A Derrota do MpD nas Eleições Autárquicas: Reflexões sobre uma Estratégia Fracassada e a Ressurreição do Neves.
As eleições autárquicas de Cabo Verde trouxeram consigo uma mensagem clara: o MpD (Movimento para a Democracia) enfrentou uma derrota que, mais do que eleitoral, foi política e estratégica. Este resultado não foi fruto do acaso ou da habilidade extraordinária dos seus opositores, mas da incapacidade do partido em compreender e responder de forma eficaz às necessidades sociais e às expectativas do eleitorado cabo-verdiano.
Ao observarmos a campanha do candidato do MpD, Abrão Vicente, um padrão preocupante emerge. O tom adoptado ao longo das intervenções foi, para muitos, inadequado. Agressividade, insultos, uma postura arrogante e, por vezes, até galhofeira, marcaram as intervenções públicas do candidato. Essa abordagem não só minou a credibilidade do próprio Abrão Vicente, mas também alienou potenciais eleitores que esperavam ouvir propostas concretas e soluções pragmáticas para os problemas que enfrentam diariamente.
O slogan “corpo rijo” escolhido para a campanha foi outro ponto crítico. Em vez de mobilizar e inspirar, soou desconexo e mal alinhado com as expectativas da população. Um slogan deve refletir uma visão clara, conectando-se emocionalmente com os eleitores. Contudo, neste caso, serviu apenas para reforçar a percepção de que o partido estava desconectado da realidade. Se eu tivesse voto no partido, teria sugerido outro slogan — um que falasse menos do fisico e mais dos problemas.
Além disso, a insistência do candidato em basear sua campanha na sua experiência como ex-ministro revelou-se contraproducente. Em vez de ser um trunfo, acabou sendo um peso. O eleitorado já está ciente das fragilidades do governo central, e associar a campanha local a esta gestão desgastada foi um erro estratégico. A mensagem deveria ter sido clara: esta é uma nova liderança, focada nas questões locais, e não um braço das políticas governamentais que têm gerado insatisfação.
Faltou ao MpD, durante esta campanha, uma liderança capaz de trazer equilíbrio ao discurso e redirecionar os esforços para uma abordagem mais empática e orientada para as pessoas. Houve um foco excessivo em “lives” e outros formatos digitais que, apesar de serem importantes, não substituem o contacto direto com as comunidades, a escuta activa e o diálogo sincero. Campanhas eleitorais, sobretudo em contextos locais, exigem um trabalho de proximidade e humanização.
O resultado não deixa margem para dúvidas: a victória de Francisco Carvalho é, em muitos sentidos, um voto de protesto contra o governo de Ulisses Correia e Silva. É um grito de alerta de que as políticas sociais falharam em responder às necessidades da população. A falência governativa refletiu-se no descontentamento com o MpD em diferentes frentes, e o recado foi dado nas urnas.
Particularmente, a prestação de Abrão nos debates foi decepcionante. Ouvi atentamente as discussões transmitidas pela rádio e, confesso, foi difícil encontrar consistência ou argumentos que pudessem conquistar o eleitorado. Uma estratégia de confronto directo, sobretudo com opositores bem preparados, mostrou-se ineficaz. Ninguém vence debates com posturas ríspidas e argumentos fracos. Era necessário apresentar ideias claras, soluções viáveis e um tom conciliador, algo que ficou completamente ausente.
Este fracasso nas eleições autárquicas deve servir como uma oportunidade para reflexão profunda dentro do MpD. O partido precisa rever sua forma de fazer política, reconstruir sua relação com o eleitorado e, acima de tudo, adoptar uma abordagem mais humanista e menos cagão. A política é feita de pessoas e para pessoas, e esta parece ser a lição mais dura que o MpD precisa aprender com este processo eleitoral.
No fim, a derrota não é apenas de Abrão Vicente ou da sua campanha mal estruturada, mas de todo um partido que perdeu o contacto com o pulso das ruas e acabou por ressuscitar Zé Neves e Janira e Rui Semedo o presidente do PAICV. Se há algo a ser retirado deste resultado, é a urgência de mudanças profundas — no discurso, nas práticas e, principalmente, no foco. Cabo Verde não precisa de mais confrontos ou slogan “corpo rijo”. precisa de soluções reais, de lideranças genuínas e de políticos que falem a linguagem do povo. Não me refiro ao dialecto entenda-se!
E assim se deu a ressurreição do Neves, para a minha tristeza…. ele que já estava morto!
Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com
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