Saber para entender melhor
Shimon Perez, falecido primeiro-ministro Israelita disse um dia: o problema dos Árabes é terem muitos exércitos e nenhum governo. Com este mote, quero dar o meu ponto de vista do porquê da invasão da Turquia à região Norte da Síria, atacando os Curdos.
Os Curdos constituem a maior concentração de uma etnia no mundo, um número gigantesco estimado em cerca de 40 milhões de pessoas, formando um povo sem pátria.
No final da 1ª Guerra Mundial, quando o Império Otomano foi destruído, apesar de serem um povo relevante no Médio Oriente, os Curdos não participaram na divisão dos territórios, nem na definição das fronteiras, o que os tornou estrangeiros dentro dos territórios de outras nações.
O povo Curdo é tradicionalmente um povo muito guerreiro, com enorme orgulho nas suas tradições, nas suas religiões locais e por isso não se integram nas outras nações por onde foram espalhados. Pelas suas convicções religiosas e políticas não se integraram na Turquia, nem na Síria, nem no Iraque, nem no Irão. O curioso é que todos estes países têm, divididos entre si, cerca de 40 milhões de Curdos. Como recusaram integrar-se nesses países, também esses países consideram os Curdos estrangeiros, sendo assim menosprezados pelos povos dos países da região.
Então o que aconteceu com a Síria, e porque é que os Curdos aparecem no conflito na Síria? Na sequência da Primavera Árabe, orquestrada pelos Americanos e Europeus, à sombra do mentiroso e falso Observatório Sírio de Londres, que era fomado apenas por um indivíduo de seu nome Rami Abdulrahman, a Síria começou a sofrer ataques externos e internos com o objectivo de derrubarem o regime implantado e substituí-lo por um regime aberto e democrático, de acordo com os interesses americanos na região e assim rebentou a guerra civil, à semelhança do que fizeram na Líbia e no Iraque.
As tropas leais a Basher Al-Assad, com apoio Russo, combateram os terroristas e os mercenários apoiados pelos Americanos.
Com a intervenção Russa no apoio a Bashar Al-Assad, provocou-se um desequilíbrio no confronto com os mercenários americanos e a Síria conseguiu manter o regime de Al-Assad no poder conforme, aliás, preconizei num artigo publicado no Blog olhosemlente.blogspot.com de 15 de outubro de 2015 (Bashar Al-Assad já se safou!)
Com toda essa instabilidade na Síria, os Curdos viram uma bela oportunidade de fundar um Curdistão na região norte da Síria. Tipicamente os Curdos aproveitam-se de quem lhes der apoio; não têm lealdade a país nenhum, nem apoio externo de nenhum outro país declaradamente. Quem os ajudar em alguma coisa pode contar com eles, nem que seja com apoio militar, combatendo ao lado do aliado estratégico ocasional. Os Sírios, que estavam a sofrer ataques de terroristas e mercenários Norte-americanos, acabaram por ficar encurralados nas cidades bem perto da fronteira com a Turquia. Os Sírios usaram as tropas curdas para expulsar os terroristas. Mas então porque é que os Curdos apoiaram os Sírios, se sempre tiveram laços estreitos com os Americanos? Como eles não têm lealdade a nenhum país, pensaram o seguinte: - Se expulsarmos os terroristas e os mercenários americanos daqui, instalamo-nos nós aqui e como estamos longe, ninguém nos vai incomodar; no meio desta confusão formamos o nosso Curdistão, com parte do território da Síria, Turquia, Irão e Iraque, uma pátria independente, para receber todos os Curdos que vivem nas nações vizinhas.
O Iraque ocupado com a instabilidade interna não se preocupou, nem pôde dar atenção aos Curdos; a Síria, atarefada com os combates e sem capacidade de proteger todo o seu território, muito menos quis importunar-se por um momento com os Curdos e deixou-os ficar naquela região, sabendo da sua verdadeira intenção. Para eles, o importante seria que não ampliassem esse novo território para dentro da Síria. Assim os Curdos mantinham as forças da Turquia entretidas, mantendo-os longe da fronteira e por sua vez, Al-Assad nunca mais teria que se preocupar com os Turcos. O assunto passaria a ser entre a Turquia e Curdos.
A Turquia sempre odiou os Curdos e considera-os terroristas - mantém preso o seu guerrilheiro chefe do “PKK” Abdullah Ocalan, capturado em Nairobi, Quénia, pela polícia secreta turca com apoio da Mossad e da Cia, que acabou condenado à prisão perpétua. A Turquia não aceita, nem por sonhos, o nascimento de novo estado curdo, ocupando parte do seu território. Além de considerarem os Curdos como estrangeiros, foram obrigados a aceitá-los nas suas terras e ainda por cima, com as questões das diferentes religiões, dos Sunitas e Xiitas, a questão de não serem do mesmo ramo muçulmano dos turcos é também mais um empecilho.
Com a Síria feita em cacos, os Curdos aproveitaram a confusão, reorganizaram as suas forças e concentraram um grande poder bélico na região com o apoio das potências ocidentais pela calada. A potência bélica dá para pensar em criar um Estado e tirar o sono à Turquia com a declaração do nascimento do seu Curdistão e, quem sabe, com apoio de estados europeus.
O tabuleiro foi desenhado da seguinte forma: com grande presença militar russa na Síria era necessário haver uma base americana avançada na região, para o equilíbrio estratégico entre os dois países.
A Turquia, pertencente à Nato, apesar de andar às voltas com os Estados Unidos, chegou a acordo com Washington sobre a retirada dos Americanos. Como os Curdos não têm nada para dar em troca, foram traídos pelos Americanos e deixados sozinhos a enfrentar os Turcos.
E como Erdogan é um ditador tolerado por toda a gente, é muito provável que faça disparates contra os Curdos.
A pergunta que se impõe:
- O que fizeram os países Europeus para proteger os Curdos, o que fez o Ocidente para travar os ímpetos de Erdogan?
Sabendo que os Curdos são um povo guerreiro (tanto homens como mulheres), duvido que a Turquia leve a melhor sobre eles.
Adérito Barbosa in olhosemlente
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