poeta.adérito.barbosa.escritor.autor.escritor.artigos.opinião.política.livros.musica.curiosidades.cultura Olhosemlente

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Caro Comendador Conde das Américas

Caro Comendador Conde das Américas, Antero Barbosa:


Segue relatório da visita dos Condes da Praia.
Como previsto, a nossa prima Condessa da Praia, Magda Barbosa Vicente, está neste momento em Lisboa, no gozo das suas merecidas férias em família.
Do que me foi dado observar, os membros da família encontram-se bem de saúde e perfeitamente adaptados ao clima, como comprova a foto que junto.
Do programa constava uma visita de cortesia da nossa prima Magda Barbosa Vicente ao meu palácio de Oeiras.
Oferecemos um jantar de boas vindas aos Condes da Praia e não pude esconder o evento do tal Conde de Lisboa, de que, agora, não digo o nome. Esse Conde, o tal de Lisboa de que, agora, não digo o nome, fez-se acompanhar da Condessa Clara Lopes e na bagagem trouxe uma garrafa de vinho,  colheita de 83.
Que pomada… Sr. Comendador Antero!  Nem imagina V. Senhoria o que aconteceu à garrafa. Esperei oito dias e abri-a. É pena que o tal de Lisboa tenha trazido só uma.
Bem, voltemos aos Condes da Praia. Como decerto V.Ex.ª saberá, dentro dos costumes, ainda decorrem as festas do meu aniversário durante o mês de Agosto.
Para os Condes da Praia, mandei matar dois coelhos enormes que mais pareciam touros. Eu próprio fiz questão de ajudar na sua confecção e preparar tudo para tão ilustres comensais.
Aconteceu uma coisa que ia descambando num incidente diplomático.
A Condessa Magda Barbosa Vicente não come carne. Os filhos, quando souberam que era coelho ao jantar, desataram a chorar baba e ranho com pena dos roedores do prado que serviam de base ao cardápio da ceia. Veja só o que o "Coelho no forno", petisco muito apreciado nesta época cinegética, provocou de comiseração e compaixão pelos animais!
Conseguiu-se ultrapassar tal contratempo e acabaram todos por degustar o coelho, que, passe a modéstia, estava divinal, bem como outros petiscos incluídos no cardápio da noite.
O Conde de Lisboa não me deu nenhuma seca, mas revelou alguma agressividade pouco comum para comigo. Desconfio que se deveu aos artigos que publico no semanário e ao facto de que alguns habitantes intocáveis da ilha, pouco dados ao contraditório, não gostam e passam as dores deles para o Conde. Ele até me chamou de manipulador de opinião. Não disse mais nada, mas deixou bem clara a sua indignação. Fingi que não estava a entender e o assunto para mim morreu aí, mas estou certo que, para ele, as dores vão continuar por mais algum tempo.
Deslocámo-nos a outros aposentos do palácio, designadamente ao salão de chá, fumámos uns charutos cubanos e passeámos pelos claustros e jardins.
Ontem dia 2, a Condessa Beti embirrou que queria oferecer um jantar no Casino do Estoril aos nossos primos da Praia.
Mandei preparar um jantar com espectáculo e tudo.
Tive muita dificuldade em gerir tantos amigos que fizeram questão de vir cumprimentar a Condessa Magda Barbosa Vicente e os restantes primos ilhéus.
Devido ao número elevado de participantes, resolvi promover dois concertos. Um desenrolou-se no salão Preto e Prata, onde só puderam entrar os nossos primos mais chegados das casas nobres europeias, para ali assistirem ao espectáculo  "A Noite Das Mil E Uma Estrelas", encenado pelo mariconso do “La Féria”
Para os outros primos mais afastados que quiseram ver a Condessa Magda Barbosa Vicente e que rumaram ao casino em massa, mandei abrir então um segundo concerto no salão principal, tendo pedido  ao grupo “Os Deolinda” que os presenteasse  com um concerto.
Quando saímos, a nossa prima Condessa Magda Vicente Barbosa recebeu vivas, cumprimentos, distribuiu sorrisos e simpatia a todos os presentes  e ainda teve tempo de participar num concurso.
Quanto ao marido da Condessa, Ângelo Barbosa, nosso ilustre primo, o tal que Sua Majestade, o Rei enviou para o corno de África, continua civilizado. Nem parece que vive na selva…
Cá o espero em Novembro, caro Comendador!
Quando for recebido na Casa Branca, dê recomendações e mantenhas ao nosso primo Obama.
 Abraço do primo Conde de Oeiras.

Adérito Barbosa in olhosemlente

Sem comentários:

Enviar um comentário

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...