Contos para criancinhas
Era uma vez um
país, pequenino, que se situava na parte mais ocidental da Europa. Era tão
pequenino, tão pequenino que sonhou um dia ser grande, grande como os mais
importantes. Era um país de valorosos navegadores, de gente guerreira e de
obstinados descobridores. Naquele tempo, todos esses destemidos e valorosos
guerreiros e descobridores se foram embora do país. Uns pelo mar fora, outros
por terra, via Badajoz, Vilar Formoso ou Caminha, uns a pé, a salto, de
madrugada, com guias, outros a cavalo e outros, ainda, até de furgoneta foram.
Foram-se embora à procura de uma vida melhor. Quem ficou, então, nesse país?
Ficaram uns cobardes de quem hoje nós somos descendentes. Isso mesmo, uns
cobardes, de quem somos descendentes.
Esses cobardes não
se aventuraram a seguir os seus heróis e passaram séculos a viver das remessas
enviadas pelos seus valorosos.
O país situava-se
junto duma grande urbanização de luxo, conhecida por Europa, para onde tinham
ido os nossos melhores. O país dos descendentes dos cobardes não conseguiu
crescer e nunca passou de um simples bairro de lata, que estragava a visibilidade aos
habitantes do condomínio Europa.
Esta, por sua vez,
vivia segundo um padrão social criado por uma civilização muito antiga
conhecida por Grécia. A Grécia foi quem fundou a civilização europeia ao abrigo
de uma tal doutrina democrática, que consistia na criação dum espaço de todas
as liberdades, de defesa dos cidadãos contra os abusos dos poderes, de
progresso social, económico e científico, de paz e de segurança comum — a que
se juntou depois a difícil tarefa de a englobar também num espaço económico
comum, sem fronteiras comerciais e cimentado numa moeda única.
A igualdade à
nascença entre os países ricos era uma realidade; contudo, a isso
sobrepuseram-se as desigualdades, com a chegada dos países pobres e dos
descendentes dos cobardes de outros tantos países pobres. Criaram então uma
coisa, a que deram o nome de sala de mercados e construíram estufas, onde
cultivam um produto a que chamam de "dívidas públicas", com diferentes regimes fiscais, de acordo com a
riqueza de cada um. Houve países que só recebiam e tinham juros negativos para
ficar com o dinheiro, enquanto outros eram sufocados com taxas que nem ao diabo
lembrariam. Com o acentuar das desigualdades, pensaram então juntar tudo -
ricos e pobres para dentro do mesmo saco. Se se pensar no ditado do povo, que
diz “junta-te aos bons e serás como eles”, a coisa já não se aplica a pobres e
ricos . Se um pobre se juntar a um rico, o resultado é que o pobre fica mais
pobre e o rico fica mais rico. Foi com base nesta lógica que os países mais
pobres, incluíndo o país dos cobardes de quem somos descendentes, entraram
naquela urbanização...
Esse país recebeu
dinheiro, coisa a que já estava habituado,
não cresceu, mas também não fez nada para isso; enfiou a cabeça, cada
vez mais, no vespeiro alemão e ali foi gaseado; hoje assume e até repete,
melhor que qualquer autómato programável, os ideais alemães como uns, desculpem
o termo, “alemõezinhos”. E mais,
mandaram uma "alemoazinha", desculpem lá outra vez o termo,
uma loira, descendente dos cobardes, deixar-se fotografar, para compor um
quadro, junto de um sujeito em cadeira de rodas que desde há quinze anos, como
ministro alemão, tem vindo a ofender os gregos e os pobres europeus.
Ela fê-lo a troco
não sei de quê, mas imagino. Ela papagueia no mesmo diapasão, esquecendo que
tem tudo a ganhar, se se mantiver anónima, ou do lado do pobre que está a
exigir respeito. Quando vi a cena, pensei, por momentos, nas montras das ruas
do Red Light District de Amsterdão, onde as loiras, a troco de euros, fazem de
tudo à malta. Não fiquei chocado com o que estava a ver, porque,
frequentemente, quando há relações de muita proximidade entre o professor da
faculdade e as alunas, não se sabe como começam, mas sabe-se como acabam e o
mesmo se passa, quando uma professora é muito amiguinha do aluno. Não me digas
que… bem!!!
Tal como a Grécia,
o país dos cobardes também tudo perdeu, pelo que pouco ou nada tem a perder. O
programa da troika para a Grécia, para a Irlanda e para o país dos descendentes
dos cobardes, fruto de uma irresponsável incompetência e de uma vontade
punitiva amoral, produziu centenas de milhares de desempregados e novos
emigrantes, reduziu o Estado social a zero, cilindrou a classe média e acabaram
com aquilo que eram as empresas de referência. Neste momento, o tal país (dos
descendestes dos cobardes) tem cerca de 138% de défice do PIB e ainda dizem que
estamos no bom caminho…
- Ó Pedro,
continua a mandar a moça lamber os
tomates a Wolfgang Schäuble que fazes bem, porque para ele, isso não é uma
história de criancinhas, não!...
Adérito Barbosa in olhosemente
Adérito Barbosa in olhosemente
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