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sábado, 19 de abril de 2025

Eu, a minha rua e o Hospital do Oeste – tragédia em vários actos e nenhuma obra

Mudei-me da Ericeira para o Bombarral. Forçado, é certo, mas de olho na paz e na tranquilidade, cedi à expressa vontade da minha mulher: - Bombarral vai ser bom e até vai haver um hospital e tudo. O tal Hospital do Oeste, de que tanto se fala. Dizia-me ela que o hospital estava quase, a caminho, já ali no horizonte. Sonhara com a cerimónia de inauguração e da cortagem da fita. Mal sabia eu que a única fita a ser cortada era a da minha paciência. O Hospital do Oeste é como o Pai Natal da saúde pública: toda a gente fala dele, mas nunca ninguém o viu. Afinal, o hospital prometido há décadas continua exactamente como a minha rua: no papel. E mesmo no papel os políticos aparecem de X em X anos com uma maqueta, umas imagens de PowerPoint e aquele olhar brilhante de quem viu a luz… de um flash. É sempre a mesma lengalenga: - Estamos em fase de estudo, está tudo planeado, é uma prioridade do Governo. Sim, prioridade… daquelas que se guardam na gaveta entre a reforma da justiça e a solução para o SNS.

Ora, a minha rua também está em estudo. Estuda-se há mais de um ano um poste de luz à entrada do meu portão. Uma epopeia digna de Homero. Enviei um e-mail à Câmara, cheio de vírgulas bem posicionadas, a pedir duas coisinhas modestas: um ponto de luz e um bocadinho de asfalto. Ou então, se não fosse pedir demais, que tapassem os buracos — só o suficiente para não tropeçar na escuridão ou afundar num deles quando levo o lixo.

E não é que me responderam? Uma raridade quase arqueológica. Responderam, sim senhor. O e-mail dizia:  Tomámos nota do seu pedido, o que muito agradecemos, blá blá blá, e encaminhámos o assunto do poste para o Departamento da Iluminação Pública — que, pelo nome, imagino estar sediado numa nave espacial algures em Saturno. Quanto à estrada, a resposta foi ainda mais poética:  Sobre a estrada que serve a sua rua, deverá dirigir-se à junta de freguesia, porque temos um protocolo firmado com a Junta para tapar buracos.  Traduzido entendi: essa coisa não é connosco! Encaminharam tudo como se estivéssemos a jogar pingue-pongue com responsabilidades — e eu, no meio, sou a bolinha. Mas, segundo o Presidente da Câmara, homem afável e cheio de convicções, o Bombarral é uma coisa de outro mundo: -  Câmara responde sempre, está ao serviço do povo. O problema é que, pelos vistos, eu não sou povo. Estou fora dessa definição. Talvez seja subpovo. Ou um figurante não creditado na novela bombarralense.

Ontem fui ao espelho, pus-me em cima da balança, para tentar perceber o que em mim está a falhar. O que vi meteu medo. O peso foi um deles: umas partes do corpo a crescer, outras a encolher — uma tragédia. O encolhimento… Olhei-me bem, de frente, de lado e de perfil. Lembrei-me do NIF, consultei o cartão de cidadão e, rapidamente, pareceu-me que estava tudo em ordem. Mas não. Não sou povo coisa nenhuma. Porque se fosse, a rua já estava com os buracos tapados e o poste aceso, porque se fosse, a Câmara já me tinha respondido com acção — não com e-mails genéricos.

E é aqui que percebo a semelhança assustadora entre o meu processo e o do Hospital do Oeste. Ambos partem da promessa e estacionam no vazio. Ambos envolvem estudos que nunca acabam, prazos que ninguém cumpre, prioridades que ninguém respeita. Ambos são empurrados ano após ano, governo após governo, com uma habilidade que faria inveja ao maior mentiroso do mundo Sr Abrie Krueger. O hospital e a minha rua são irmãos gémeos separados à nascença por falta de orçamento e pela paixão nacional por adiar. O hospital está quase-quase desde 2009. A minha rua também. E ambos têm algo em comum: são o espelho da gestão pública no seu estado mais puro — onde se diz muito e se faz pouco, onde se planeia tudo e se executa nada. O que me assusta não é a espera. É a mentira disfarçada de esperança. É a pose de serviço público que esconde o desleixo privado. É ver que se gastam milhões em estudos, em projectos, em cerimónias, e no fim… nem hospital, nem poste, nem estrada.Talvez o hospital esteja a ser construído na mesma fábrica onde produzem respostas da Câmara — aquela fábrica de promessas recicladas. Ou então está em alto mar, numa arca flutuante cheia de intenções, à deriva desde que alguém achou boa ideia prometer saúde sem ter capacidade para a entregar.

E há uma beleza trágica nisto tudo. O presidente da Câmara garante que o Bombarral é coisa de outro mundo. E tem razão. Porque neste mundo, quando se promete um hospital, normalmente constrói-se. Neste mundo, quando se pede um poste, instala-se. Quando se escreve uma carta, responde-se com algo que realmente se vá fazer. Mas no Bombarral vive-se num universo paralelo onde o tempo anda ao contrário e os pedidos da população evaporam-se no ar — provavelmente junto ao orçamento participativo. Fico a pensar: será que o hospital vai chegar antes do poste? Será que a minha rua vai ser asfaltada antes de eu precisar do hospital? Ou será que primeiro morro de um entorse nas crateras da minha rua e só aí, por respeito póstumo, me asfaltam o funeral? E, por fim, deixo uma sugestão. Já que o hospital e a Câmara andam no mesmo passo de caracol sonolento, proponho juntar os dois projectos. Que tal fazer o hospital na minha rua? Assim matam dois coelhos de uma vez: aproveitam a terra batida como ala ortopédica e o poste de luz pode servir de sala de espera. Eu até deixo espaço para uma maca no quintal. Afinal, sonhar é grátis. E, ao que parece, no Bombarral, é o que se faz melhor: sonhar…

Nota de rodapé: num jantar da alta sociedade da região Oeste, soube que a minha estrada nunca será asfaltada porque é considerada zona agrícola.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

Crónica XIII - dedicado à minha morte 19abril25 - Discurso antes da cremação


 É verdade, estou morto. Podem confirmar. Não respiro, não me mexo, e — finalmente — não falo. Para muitos, uma bênção tardia. Há quem diga que morri em paz. Mentira. Morri como vivi: com cara de quem não deve, mas teme.  Passei por cá para um último momento de protagonismo. Não porque me importo, mas porque sei que isto de morrer é um evento social. E como tudo que é social, está cheio de hipócritas, curiosos e só não vieram as tias porque nunca tive tias. Mas desenganem-se os que acham que um morto é inútil. Errado. Em vida também fui bastante inútil. Fiz pouco, quase tudo mal, e o que fiz de bom foi por engano. Fui-me arrastando pela vida como quem vai ao ginásio só para usar a sauna. E ainda assim, consegui deixar mágoas, e muitas dúvidas a muita gente - que se lixem — morto já não sou um presente envenenado e isso é porreiro.

