Lisboa,
Nesta esplanada do teu ventre
Rola a esfera de uma caneta.
Quero engravidar-te
Com os versos que te canto.
Viajar na cauda do teu cometa,
É um sonho que trilho faz tempo
Escutar o choro leve de quem pariste
No labirinto das tuas entranhas.
Lisboa,
Tens hálito a castanha assada
Dormiste com o Tejo debaixo da ponte
Beijou-te e não negaste
Possui-te segredaram e sorriram
E deste-te a ele sem pudor
Como um puto que finta o esquema
Na esperança de ficar com o brinquedo.
Dá-me um abraço apertado,
Fico a teu lado para espreitar o malandro
Que nunca estrilha na esquina
Sempre numa da sorte adiada
Para te ver nua.
Lisboa,
Não sejas safada
Tira o vestido e seduz-me
Embriaga-me no cais esta noite
Deixa-me ficar no calor dos teus braços
A ver subir a maré nas tuas veias
Já não tens voz de ardina
Nem pregões nas manhãs
Nem peixe frito nas tabernas
Nem sarro nos copos de vinho
Nem cacau da Ribeira.
E ninguém bebe no chafariz.
Lisboa,
Já não tens magalas nem marujos
Nem no eléctrico bilhete operário
Já não há paródias dos boémios
Nem sabes dos fados da Severa
Nem histórias da guerra
Das bocas ressacadas sabendo a papel
Mas… ainda te excitas
E gemes de prazer
Quando o castiço
Começa os preliminares
Nas cordas da guitarra portuguesa.
Adérito Barbosa in "olhosemlente"
28 de Março de 2014
Excelente homenagem poética à cidade, um poema de vivências, com ritmo. Gostei.
ResponderEliminarObrigado Fátima pelas tuas palavras
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