sem culpa nenhuma.
“A Organização Mundial de Saúde alerta para os perigos da carne vermelha"
Não entendo nada disto! O meu avô comeu carne salgada desde pequenino; comeu carnes vermelhas, brancas, amarelas, deu grandes voltas nos enchidos e nos fumeiros e viveu cerca de cem anos. A minha avó seguiu-lhe os passos e atravessou quase cem anos numa boa. Ah, é verdade, ambos morreram de velhice e sem uma dor de dentes.
Quando era puto, certos peixes como o carapau, o chicharro, as cavalas e as sardinhas eram conhecidos como peixe azul e, por fazerem mal à saúde, eram um petisco reservado aos pobres e aos gatos dos ricos. 
Depois, não sei por que carga d'água, mudaram de ideias. Disseram que esses peixes eram ricos em montes de merdas e o pessoal desatou a comer sardinhas à toa. Assim, aquilo que outrora custava um tostão, passou a custar um euro e meio ou mais cada, sobretudo nas festas de Santo António.  
Seguidamente, as carnes brancas foram acusadas de provocar ácido úrico; a carne de aves passou a ter estatuto de comida de pobre; o rico nunca mais quis ouvir falar no assunto, deixou esse privilégio aos pobres e as churrasqueiras ganharam vida.
Com o sacana do bacalhau é que a coisa foi mais complicada de gerir. Aí, o pobre esteve-se nas tintas para os preconceitos dos ricos e não abriu mão do fiel amigo; tritura-o taco a taco com o rico, apesar de o rico só comer bacalhau asa branca, enquanto as suas mulheres usam calcinhas fio dental. Em contrapartida, o pobre não consegue chegar à asa branca e fica pelo graúdo, mas vê as suas mulheres usar calcinhas asa delta. Uns comem asa branca, outros comem asa delta. É justo!
Todavia, há muito que discuto, com uma admiradora minha, que a dentuça da malta não foi concebida para comer carne. A nossa dentuça é praticamente igual às dentuças dos burros, dos cavalos, das cabras, ou seja, de todos os ruminantes. Para nós chegava bem ter pastos, palha, favas e milho. Mas como não vamos em tretas, aprendemos a fazer batota. Arranjámos um estratagema dos diabos para comer carne, coisa que estava reservada somente aos animais felinos com caninos grandes, tipo tigres e leões, às aves de rapina como as águias, ou ainda aos necrófagos como os abutres.
Como ia dizendo, com o truque do fogo o pessoal passou a comer carne. Acontece que os animais que comem carne naturalmente nunca a cozinharam. 
Carne cozinhada não recomendo!...
Bem, regressemos ao que interessa. 
Gosto particularmente de presunto, de chouriço e de bifes do todo o género. Gosto de febras, de pezinhos de coentrada e de torresmos também. Hummm… os torresmos do meu avô, do Rui Vaz, no Pico de Antónia, onde o homem viveu até se cansar, eram uma coisa do outro mundo!
Agora chegou a vez de o pobre se vingar. A carne de vaca que até agora só provocou cancro nos ricos, vai ficar com o estatuto que as sardinhas tinham há cinquenta anos. Ou seja, o preço vai baixar, porque o rico vai cagar para as carnes vermelhas. Acho bem que seja agora a vez do pobre apanhar cancro nos intestinos.
Surge aqui uma janela de oportunidade para o pobre matar a barriga de misérias. Vai haver nas casas da maioria dos Portugueses grelhados de todos os géneros, a torto e a direito, à fartazana.
Costeletas de novilho, bife da vazia, pernil no forno… até o prior vai ficar sem o seu bifinho (entenda-se lombinhos) na brasa.
O rico, que se foda! Se quiser fugir das carnes vermelhas, que coma agora o coelho e o frango injectados com hormonas e assim os tipos ricos ficam, para saberem como elas mordem.
Eu vou continuar a comer carne crua vermelha, quando me deixarem, como sempre fiz com muito agrado.
Qualquer dia é a vez das lagostas!
Fazem-me lembrar a conversa do buraco de ozono . por enquanto prefiro conversar sobre buracos vermelhos.