Agora que o corpo já não serve para nada, dou-o de presente à cremação. Que façam bom lume, que aqueça pelo menos o ar frio da sala. Não me verão em caixão aberto — já bastou a minha cara em vida. E se por acaso alguém soltar uma lágrima, que seja de riso. Porque se há coisa que eu odiava, era gente a chorar em público. Aos que vieram, bem-vindos. Aos que não vieram, parabéns pelo bom gosto que tiveram. Sei que há aqui uns quantos que gostavam de mim, ou pelo menos fingiam bem. Também sei que há dois ou três canalhas que só estão cá para confirmar que não volto mais. Fiquem descansados: a única coisa que levanto agora é fumo. Vivi sem fé, sem rumo, e com uma confiança que não sei de onde vinha. Nunca acreditei em Deus — nem sequer quando me deu jeito. Fui pecador de carreira, sem confessionário, sem perdão. E sabem que mais? Fui feliz assim. Entre copos e vida nocturna. Fui homem de muitas mulheres — não porque fosse especial, mas porque tive o dom raro de dizer “amo-te” sem me rir. Cada uma guardou o que quis de mim: umas o cheiro, outras a desilusão. Mas nunca, nunca me esqueci de nenhuma delas, nem dos nomes.  

Honesto, sempre fui. Disse sempre que não prestava. Não enganei ninguém — só quem quis ser enganado. Nunca fiz juras eternas, porque sempre achei que o “para sempre” dura pouco.  Tinha jeito para o engate e zero talento para manter. Mas vá, cada um faz o que pode com as armas que tem. Eu jogava com o charme e conversa fiada, tipo vendedor de colchas na feira da Malveira. E resultava… às vezes era uma tragédia.


Não deixo fortuna, deixo histórias em prosas. Algumas mais sujas que a consciência de um político em campanha. Deixo também as minhas guitarras cheias de pó, de sarro de tabaco, de pecados, e uns papéis velhos que ninguém vai querer ler — talvez um ou outro poema maldito, escrito entre trago de whisky e noites de insónia. E sim, deixo-vos o meu corpo. Não porque quero, mas porque não tenho outro remédio. Portanto fogo com ele! As chamas que me devorem como a morte apagou os meus neurónios. Mas não esperem cinzas poéticas, nem espírito a pairar. Se for para voltar, que seja em forma de penico: pelo menos ainda terei alguma utilidade. Se estão aqui hoje, riam. Riam como eu ria das minhas próprias desgraças. Este velório não é missa de sétimo dia, é despedida de um malandro. E que malandro! Um malandro que se preze não se leva a sério — nem morto. Por isso, falem mal de mim à vontade. Mas falem com estilo. Que eu cá prefiro ser lembrado como o cabrão que fez rir, do que como o coitadinho que se foi cremar triste e sozinho. E quando tudo isto acabar, e as cinzas forem pó no vento ou num frasco qualquer, pensem em mim como alguém que viveu do avesso — e ainda assim teve a lata de ser feliz.

Agora sim, podem acender o forno. E por favor, que não seja a gás… que sempre fui mais homem de carvão.

Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Portugal paga para eles mandarem foder o português.


 Aposto que poucos portugueses sabem disto. Mas calma, não precisam de me chamar teórico da conspiração – para evitar confusões, incluo as fontes directas. Assim, qualquer pardal que apareça com conversa fiada tem onde ir confirmar.  Ora bem, Portugal comprometeu-se a despejar 95 milhões de euros em Cabo Verde ao longo do Programa Estratégico de Cooperação (PEC) 2022-2026. O pacote cobre setores como educação, saúde, segurança, economia e infraestruturas conforme link que se segue. [oai_citation:1,Portugal e Cabo Verde assinam novo plano de cooperação até 2026](https://culturaportugal.gov.pt/pt/saber/2022/03/portugal-e-cabo-verde-assinam-novo-plano-de-cooperacao-ate-2026/). Muito bonito no papel. Mas na prática, parece que o dinheiro tem sido usado para empurrar o “crioulo” para dentro das escolas e mandar o português borda fora. Sim, aquele mesmo português que abriu a Cabo Verde as portas do mundo e que continua a ser a língua oficial do país.  Claro que isto não é novidade. Há anos que certos círculos tentam empurrar a ideia de que o português é um corpo estranho em Cabo Verde e que a verdadeira identidade do arquipélago passa pelo crioulo. Mas agora a questão é outra: quem é que está a pagar esta transição? Ora, ao que parece, somos nós.  

Portugal, sempre magnânimo, ainda perdoou 12 milhões de euros da dívida cabo-verdiana, convertendo o valor num fundo para a “transição climática” conforme o link que se segue [oai_citation:2,Portugal apoia transição ambiental e energética de Cabo Verde - XXIII Governo - República Portuguesa](https://www.portugal.gov.pt/pt/gc23/comunicacao/noticia?i=portugal-apoia-transicao-ambiental-e-energetica-de-cabo-verde). Se Cabo Verde depois decide investir essa folga orçamental na promoção do crioulo e na desvalorização do português, problema deles – mas pago com o nosso dinheiro. E há mais: em 2022, Portugal ainda transferiu 580 mil euros de apoio humanitário, mais 500 mil euros de reforço ao Orçamento do Estado cabo-verdiano [oai_citation:3,Governo português disponibiliza mais de 580 mil euros em apoio humanitário para Cabo Verde - XXIII Governo - República Portuguesa](https://www.portugal.gov.pt/pt/gc23/comunicacao/noticia?i=governo-portugues-disponibiliza-mais-de-580-mil-euros-em-apoio-humanitario-para-cabo-verde).  

Agora, aqui entra a ironia: Portugal despeja dinheiro em Cabo Verde e, em troca, recebe um grande pontapé na língua portuguesa. Os miúdos aprendem crioulo na escola, mas quando querem prosseguir estudos vêm para Portugal, onde entram nas faculdades sem exames ou testes de admissão. Chegam cá e… surpresa! Não sabem falar português, não sabem escrever português, e não entendem nada de nada. Mas passam, porque ninguém quer tocar no vespeiro da “cooperação” e da “inclusão”. Depois regressam ao arquipélago para continuar a mesma política: promover o crioulo para os filhos dos pobres.  É caso para perguntar: Portugal está a financiar a cooperação ou a própria irrelevância da sua língua num dos seus parceiros históricos? No fundo, Cabo Verde faz o que quer – e Portugal paga.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

A mesma vida noutro tempo.

