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sábado, 21 de outubro de 2017

Engravidaram a Chamusca

Engravidaram a Chamusca

A Chamusca, vila pitoresca de linhagem ribatejana, habituou-se a conviver sem ciúmes com a bonita vizinha Golegã.
A Chamusca nunca quis ir por aí e soberba, como sempre, abraçou e cheirou o perfume do pasto do Ribatejo; respira névoa nas manhãs de neblina, quando acorda e, desnuda, deixa ver as rugas do seu corpo nos diques que teimam em aprisionar o rio, onde se banha.
A vila da Chamusca sente o cheiro e os odores do Tejo que, sereno,  corre debaixo da  ponte, ponte essa onde eu próprio, lá atrás, nos idos anos 80, instruendo do curso de minas e armadilhas,  carregado que nem uma mula, encharcado até aos ossos, investido  de comandante de pelotão, recebi uma importante missão - comandar uma operação militar de importância capital para o país, que visava minar e fazer rebentar com explosivo plástico a ponte da Chamusca, assim que nela entrasse a coluna de blindados dos invasores espanhóis.
Esta operação ocorreu durante a madrugada de uma noite invernosa, fria e chuvosa, mas  aquilo correu muito mal.
Chegámos à ponte de madrugada, depois de uma brutal marcha, organizei uma patrulha de sete  homens e mandei-os então minar a ponte.
Como a marcha tinha sido longa, em vez de colocar o pelotão a fazer segurança, a dar protecção à patrulha e a vigiar os movimentos na ponte, de acordo com os livros, permiti que toda a gente se acoitasse, todos juntinhos uns aos outros que nem gatos  e partimos  para uma soneca, até porque eu tinha informações de que os instrutores só chegariam por volta das quatro da manhã, para monitorarem a operação .
Não contava que os instrutores já la estivessem na ponte, escondidos por entre as colunas, à nossa espera.
A caminho do sono, um grande rebuliço. Era o Director do curso e os seus adjuntos no acampamento base.
Assustado e ensonado, mandei rapidamente formar o Pelotão e com parcimónia e cheio de rigor, mandava alinhar o pessoal.
Eis que o Director do curso disse: - Vire-se, vire-se!
Dei meia volta e, quando ia apresentar o bando de dorminhocos pseudo-sabotadores, o Director saiu-se com esta:
- Sr. Barbosa, desculpe que lhe diga! "Vá para o car.... que o foda!" O resto não conto!
É isso mesmo que me apetecia dizer à PJM, aos comandos militares, sobre a soberba história das armas roubadas dos paiós de Tancos encontradas nas lezírias da Chamusca ou terá ou  sido algum militar que engravidou a Chamusca?


Adérito Barbosa in olhosemlente

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