Adérito Barbosa in olhosemlente

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Aos meus amigos

                                       
Amigos,

Eu tenho uma sensação no fundo da minha alma que não posso perder os meus amigos.
Estou feliz por alguns terem ficado comigo e ver lugares vazios no comboio que partiu à meia-noite, onde seguiram alguns pulhas.
E agora que estou longe daqueles que não fazem falta, encaro o desafio de não me esquecer dos que ficaram, contar-lhes o meu caso, viajar com eles por todos os poemas e prosas. Fazer deles personagens dos meus romances, vesti-los de histórias onde o amor venceu, torná-los amantes e mencionar no prefácio o nome exacto de cada um e dizer-lhes que o tempo passou por mim e não dei conta.
Sempre quis marcar rumo no mapa qual batoteiro, para depois fazer atalhos para chegar não sei onde mais depressa do que a pressa e mais, muito mais eu fiz!...
Em certos momentos, tive a certeza de que os meus amigos sabiam que eu andava às voltas como uma mó, esperaram por mim sem exitar que eu encontrasse o caminho.
Pelo caminho, amei, desamei, cantei, chorei e ri-me. Cometi as minhas falhas e tive a minha parte nas derrotas. Agora, sem muita timidez, vou escrever para os meus amigos, vou dar-lhes a voz nos meus escritos e esperar que ganhem vida para os aplaudir nos sonhos e assim torná-los poetas.
E a quem sirvo afinal senão a mim mesmo? Não tenho nada! As coisas que sinto de verdade não são palavras de alguém de joelhos, mas sim de quem está sentado, acordado à procura da sensatez e da perfeição da escrita.
O coração que trago no peito tem as cicatrizes das pancadas que levei na vida.
Dos amigos verdadeiros nunca levei um arranhão. Eu pensava que o mundo era plano, afinal parece uma abóbora. Como é estranho andar em contra mão no meio da multidão...
Deixem-me por os óculos para ver bem a noite por dentro. Sinto o zumbido de um pião a girar no espaço. Quem o agarra? O pião está confuso! - nas noites de sábado tudo gira ao contrário é sempre assim
O meu coração que é de silício e está quente quer ter a visão de um bilhão de velas a arder. Não sei quem vai ganhar; o que eu sei é que nas noites de domingo todas as estrelas cintilam para os meus amigos.
- Um amigo pode não valer nada, mas nada vale mais que um amigo!


Adérito Barbosa in olhosemlente

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Tudo quanto preciso

                                          Tudo quanto preciso

Nas manhãs de chuva como a de hoje, preciso de um pacemaker com pilhas que me faça o coração bater por mais algum tempo, o tempo que for preciso para ver chegar o dia e assim, sair desta solidão estúpida que me invade a alma. Preciso de uma lâmpada de luz fria enroscada no cérebro que me mostre um caminho. Preciso sentir sede para saciar os sabores que desconheço, de um carvão para sombrear nas paredes do céu os teus contornos como eu os imagino.

Preciso de uma régua e de um esquadro para projectar o perfil da tua cintura numa sombra e, ainda de uma lupa para analisar os poros da tua pele. Preciso dormir com tempo a teu lado, acordar cansado nas manhãs de chuva e entender o porquê de tudo ser assim. Preciso de Calcitrin e Cálcio+, para desenferrujar os ossos, preciso que me deitem as cartas para concluir que na vida a opção de excluir o histórico da minha vida não existe. Preciso de aprender a não gostar de alguém vazio de sentimentos. Preciso de viver devagar com tempo para entender as mágoas dos poetas. Preciso do teu sorriso por detrás do pavio de uma vela. Preciso que me pegues na mão e que me digas: - Precisas de mim? Eu estou aqui!

Adérito Barbosa in olhosemlente

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade
Como «o conto do vigário».



Contado por Fernando Pessoa


"Vivia há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.
Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa. Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.» «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos negociantes de gado como ele a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem.
Houve então a troca de outro olhar.
O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um recibo de bêbedo, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e «estando nós a jantar (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbedo...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira... E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.
Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário «nem eu estava tão bêbedo que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi mandado em paz.
O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.
Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.