“Tenho saudades dos tempos em que, no Liceu, havia os burros, os gordos, os caixas de óculos, os sonsinhos, os pretos, os chineses, o indiano, o artolas, os maricas e os lingrinhas. Os burros chumbavam, não se tornavam doutores como hoje em dia. A fasquia era definida pelo marrão da turma, não era nivelada por baixo, como agora, com essa merda de que somos todos iguais – diz-se.  Antes, não parecia que fôssemos iguais. O gordo também tinha notas brutais e ninguém sabia como; talvez porque o gajo não jogava à bola. O caixa de óculos tinha um sentido de humor inigualável, mas não fazia corridas – o gajo tinha medo de cair. O preto jogava à bola como ninguém e fazia umas fintas dos diabos; tinha um cabedal do caraças, fora do comum. O chinês tinha vindo de outra escola, sabia à brava inglês e tinha histórias que não lembrava a ninguém.  Cada um tinha um defeito – eu, por exemplo, era conhecido por "crioula". Sempre que chamavam "crioula", havia batatada. Não gostava de ser comparado às bonitonas crioulas. Lutei até que se esqueceram dessa alcunha. Ter uma alcunha diferente era fixe. A diferença era vista com bons olhos. Agora, tudo ou é bullying, ou racismo, ou xenofobia, ou opressão, ou assédio, ou violência.  

Antigamente, quando se era mesmo racista, levava-se um chapadão na tromba e aprendia-se logo que o preto era como os outros – apenas tinha cor diferente. E não era bullying. Era viver e aprender. Era duro. Às vezes, em casa também se aprendia à chapada.  O menino insosso passava despercebido e sentia-se sozinho. E aprendíamos uma coisa importante: a rir-nos de nós próprios – não a chorar porque alguém nos chamou nomes. Assumia-se a gordura, o esquelético, o caixa de óculos e tudo o mais que nos chamassem. Mas quando não se estava bem, quando não se gostava da alcunha, fazia-se uma coisa importante: mudava-se, lutava-se por acabar com ela. Não se culpavam os outros nem a sociedade. Não se faziam queixinhas. E falhava-se. Muitas vezes. E, cada vez que falhávamos, ficávamos mais fortes. E sabíamos que era assim. Que havia uns que conseguiam, outros que ficavam para trás. Que havia quem vencia e quem falhava.  Agora, não… Todos somos iguais. Há mesmo a chamada igualdade de género. Todos somos bons, todos merecemos, todos temos as mesmas oportunidades, todos devemos até ganhar o mesmo, todos somos vítimas, todos somos oprimidos… e todos somos parvos. Porque aceitamos este ambiente do politicamente correto sem dizer nada. E até devemos dizer que somos "normais". Segundo o novo paradigma social, devem ter muito cuidado comigo, porque:  

– Sou velho, tenho mais de 65 anos, o que faz de mim um tolo improdutivo que gasta estupidamente os recursos do Estado.  

– Nasci mulato, o que me tornou um coitado, vítima das merdas dos brancos, dos pretos e dos amarelos.  

– Não voto na esquerda radical, o que me torna fascista.  

– Sou hétero, o que me torna um homofóbico.  

– Possuo casa própria, o que me tornou um proprietário rico e, agora, um latifundiário.  

– Adoto “foie gras” carne de caça, peixe do mar e cordeiro de leite, o que me torna um abusador de animais.  

– Sou cristão não praticante, sou um infiel aos olhos de milhões de muçulmanos.  

– Não concordo com tudo o que o Governo faz, o que me torna um reacionário, e até acham que me devo calar.  

– Gosto de ver mulheres bonitas, bem vestidas (ou despidas), ou superdecotadas, o que me torna um tipo capaz de assediar.  

– Valorizo a minha identidade portuguesa e a minha cultura europeia e ocidental, o que me torna um xenófobo.  

– Gostaria de viver em segurança e ver os infratores na prisão, o que me torna um desrespeitador dos direitos fundamentais protegidos.  

– O meu carro é a diesel, o que me torna um poluidor, responsável pelo aumento de CO₂.  Apesar de todos estes defeitos, acho que ainda sou feliz… Era mais, antes da pandemia. Aquela cena das vacinas lixou-me completamente a imunidade. Agora sofro com uma coisa que os entendidos chamam doença autoimune.  

Todos os dias engulo uns comprimidos e a vida segue, sem as modernices do politicamente correto.”


olhosemlente.blogspot.com

quinta-feira, 27 de março de 2025

Alguém que ponha a mão naquilo depressa

 


José Rodrigues dos Santos demonstrou ser um jornaleiro, incapaz de exercer a sua profissão com imparcialidade e respeito pelo entrevistado, independentemente das suas posições políticas. No entanto, a sua conduta na entrevista ao secretário-geral do PCP demonstrou ser a de um crápula que desvirtuou a essência do jornalismo sério e isento.  

A forma como conduziu a entrevista, revelando-se alguém que procurava descredibilizar o entrevistado, mostrou um profundo desrespeito pelo dever de informar com honestidade. O asqueroso jornaleiro fez da RTP um palco de confronto pessoal e um instrumento de manipulação política. Esqueceu-se de que nós, o público, já não somos totós, mas sim capazes de formar a nossa própria opinião com base em factos e não em distorções ou insinuações.  

Quando um jornalista se torna protagonista da entrevista e busca embaraçar o entrevistado em vez de esclarecer o público, compromete gravemente a sua credibilidade e a profissão que representa. O serviço público de informação merece mais do que espetáculos tendenciosos disfarçados de jornalismo. Como contribuinte da TV estatal, repudio tais práticas e exijo que alguém ponha mão naquilo, devolvendo à RTP o comprometimento com a ética e a responsabilidade.

Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

sábado, 22 de março de 2025

O Silêncio cúmplice



O país está como está porque temos medo de falar medo de opinar, medo do desconforto que vem com a discordância. Temos medo das represálias, já não vivemos num regime onde uma palavra nos pode tramar, mas há outro medo, mais rasteiro: o de sermos olhados de lado pelos amigos, no café, no Facebook, e passarmos por chatos quando trazemos política para a conversa.  

Deixamos essa coisa da política para os políticos, e eles, espertos, tomaram conta do assunto. Fizeram-nos acreditar que política é um bicho perigoso, que só traz chatices. E, enquanto isso, foram levando a Europa para a guerra, vendendo a narrativa de que os russos são os maus, os palestinianos os bons e os israelitas os vilões. No meio do barulho, os militares, que antigamente se mantinham discretos, descobriram a reforma dourada dos debates políticos. Agora as televisões parecem um sanatório de generais. Só que eles não estão sozinhos. Os jornalistas também ajudam. Criam um facto, noticiam esse facto, lançam o alerta, debatem o facto, comentam o facto, recomendam o facto – e no fim fizeram de nós estúpidos.  

Sempre ouvi dizer, desde pequeno, que há três coisas que não se discutem: futebol, religião e política. Mas o futebol discute-se todos os dias, com paixão e sabedoria. Fala-se dos penáltis mal marcados, dos treinadores incompetentes, dos jogadores do SLB que não valem nada mas são vendidos a preço de ouro. A religião, essa, já ninguém quer saber – as igrejas só servem para sacar dinheiro aos crentes a troco de milagres que nunca chegam.  

Mas a política? Essa está de quarentena. É um tabu.  

