poeta.adérito.barbosa.escritor.autor.escritor.artigos.opinião.política.livros.musica.curiosidades.cultura Olhosemlente

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Palco dos poetas



Palco dos poetas

A visão está a escurecer
Sinto o corpo a padecer
A coisa a desvanecer
A amolecer sem enrijecer.
Estou a emagrecer e a envelhecer
Tento não endoidecer
Antes deixem-me esclarecer
Como eu queria tanto enriquecer
Mas estou a empobrecer.
Quando a alma desaparecer
E o corpo falecer
A Deus quero agradecer…

É a minha morte
Dentro deste poema
Ao amanhecer.

Para dar lugar à tristeza
Os poetas,
Todos os poetas
Arrumarão os versos
Deixarão de sonhar
E esquecerão a poesia.
Para dar lugar à tristeza
Os poetas
Todos os poetas
Calarão a voz ao mudo
Proibirão névoas no rio
E orvalho nas regueiras.

Para dar lugar à tristeza
O poeta.
Só o poeta descerá da ribalta
Outros  poetas mortos
Adormecidos no camarim
Agarrados às marionetas nuas
Num perfeito quadro de cabaré.
Fechem o clube dos poetas!
Acabaram as tertúlias
E os preliminares em que as guitarras
Envolviam os poemas.
Xiu, silêncio. O poeta morreu!!!



Sem comentários:

Enviar um comentário

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...