(publicado pela primeira vez no diário Sol, Lisboa, ano I, nº 1, de 30/10/1926, com o título de «Um Grande Português». Foi publicado depois no Notícias Ilustrado, 2ª série, Lisboa, 18/08/1929, com o título de «A Origem do Conto do Vigário"

Adérito Barbosa in olhosemlente

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Bashar al-Assad já se safou

Bashar al-Assad já se safou

O ocidente não vai conseguir derrubar Bashar al-Assad como fez com outros líderes árabes.
Com a chegada dos caças J15 chineses ao conflito sírio fica demostrado que Bashar al-Assad tem amigos de peso!
A China colocou os caças bombardeiros J-15 à disposição dos governos sírio e iraquiano para ampliar a campanha aérea contra o Estado Islâmico.
A coligação  liderada pela Rússia, conta agora com cinco países e um pião: - Rússia, China, Irão Iraque, Síria e Hezbollah.

Os aviões J-15, irão partir do porta-aviões chinês Liaoning-CV-16, que está ancorado na costa síria, concretamente na base naval russa de Tartus desde o dia 26 de setembro 2915.
O Ministro das Relações Exteriores chinês , Wang Yi afirmou, na reunião do Conselho de Segurança da ONU: - “o mundo não pode dar-se ao luxo de ficar parado e olhar em frente de braços cruzados,”.
O Iraque decidiu que a Força Aérea Russa pode usar a Base Aérea de Al Taqaddum em Habbaniyah, que fica 74 km a oeste de Bagda, ficando assim aberto um corredor aéreo Russo-Sírio. Com isto a Rússia ganhou  um enclave militar no Iraque e Bashar al-Assad pode dormir sossegado.

Adérito Barbosa in olhosemlente

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Um pouco de história…

Um pouco de história…

A República em Portugal foi instaurada, a 5 de outubro de 1910. Após vários anos de confusão política - mortes, tiros, pontapés, facadas, crises financeiras e tourada com o envio de militares mal equipados para a primeira Guerra Mundial, foi fósforo e gasolina nas mãos de um pirómano.
Com o descontentamento, o Exército tomou o poder em 1926. O regime militar nomeou ministro das Finanças António de Oliveira Salazar em 1928. Professor da Universidade de Coimbra, homem austero e muito poupadinho. Foi nomeado mais tarde, Presidente do Conselho de Ministros.
Para se ter a ideia de quão furreta era o homem: - ele só entregava um quinto do vencimento à empregada doméstica e o restante ia para o banco em nome dela.
Salazar endireitou as finanças, obrigou-me a entrar nas fileiras da Mocidade Portuguesa impôs o Estado Novo, regime autoritário, de partido único e sindicatos estatais. Assim ficámos com o nosso fascismo.
O homem bateu o badagaio quando caiu da cadeira em 1968.
Em 1974 o pessoal pôs-se a contar espingardas e numa noite friorenta de abril, acabaram com a ditadura do fascismo e impuseram à gente a ditadura da democracia.
- Era aqui que eu queria chegar. Ouvi dizer que o presidente da República Portuguesa não apareceu na cerimónia do dia 5 de outubro, porque estava a trabalhar sobre o resultado das eleições. Não entendo: - ele uns dias antes disse que estava preparado para responder a qualquer resultado ou a qualquer cenário.
Portugal um país Republicano, com um presidente eleito segundo os valores da República, que aufere como um republicano e está-se nas tintas para a república. Ahahahahah
Agora já entendo porque é que ele hasteou a Bandeira Nacional de pernas para o ar.