Eu já fiz esse teste várias vezes: já escrevi sobre o governo, sobre a justiça, sobre os esquemas de sempre. Nada. Um deserto. Ninguém gosta, ninguém comenta. Mas o sistema de análises do blogue não mente: as pessoas passam por lá às centenas, às vezes aos milhares, espreitam, leem e saem de mansinho, como quem não quer ser visto num lugar suspeito ou em má companhia. Como se um simples ato de se manifestar fosse um risco.  

E isso dá um jeito danado a quem manda. Enquanto tivermos medo de falar, eles podem fazer o que quiserem. Podem mentir-nos na cara, que ninguém os desmente. Podem encher os bolsos à nossa custa, que ninguém protesta. Podem vender o país aos bocados, que ninguém quer saber.  

Talvez seja esse o maior truque da política portuguesa: fizeram-nos acreditar que a política é feia, suja, inútil. Que só os fanáticos e os interesseiros falam dela. O cidadão comum, esse deve manter-se calado, discreto, neutro – como se a neutralidade fosse uma virtude e não uma rendição.  Eles são os intocáveis. 

Do José Sócrates todos falam porque o tipo já está no chão. - Um dia, num parque de estacionamento na Ericeira, garantiu-me pessoalmente que é vítima de uma cabala.

E do Manuel Pinho? E do Costa que passou de bandido português a chefe da Europa. E do Luís Montenegro, que chegou a primeiro-ministro sem que ninguém desse grande conta, a não ser os amigos do costume, que o aplaudem porque o jogo do poder tem sempre os mesmos jogadores. Não foi eleito, não teve votos que lhe permitissem governar, mas lá esteve, sentado na cadeira de chefe. A gerir o país sem grande entusiasmo, sem sobressaltos, a exibir o seu ar de sobranceria e vaidade, enquanto recebia mensalmente uns trocos de uma casa de apostas.  

E do Restelo, as velhas gritam: "O procurador-geral da República é da cor dele, e não há razões para abrir inquérito e mencionar o nome do Luís!" 

Falar das gémeas que vieram de fora para um tratamento de milhões pago pelo Estado? Nem pensar. Enquanto isso, eu próprio estou há quase um ano à espera que o HFAR me chame para uma colonoscopia e uma endoscopia. No privado já me tratei medicado, curado e despachado. Do HFAR, ainda nada. Mas, para as gémeas, o estado tratou do assunto com uma eficiência que nenhum português sabia que existia. Quem ousou questionar o privilégio foi logo chamado de insensível e xenófobo.  

Tal como lembrar as grávidas do Bloco de Esquerda, e das causas dos gays. Afinal há por lá lésbicas. Assim faz sentido tanta luta.

E depois há as barragens da EDP, essas maravilhas de engenharia que deviam render milhões ao país. Foram entregues de bandeja, sem pagar um cêntimo de imposto. Venderam-se concessões, fizeram-se negócios obscuros no fim, a conta foi parar às mãos da malta consumidora. Os mesmos do costume que, todos os meses, recebe faturas de eletricidade cheias de taxas, contribuições e ajustes tarifários que ninguém entende.  

E os tribunais? Ah, os tribunais. Onde devíamos confiar, mas onde só se joga a política do costume. Eu assisti a uma entrevista do Juiz Carlos Alexandre, famoso e titulado de "super", por combinar com os procuradores qual será o próximo alvo, e disse que o que ganha não chega, por isso faz muitas horas extras a caçar. O juiz fez justiça espetáculo, com a ventoinha da CMTV na máxima velocidade a espalhar esterco e as suas sucursais – TVI, SIC , CNN e Now – a seguirem-lhe o rasto

No meio disto tudo, os verdadeiros culpados escapam sempre. Há sempre um erro processual, uma doença, uma prescrição, uma morte, uma testemunha que se engana, uma perícia que desaparece. E o sistema segue como sempre foi: com os poderosos a rirem-se da nossa impotência e o povo a pagar sem reclamar porque o pessoal tem medo.

E o que faz o Zé? O Zé está calado. Porque falar de política é feio e dá trabalho. Porque nos ensinaram que é perigoso, que é melhor não meter o nariz onde não somos chamados.  

O Zé só sabe pagar impostos sem perguntar onde vão parar. O Zé espera meses por uma consulta no hospital, enquanto vê os amigos do sistema passarem à frente. O Zé vota de vez em quando, mas sem grande esperança, porque já percebeu que muda o nome, muda a cara, mas o esquema é sempre o mesmo e ventoinha continua no máximo, a espalhar esterco contra os nossos olhos.


E assim seguimos limpando os olhos, a pagar, a ver e a calar. Como bons portugueses.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

sexta-feira, 7 de março de 2025

O anónimo




Não tenho pressa; não quero envelhecer antes do tempo. Quero seguir meu caminho, enfrentando os dias abraçado às cordas das minhas guitarras, fingindo ser um roqueiro. E quando eu me for, que alguém diga: aqui jaz quem sonhou ser alguém na música e partiu como mais um anónimo.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Crónica X II - dedicado aos Vendilhões do Templo, Bombarral 28Fev25





Venderam-me uma ilusão. Disseram-me que vivia numa sociedade igualitária, onde a justiça era para todos, a política servia o bem comum e o jornalismo informava. Garantiram-me que os médicos cuidavam da saúde dos doentes, a polícia protegia os cidadãos, os professores ensinavam, os prados eram verdes e as galinhas esgravatavam a terra como sempre fizeram. Que os militares viviam nos quartéis.  

Agora, olho à minha volta e vejo uma farsa. A política tornou-se um teatro do absurdo, onde governar é um jogo de bastidores e influências, e não uma missão de serviço público. Ser competente é um defeito, ter experiência de vida é um obstáculo. Se trabalhei, se construí algo, se me envolvi na realidade, então sou suspeito. Só aqueles que nunca fizeram nada na vida têm currículo para mandar. Se tive um café onde servia uns copos a um grupo de jogadores de cartas, já não posso ser ministro do vinho. Se tive galinhas no quintal e vendi ovos ao vizinho, então não posso tutelar a pasta da Agricultura. Os governantes são escolhidos como se a experiência fosse um crime.  
E enquanto essa gente nos distrai com casos e casinhos, esquecem-se de falar dos advogados das grandes sociedades que se sentam no Parlamento a cozinhar leis ao gosto dos amigos. Esses, ninguém questiona.  
Quanto ao jornalismo, já não há. Há jornaleiros, fabricantes de factos e mercadores de polémicas — ou melhor, vendilhões do templo. Passam o tempo a construir narrativas, a inventar escândalos, a decidir quem será crucificado no dia seguinte. Não informam, moldam. Não investigam, insinuam. Não questionam, impõem. Criam factos, comentam os factos que criaram e vendem-nos como se fossem a verdade revelada. E assim se vive, num ciclo vicioso onde a notícia de ontem já não interessa, porque hoje há uma nova indignação artificial para vender. É a perpetuação do jornalixo.  
Por sua vez, os professores, que em princípio eram para ensinar, acabaram por criar uma superclasse: a dos diretores escolares, com presidente e tudo. Viraram gestores eternos de escolas e passam o tempo a fazer política.  

