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domingo, 21 de maio de 2023

Uma história que não interessa contar

Silva, o Prigozhin de Boliqueime ressuscitou. Ele, um velho conhecido mercenário, especialista na técnica do estrilhar, recrutador de tropas objetoras de consciência género Portas e Coelho. Ele, um comandante habitué das trincheiras, desesperado, saiu do buraco, abriu a camisa e ofereceu o peito às balas. 

O Silva, saiu das entranhas da terra cadavérico para lutar - utiliza os incendiários das televisões e dos jornais que ele próprio não vê e não lê, para a sua guarda avançada.

O exército do Silva conta ainda, além daqueles dois objectores, com o comandante mor Pinto, com o batalhão de jornaleiros da sua casa, uma brigada de comentadeiros  e ainda com aquele ratinho calmeirão Mendes.

No flanco direito, está o Putin cá do sítio, o tal de Marcelo, o calceteiro de Belém, antigo intriguista que passa a vida a chatear o António com ameaças: - vou dissolver, não vou dissolver, se calhar vou dissolver, olha que estou atento, já não dissolvo nada. Convoca antigos companheiros jornaleiros, para o verem lamber gelado e a alinhar as pedras da calçada, resmungando que de ministros percebe ele.

Para salvar a TAP, o governo nomeou-me a mim CEO da empresa. Assim que comecei a apresentar resultados, demitiram-me do cargo porque recusei ir para a cama com a minha secretária que segundo dizem é fufa. 

Agora arranjaram uma CPI sobre a minha gestão para eles se entreterem e terem tempo de antena. 

Passo a seguir a indicar como se processam os trabalhos da CPI sobre a minha gestão da TAP.  

Apareci à hora marcada, o meu advogado também foi. Estava à porta um corpo de exército de jornaleiros, centenas de microfones das TVs e nas estações a postos estavam para comentarem cada resposta minha os comentadeiros do costume.

As Câmeras apontadas para mim pareciam morteiros 120mm sem o prato da base.

Quando entrei, o presidente da CPI ameaçou-me que se eu não dissesse a verdade incorria num crime. 

Faço aqui uma paragem para rir um bocadinho. Esperam lá, preciso limpar as lágrimas de tanto chorar de rir. Olhem ao que isto chegou - políticos a exigirem que eu fale a verdade ao país.

Começou então a brincadeira; 

Sobre a minha gestão da TAP, ninguém perguntou nada porque os 3mil milhões ali enterrados e a quantidade de funcionários despedidos pouco interessa ao país.

O que interessa aos deputados é o seguinte:

Souberam que comi gambas na casa do Frederico e que fiquei com muita diarreia. Mesmo assim não se preocuparam com o meu trânsito intestinal.

Começam as perguntas:

D- A que horas o senhor sentiu os primeiros sintomas da diarreia?

E - foi por volta das 3 da manhã.

D - foi antes ou depois das 3?

E - por volta das três 

D- 5 para as  três ou eram 3 e 3 …sabe precisar?

E - deixe-me ver as notas. Não, tenho notas, não sei precisar.

D - limpou o rabo com o dedo ou com papel higiénico húmido?

E - não me lembro, fiquei todo borrado.

D - mudou de roupa?

E - mudei sim!

D - a que horas?

E - não sei, não consigo precisar.

D- Tomou um chá e ultra-levura?

E - não sei, não posso precisar

D- E lavou as mãos?

E - Não, não lavei.

D - Então você é um porco! Não lavou as mãos depois de estar borrado.

D - Os portugueses querem saber se descansou no sofá ou na  cama?

D - nem uma  coisa nem outra, fiquei sentado na sanita.

D - A fazer o que? 

E- À espera que a diarreia passasse para ir dar um soco na cara do Frederico por me ter oferecido gambas estragadas na casa dele e ter levado o computador.

É assim, que a banalidade tomou conta do Parlamento e se  tornou numa normal incompetência profissional de meia dúzia de garotos, onde não se trabalha nem se deixa trabalhar ninguém em nome do povo português. O que se passa no Parlamento é efectivamente uma pandemia.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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