Adérito Barbosa in olhosemlente

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Caro Comendador Conde das Américas

Caro Comendador Conde das Américas, Antero Barbosa:


Segue relatório da visita dos Condes da Praia.
Como previsto, a nossa prima Condessa da Praia, Magda Barbosa Vicente, está neste momento em Lisboa, no gozo das suas merecidas férias em família.
Do que me foi dado observar, os membros da família encontram-se bem de saúde e perfeitamente adaptados ao clima, como comprova a foto que junto.
Do programa constava uma visita de cortesia da nossa prima Magda Barbosa Vicente ao meu palácio de Oeiras.
Oferecemos um jantar de boas vindas aos Condes da Praia e não pude esconder o evento do tal Conde de Lisboa, de que, agora, não digo o nome. Esse Conde, o tal de Lisboa de que, agora, não digo o nome, fez-se acompanhar da Condessa Clara Lopes e na bagagem trouxe uma garrafa de vinho,  colheita de 83.
Que pomada… Sr. Comendador Antero!  Nem imagina V. Senhoria o que aconteceu à garrafa. Esperei oito dias e abri-a. É pena que o tal de Lisboa tenha trazido só uma.
Bem, voltemos aos Condes da Praia. Como decerto V.Ex.ª saberá, dentro dos costumes, ainda decorrem as festas do meu aniversário durante o mês de Agosto.
Para os Condes da Praia, mandei matar dois coelhos enormes que mais pareciam touros. Eu próprio fiz questão de ajudar na sua confecção e preparar tudo para tão ilustres comensais.
Aconteceu uma coisa que ia descambando num incidente diplomático.
A Condessa Magda Barbosa Vicente não come carne. Os filhos, quando souberam que era coelho ao jantar, desataram a chorar baba e ranho com pena dos roedores do prado que serviam de base ao cardápio da ceia. Veja só o que o "Coelho no forno", petisco muito apreciado nesta época cinegética, provocou de comiseração e compaixão pelos animais!
Conseguiu-se ultrapassar tal contratempo e acabaram todos por degustar o coelho, que, passe a modéstia, estava divinal, bem como outros petiscos incluídos no cardápio da noite.
O Conde de Lisboa não me deu nenhuma seca, mas revelou alguma agressividade pouco comum para comigo. Desconfio que se deveu aos artigos que publico no semanário e ao facto de que alguns habitantes intocáveis da ilha, pouco dados ao contraditório, não gostam e passam as dores deles para o Conde. Ele até me chamou de manipulador de opinião. Não disse mais nada, mas deixou bem clara a sua indignação. Fingi que não estava a entender e o assunto para mim morreu aí, mas estou certo que, para ele, as dores vão continuar por mais algum tempo.
Deslocámo-nos a outros aposentos do palácio, designadamente ao salão de chá, fumámos uns charutos cubanos e passeámos pelos claustros e jardins.
Ontem dia 2, a Condessa Beti embirrou que queria oferecer um jantar no Casino do Estoril aos nossos primos da Praia.
Mandei preparar um jantar com espectáculo e tudo.
Tive muita dificuldade em gerir tantos amigos que fizeram questão de vir cumprimentar a Condessa Magda Barbosa Vicente e os restantes primos ilhéus.
Devido ao número elevado de participantes, resolvi promover dois concertos. Um desenrolou-se no salão Preto e Prata, onde só puderam entrar os nossos primos mais chegados das casas nobres europeias, para ali assistirem ao espectáculo  "A Noite Das Mil E Uma Estrelas", encenado pelo mariconso do “La Féria”
Para os outros primos mais afastados que quiseram ver a Condessa Magda Barbosa Vicente e que rumaram ao casino em massa, mandei abrir então um segundo concerto no salão principal, tendo pedido  ao grupo “Os Deolinda” que os presenteasse  com um concerto.
Quando saímos, a nossa prima Condessa Magda Vicente Barbosa recebeu vivas, cumprimentos, distribuiu sorrisos e simpatia a todos os presentes  e ainda teve tempo de participar num concurso.
Quanto ao marido da Condessa, Ângelo Barbosa, nosso ilustre primo, o tal que Sua Majestade, o Rei enviou para o corno de África, continua civilizado. Nem parece que vive na selva…
Cá o espero em Novembro, caro Comendador!
Quando for recebido na Casa Branca, dê recomendações e mantenhas ao nosso primo Obama.
 Abraço do primo Conde de Oeiras.

Adérito Barbosa in olhosemlente

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