Na semana passada, congratularam-se com o Governo por ter despejado milhões em computadores para as escolas por causa das provas intermédias. Enquanto há países europeus a bani-los das salas de aula, cá celebra-se o dia do descarregamento dos computadores. Claro que ninguém se lembrou de arrancar a ardósia das paredes. Os quadros velhos continuam lá, ao lado dos quadros eletrónicos novinhos, como um símbolo perfeito da contradição em que vivemos: vendem-nos modernidade, mas mantêm o peso do passado. Com estas mordomias, qualquer dia os professores deixam de saber escrever. Dos alunos, nem vale a pena falar.  
E no meio disto tudo, lá aparece Filinto Lima, sempre pronto para discursar. No outro dia, na Antena 1, discutia-se um estudo liderado pelo professor David Justino sobre a escola e a educação. No meio do estudo, concluiu-se que há um número significativo de turmas com quinze alunos ou menos. Aquilo foi fogo no rabo do Filinto — o tipo apareceu indignado com o resultado do estudo, com aquela conversa paternalista em nome dos alunos, que sinceramente já me cansa. A certa altura, um professor humilde entrou em antena e disse o que toda a gente pensa: que os diretores, incluindo o Filinto, estão agarrados ao lugar, que não largam o osso, e que já não fazem falta. Os senhores diretores, figuras ultrapassadas e longe da realidade, querem é eternidade nos cargos, a preparar o futuro dos jovens. Um absurdo, disse ele.  
“Mas que futuro? Um futuro em que os professores passam mais tempo a preencher grelhas e relatórios do que a ensinar? Em que os diretores são figuras vitalícias e aparecem na televisão sempre que um aluno se constipa?”

E o país segue ao ritmo dos comentadeiros: os militares passaram a políticos, de tal forma que parecem galinholas com grafonolas na mão, a berrar de manhã à noite, armados em especialistas de assuntos que desconhecem. O gado ainda pasta, as galinhas ainda esgravatam, os rios ainda correm para o mar e o preço de uma garrafa de água já custa tanto como um litro de gasolina. Tudo aquilo que me venderam como certo está a ir pelo cano, e eu pergunto-me se não fui eu que sonhei demais.  
Imagino um país onde a política é um serviço e não um trampolim, onde os jornalistas voltam a ser jornalistas e não fabricantes de polémicas, onde os diretores escolares largam o osso e deixam de aparecer na televisão ao mínimo espirro. Um país onde pensar ainda é permitido, onde o mérito conta, onde a experiência de vida não é um defeito e onde ser rico não é pecado.  
Um país onde a democracia cumpra o que prometeu.  
E, já agora, um país onde alguém me consiga explicar a história da Solverde e do Primeiro-Ministro Montenegro.  

Adérito Barbosa in olhosrmlente.blogspot.com

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A Bandeira do José



José Neves, eu sei quem ele é. Conheço-o desde criança. Andámos na mesma sala, aprendemos a cartilha juntos e, no entanto, quase 60 anos depois, eu já me estou a familiarizar com o esquecimento das coisas, e o José ainda não aprendeu nada.  Agora quer oficializar o crioulo. Um sonho inocente? Nem pensar. No fundo, ele já traçou o seu grande desígnio: acabar a carreira política em Santa Catarina, talvez como presidente da Junta de Freguesia do Cutelo – terra onde deveria ter aprendido o português.  Também não é por acaso que os grandes mentores da “causa crioula” fugiram para os Estados Unidos e, de lá, em forma de ganha-pão, berram de palestra em palestra, sarnam os ouvidos aos emigrantes sobre a necessidade de implementar a sua grande bandeira. O crioulo, esse grande oprimido, precisa de ser salvo das amarras dos próprios cabo-verdianos. Mas, curiosamente, ninguém os ouve a incentivar os emigrantes a dominar o inglês para melhor se integrarem na sociedade americana. Não, para eles, o importante é que a sua cruzada linguística crioula continue, nem que seja às custas do futuro de um país inteiro.  


Mas há um pequeno detalhe que o José e os seus catedráticos iluminados parecem ignorar: o crioulo não é mais do que português mal falado, precisamente porque foi mal entendido pelos escravos e depois reproduzido pior ainda. Se fosse essa língua maravilhosa que agora querem impingir, por que razão Portugal não a adotou? Já imaginaram? Portugal, depois de séculos de domínio colonial, resolvia adotar o crioulo como língua oficial porque, afinal, tinha mais sabor?  

A origem do crioulo está na Guiné, dizem. — ( Lá estão os comunistas a acertar o passo com a Guiné, sempre a Guiné no nosso caminho) — e, de facto, em termos linguísticos, existem crioulos em várias partes do mundo. Mas o que o José e companhia querem fazer não é preservar um património linguístico – é transformar o crioulo numa ferramenta de guetização intelectual. Uma língua oficial que, em vez de elevar, limita. Um dialeto que, em vez de abrir portas, fecha-as.  

Eles aprenderam mal, não entenderam e agora andam a dar palestras para garantir que os outros também não aprendam.  

Reafirmo, nada tenho contra o dialeto na rua. Mas tenho tudo contra o dialeto na escola.  

E já que vivemos na era da liberdade de expressão, onde eles podem dizer barbaridades e ser aplaudidos, eu também tenho o direito de dizer que o caminho que querem para Cabo Verde não é o melhor. Aliás, nem sequer é um caminho – é um beco sem saída.  

Se há algo que a História nos ensina, é que o conhecimento é poder. E o poder, meu caro José, não é o crioulo.  

Para ti, José, aprender, ao que parece, é um conceito demasiado complexo para quem fez da ignorância a sua bandeira.  


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

O fascinante mundo da justiça





Crónica IX - dedicado ao mundo fascinante da justiça portuguesa 

Já fiquei sem carta duas vezes. Uma espécie de estágio intensivo na arte de lidar com burocracia.

A primeira vez foi um bonito mosaico de multas por excesso de velocidade, culminando numa verdadeira obra-prima em Elvas. Estava um calor infernal, eu com febre, e fui apanhado ao telefone. A viatura tinha sistema de chamadas mãos-livres, mas, num momento de ingenuidade, tirei o telefone do berço para ouvir melhor. Péssima ideia. Um militar da GNR, que descansava à sombra, viu a cena e decidiu que aquilo era um crime digno de sermão e castigo. Resultado? Tribunal de Portalegre, 370 euros de multa e um mês sem carta. O juiz, num tom paternalista finalizou. — Da próxima, já sabe.  

Bom, da próxima soube. Passaram uns anos e, num único mês, fui apanhado três vezes – alegadamente, a 70 km/h onde o limite era 50 km/h. Uma no Baptista Russo, outra no fim da CREL, junto ao Estádio Nacional, onde deveria andar a 70km/h circulava 100 e outra em Caneças igual à primeira. As multas eram graves e antigas, da era pré-histórica, mas não prescreveram.  

Recebi a típica carta das autoridades, com coimas que se multiplicaram com Juros, taxas, agravamentos. Coisa pouca: uns 490 euros, mais um mês sem carta. Lá fui eu à GNR da Calçada do Combro entregar a carta, como quem devolve um livro à biblioteca. Um mês depois, fui buscar. Agora expliquem-me: as minhas multas, que não chegam a meia dúzia de tostões para os padrões do crime financeiro nacional, nunca prescreveram. Mas os 200 milhões de multas aos bancos por eles terem combinado tramar os clientes, prescreveram.

Fico com a ideia que o Código da Estrada é mais sagrado do que o Código Penal. Afinal, 20 km/h acima do limite é infinitamente mais grave do que a multa aos bancos.

Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

As loucuras do Neves


A FARSA DO CRIOULO PARA OS FILHOS DOS POBRES. 

“A propósito da última entrevista dada pelo presidente de Cabo Verde no âmbito das comemorações dos 50 anos da independência. Neves pede a oficialização do Crioulo.”

Lá vem o José Maria Neves outra vez. Lá vem ele com sua retórica ascorosa, servida aos filhos dos pobres como se fosse um banquete de progresso. A realidade, contudo, é outra: trata-se de um projeto de embrutecimento, de perpetuação da ignorância, de manutenção de pobres subjugados sem horizontes.  Afinal, como poderia ele, que nunca conseguiu aprender de facto a falar português, desejar que o povo dominasse a língua? Se ele próprio não tem domínio da comunicação formal, parece-lhe conveniente que a população pobre permaneça na mesma condição. Um povo analfabeto é um povo fácil de manipular, não é Neves? Pois é!

Vejamos os factos:  

- Angola – 55 milhões de habitantes, país repleto de recursos naturais. Língua oficial: português  

- Moçambique – 33 milhões de habitantes. Língua oficial: português.  

- Brasil – 216 milhões de habitantes. Língua oficial: português.  

- Cabo Verde – um país paupérrimo, dependente de ajudas externas, com uma elite cheia de manias de grandeza, governado por um déspota que se arvora defensor do crioulo – mas apenas para os filhos dos pobres. -  Neves, não me parece que sejas mais esperto do que os brasileiros, angolanos ou moçambicanos. Saiba V. Exa, que entre os africanos em portugal, os angolanos são aqueles que têm melhores empregos e que estão melhor enquadrados na sociedade portuguesa. Eles falam português entende isso?

Eis a realidade: os filhos da elite estudam em Lisboa, onde recebem educação de qualidade em português. Quando adoecem, são tratados nos hospitais de Portugal ou da Europa. Fazem compras em Lisboa, Paris ou Nova Iorque. Já os filhos dos pobres ficam em Cabo Verde, aprendendo o crioulo, sem acesso a um sistema de saúde decente e sem perspectivas reais de ascensão social.  O presidente da República insiste em promover o crioulo como língua oficial do ensino público. Mas por quê? Seria esse um verdadeiro projeto de valorização da cultura nacional ou uma estratégia deliberada para condenar as camadas mais pobres ao atraso?  Parece-me óbvia a resposta.  

Ele é Déspota - Déspota é aquele que governa de forma completamente autoritária, sem ouvir o povo, sem respeitar princípios democráticos. Exerce o poder de maneira tirânica, impondo suas vontades à força, muitas vezes recorrendo a esquemas de repressão. O governante que deseja impor o crioulo como língua principal do ensino público age como um déspota: ignora o futuro do país e prioriza sua própria agenda política, custe o que custar.  

Exemplos não faltam. Um déspota cerca-se de capangas, que garantem que sua vontade seja cumprida – seja com perseguições políticas, seja com coerção. Em Cabo Verde, quem se opõe à narrativa do poder sente na pele as consequências dessa postura autoritária.  

Ele é um Analfabeto - O analfabeto funcional não é aquele que apenas não sabe ler e escrever. É aquele que, mesmo reconhecendo letras e números, não consegue compreender um texto, captar ideias ou interpretar um discurso de forma crítica. É aquele que, diante de um argumento sólido, perde-se nas palavras e responde com frases vazias.  Esse é o caso do presidente. Até hoje, não aprendeu a falar corretamente o português. Um iliterato, incapaz de construir uma linha de raciocínio coerente. Na prática, um ignorante.  Mas não se engane: essa ignorância não é apenas individual, é um projeto. Um presidente que não domina a língua oficial do seu país, dificilmente pode defender sua importância. E, assim, transfere para o povo a mesma limitação que carrega.  Resultado? Um país onde a educação retrocede, onde as novas gerações não têm acesso ao conhecimento global, onde a cultura se torna cada vez mais restrita e provinciana. 

Ele é um Nepotista - Nepotismo é a prática de favorecer parentes e pessoas próximas em nomeações e cargos públicos, sem levar em conta mérito ou competência. É uma infecção na administração pública, pois drena os recursos do Estado para sustentar amigos, e amantes.  E foi exatamente isso que o presidente fez. Não se trata apenas de incompetência administrativa, mas de um esquema montado para perpetuar o privilégio de poucos às custas de muitos.  Um líder que age assim não governa para o povo, governa para si mesmo e para sua rede de interesses. E, nesse jogo de favorecimentos, quem perde sempre é o pobre, sem saída, sem privilégios, e sem  acesso às oportunidades que deveriam ser garantidas a todos.  

Neves, sempre que o senhor presidente vier com sua retórica vazia de que o crioulo deve ser promovido no ensino público, estarei aqui para lhe fazer frente.  Os governantes sérios do mundo inteiro trabalham para oferecer o melhor para suas populações. Querem que seus povos tenham acesso à educação de qualidade, à ciência, à cultura, às oportunidades globais.  Mas o Neves age na contramão.  Ele quer o crioulo para os filhos dos pobres.  Quer um sistema educacional que limite suas perspectivas, que os prenda a uma realidade estreita, que os impeça de sonhar alto. Porque um povo instruído é um povo difícil de enganar. Um povo que domina a língua portuguesa pode estudar em qualquer universidade lusófona, pode concorrer a empregos qualificados, pode sair do ciclo da miséria.  Mas esse não é o objetivo do presidente .  Ele quer que o filho do rico estude em Lisboa, em português. Viaje, faça  compras no Colombo, no Vasco da Gama, talvez em Paris ou Nova Iorque. Receba atendimento médico em hospitais portugueses. O filho do pobre?  Estuda em crioulo. Sem educação de qualidade, sem acesso a bons empregos, sem capacidade de competir no mercado global. Sonha em fazer compras no mercado de Sucupira, enquanto os filhos da elite frequentam as melhores lojas do mundo.  Os filhos dos ricos conseguem emigrar e arranjar trabalho no estrangeiro. Os filhos dos pobres ficam em Cabo Verde, encantados com as promessas vazias do presidente.  E assim o ciclo da pobreza se perpetua.  Neves: - se eu fosse governante português para ti nem mais um almoço em Belém e para Cabo Verde nem mais um tostão dos contribuintes portugueses.

Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

sábado, 25 de janeiro de 2025

O Problema Africano e a Inconsciência dos Governantes

 


Numa estação de rádio, o Sr. Primeiro Ministro Ulisses Correia e Silva, sugeriu que Cabo Verde estaria preparado para receber os eventuais emigrantes deportados dos Estados Unidos.  

Com esta declaração, Ulisses encarnou a pele habitual da maioria dos líderes africanos: a incapacidade de avaliar de forma realista os desafios que neste caso o país terá de enfrentar se Trump cumprir a promessa eleitoral de deportar imigrantes ilegais. Ulisses não está aqui nem está ali, não está cá vive noutro planeta. Ulisses assumiu uma total falta de consciência, exatamente como a maioria dos líderes africanos que, em vez de soluções, são eles próprios grandes entraves ao desenvolvimento da consciência coletiva - decisões superficiais e promessas vazias, que alimentam ilusões e ignoram os problemas reais.  

Cabo Verde enfrenta desafios estruturais gritantes. O país vive com escassez de recursos naturais, uma dívida pública assustadora, juros altíssimos um mercado de trabalho limitado e com oportunidades quase inexistentes para os jovens. Apesar disso, Ulisses, numa atitude displicente, imprudente e com um toque de arrogância, fingiu ignorar a dura realidade da falta de empregos para quem já vive em Cabo Verde. E como se isso não bastasse, ainda acrescenta ao problema um cenário potencialmente catastrófico com a vinda de milhares de deportados.  

Como pode o país suportar uma avalanche de retornados? Tal afirmação está completamente descolada da realidade e revela, sem rodeios, uma gritante falta de honestidade intelectual.  

Mas atenção: esse tipo de postura não é exclusivo de Ulisses Correia e Silva. O padrão repete-se em líderes como José Maria Neves e Olavo Correia.

A estagnação de África não vem apenas da falta de recursos ou da interferência externa. Vem da incapacidade dos governantes em reconhecer as reais necessidades das suas populações. Enquanto continuarem a tomar decisões baseadas em ilusões e a preocuparem-se apenas com a manutenção de uma imagem política, o progresso de África continuará a ser apenas uma ideia distante, adiada pela inconsciência dos seus próprios líderes.  

A África continua comprometida face aos outros continentes, não apenas pela história ou pelas circunstâncias, mas sobretudo pela falta de visão crítica e responsável dos seus líderes. A recente declaração de Ulisses Correia e Silva sobre a capacidade de Cabo Verde receber deportados é um reflexo claro dessa mentalidade: prometer sem pensar, falar sem medir.  

Bastava dizer: - Como Primeiro-Ministro, estou muito preocupado com essa possibilidade. Cabo Verde não tem capacidade para absorver os eventuais deportados e, com a Europa a restringir cada vez mais a entrada de imigrantes, a situação será ainda mais complicada.

….Ulisses não disse nada disso!


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

O veto do Tribunal de Contas não serviu para nada


Aqueles que se dizem comunistas, mas vivem como proletários, são a personificação da imbecilidade.

Há uma contradição grotesca em quem veste o manto ideológico do comunismo e permanece atolado em ideais que nunca se materializam. A hipocrisia do discurso oco escancara a incapacidade de liderar pela coerência e pelo exemplo.  

O presidente de um país pobre que decide gastar fortunas em viagens internacionais revela uma insensatez atroz.

Enquanto o povo luta para sobreviver no meio da escassez, ele enche os bolsos dos amigos angolanos, viajando em aviões privados e esbanjando recursos públicos. Esta é a marca do imbecil: incapaz de entender a gravidade da posição que ocupa e indiferente às necessidades básicas do povo.  

Pior ainda é o chefe de estado que usa a autoridade para negociar obras de arte dentro da Casa Civil.

Transforma-se de líder em chefe de máfia, promovendo negociatas ilícitas. É o ácido que corrói as estruturas da República, degradando o que deveria ser um bastião de moralidade e ética.  

Ao transformar uma amante em primeira-dama, faz de si próprio o retrato da desfaçatez.

A presidência não é palco para escândalos de novelas amorosas. Pior ainda são os cargos fantasmas atribuídos às amantes ou às namoradas, com salários dignos de princesas da farinheira.  

Quando, em plena função, o presidente se presta ao papel patético de faxineiro de campanha em Tarrafal, revela sua verdadeira natureza: a imbecilidade.

Para este tipo de imbecil, a presidência é uma vitrine de luxo e ostentação, enquanto a população amarga no limiar da pobreza.  

Quando ousa interferir com linhas vermelhas e amarelas nas escolhas do governo, ultrapassa todos os limites aceitáveis.

Ele não é líder, mas um ditador disfarçado, exercendo autoritarismo sob a capa de democracia. A política, para ele, é um jogo de conveniências onde manipula regras e destrói alianças sem remorso.  

Mais assustador ainda é o uso de capangas para intimidar e silenciar opositores.

O capanga é de Assomada, e é sustentado pelo rendimento mínimo garantido americano, obtido sem nunca ter trabalhado ou contribuído para os Estados Unidos: - tipo ciganos em Portugal. Esse ciganito caboverdiano promete bofetadas à esquerda e à direita mais parece um pugilista. Esse comportamento é a face mais grotesca da imbecilidade: o uso da força bruta de outros imbecis de espírito para sufocar a liberdade de expressão e impor narrativas falidas. Ele transforma o medo em ferramenta de poder - um truque vil que evidencia a fraqueza intelectual, moral e política que o define.  

Esse imbecil é um cancro que corrói silenciosamente as fundações da nação.

A permanência de figuras assim no poder é uma afronta à inteligência coletiva, uma marca de desrespeito absoluto pelo povo e pelas instituições.  

É impossível falar da imbecilidade no cenário político cabo-verdiano sem mencionar o espetáculo de futilidade que ocorre diariamente na Assembleia Nacional.

Deputados que deveriam liderar o progresso da nação passam o tempo em debates intermináveis e conversas menores, como se estivessem num salão de fofocas e não numa das mais importantes instituições democráticas.  

Esses representantes, em vez de propor soluções para os problemas sociais e económicos, gastam milhões em sessões de discursos vazios.

Ataques pessoais, vaidades despropositadas e retórica oca preenchem o tempo, enquanto as necessidades do cidadão comum continuam ignoradas.  

A Assembleia tornou-se o lugar perfeito para a inércia.

Deputados que deveriam fiscalizar o Executivo, denunciar abusos e propor políticas transformadoras preferem prolongar discussões inúteis para justificar os salários que recebem.  

O veto do Tribunal de Contas às despesas presidenciais expõe ainda mais essa desconexão entre poder e povo.

Enquanto a população luta para suprir as necessidades básicas, o presidente transforma o orçamento da presidência num cofre pessoal. Gastos astronómicos e injustificados ferem a moralidade pública e destroem a confiança nas instituições.  

E onde está a Assembleia Nacional no meio disso tudo? Em silêncio.

Os deputados, ocupados com debates vazios e teatralidade partidária, ignoram o que deveria ser uma prioridade: fiscalizar o uso do dinheiro público. O veto do Tribunal de Contas é tratado como uma nota de rodapé, um detalhe que não merece atenção.  

Os parlamentares vivem perfeitamente em harmonia com a decadência política.

Actores rascas nas sessões da hipocrisia, são rápidos para defender interesses partidários e pessoais, mas lentos – ou inexistentes – quando o tema é a protecção do erário público ou o combate aos abusos de poder e ao nepotismo.  

O veto do Tribunal de Contas deveria ser um alerta grave.

Deveria servir como sinal de que algo está profundamente errado na administração do país. Contudo, foi recebido com a mesma apatia que caracteriza o trabalho da maioria dos deputados. Não há indignação, apenas complacência.  

O que se vê na Assembleia e no Palácio Presidencial é uma dança coordenada de imbecis.

Cada um ocupa o seu papel dentro da mediocridade, num ciclo de negligência, abusos e inação. O veto do Tribunal de Contas deveria ser um ponto de viragem, um divisor de águas para exigir responsabilidade e compromisso com a transparência.  

Os deputados precisam lembrar que estão ali para servir o povo, não para se perderem em criolez.

Já o presidente precisa entender que o orçamento da presidência  não é um cofre privado.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

domingo, 12 de janeiro de 2025

Orbitando fechado em mim



Na esquina onde o tempo dobra em silêncio,  

há fios invisíveis que costuram o vento,  

e tremor do mundo onde o sonho se aquece.  

Há raízes que despertam no ventre da terra,  


luz nas asas das aves, sob a sombra das papoilas, manhãs que esperam o toque do improvável.  


Há cinzas que falam mais alto que o fogo,  

pedras que carregam o peso do instante,  

e palavras que ardem no ventre do silêncio.  

Há círculos onde o corpo corre sem direção,  

sorrisos esculpidos nas frestas do vazio,  

e beijos dissolvidos no sopro do vento. 


E há cascatas que murmuram segredos

gotas que guardam promessas adormecidas,  

e histórias sussurradas às pedras.  

Há um centro imóvel no caos que pulsa,  

um respirar que molda o invisível,  

e sentidos que escapam como fumaça eterna.  


Há o vazio desenhado nas margens do horizonte,  

ecos de palavras que nunca chegam,

silêncios que dançam no cansaço da espera.  


E há quem leia as minhas dúvidas errantes,  

quem me encontre nos meus  escritos,  

e há quem veja um poeta em ruínas.  

mas é graças a quem me lê,  

que a sombra do verso se faz chama,  

e eu construo, as letras

nas cinzas do poema queimado.  


Mas também há o vazio que se desdobra na ausência,  nos ecos perdidos, no indizível, tecidos de cetim.


Há quem leia o que nunca existiu,  

quem se perca na esterilidade dos versos,  

poeta que arma palavras tristes.  

e o sentido escapa, entre frestas

no instante que me queima e me dissolve,  

na poeira que resta do lume impossível,  

e me torno vestígios de luz que ilumina o nada permito-me ser massa desprezável 

Lagrangiana orbitando fechada em mim

com as minhas guitarras.


Adérito Barbosa, in olhosemlente.blogspot.com

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

O Benfica é mesmo grande



 Ele há coisas que só visto, nem contado! Então não é que o estádio da Luz, coitadinho, ficou pequenino para os benfiquistas? 

Ora, estamos a falar de um clube que, quando não anda a ajustar resultados com uma precisão cirúrgica, tem a polícia em casa mais vezes que na casa da vizinha devido à pancadaria entre marido e mulher.

Um clube especialista em trapalhadas, financiado à base da boa e velha Operação Coração, o que se traduziu na falta de comida em milhares de casas de família, com o suporte de jornais desportivos que mais parecem departamentos de relações públicas do clube, das televisões transformadas em agência de notícias privada do clube - ah, e não esquecer: único clube no mundo a transmitir jogos caseiros com comentadeiros tão imparciais que até o Padre da catedral ruboriza de vergonha.

E os árbitros? Esses nem se fala: carregam o Benfica ao colo como se fosse uma criança que não consegue andar sozinha. E os adeptos? Sempre prontos para dar taponas carinhosas nos fiscais de linha. Agora, imagine-se, querem um estádio para 120 mil pessoas. Claro, o atual é apenas para 65 mil almas, demasiado pequeno para tanto fair play.

E o mais engraçado? O estádio da Luz vai mesmo ficar em pé para jogos de râguebi e futebol feminino. Mas eu logo pensei: pronto, lá vai o pobre adepto enfiar a mão ao bolso para pagar mais um estádio. Porque, se há coisa que o Benfica sabe fazer bem, é transformar sonhos em despesas do seu contribuinte.

O Benfica não é um clube de Portugal, não senhor. É um clube do outro mundo. Marte, talvez, ou quem sabe Júpiter. Portugal é que não aguenta tanta grandeza.


Carrega Benfica… carrega no bolso dos lampiões.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.comEle há coisas que só visto, nem contado! Então não é que o estádio da Luz, coitadinho, ficou pequenino para os benfiquistas? 

Ora, estamos a falar de um clube que, quando não anda a ajustar resultados com uma precisão cirúrgica, tem a polícia em casa mais vezes que na casa da vizinha devido à pancadaria entre marido e mulher.

Um clube especialista em trapalhadas, financiado à base da boa e velha Operação Coração, o que se traduziu na falta de comida em milhares de casas de família, com o suporte de jornais desportivos que mais parecem departamentos de relações públicas do clube, das televisões transformadas em agência de notícias privada do clube - ah, e não esquecer: único clube no mundo a transmitir jogos caseiros com comentadeiros tão imparciais que até o Padre da catedral ruboriza de vergonha.

E os árbitros? Esses nem se fala: carregam o Benfica ao colo como se fosse uma criança que não consegue andar sozinha. E os adeptos? Sempre prontos para dar taponas carinhosas nos fiscais de linha. Agora, imagine-se, querem um estádio para 120 mil pessoas. Claro, o atual é apenas para 65 mil almas, demasiado pequeno para tanto fair play.

E o mais engraçado? O estádio da Luz vai mesmo ficar em pé para jogos de râguebi e futebol feminino. Mas eu logo pensei: pronto, lá vai o pobre adepto enfiar a mão ao bolso para pagar mais um estádio. Porque, se há coisa que o Benfica sabe fazer bem, é transformar sonhos em despesas do seu contribuinte.

O Benfica não é um clube de Portugal, não senhor. É um clube do outro mundo. Marte, talvez, ou quem sabe Júpiter. Portugal é que não aguenta tanta grandeza.

Carrega Benfica… carrega no bolso dos lampiões.


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...