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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A flotilha do amor gay


Mariana, ouve bem: o centro do universo não é o lesbicismo. A pose de embarcar numa flotilha e proclamar altruísmo, encenar martírio nas redes e transformar causas em autobiografia encaixa num padrão gasto, feito de vaidade exibida e de bandeiras usadas como espelho. A flotilha de Mariana — e não só a dela — é reflexo desse padrão: exibição pública, fotografia performativa, vaidade travestida de militância. O contexto, porém, é de uma gravidade que nenhuma pose redentora apaga: o ataque de 7 de Outubro de 2023 deixou marcas na sociedade israelita que não se dissolvem com slogans ou selfies cívicas. Nesse dia, uma série de ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelitas precipitou uma guerra de enormes proporções. Não foi um episódio isolado nem um fait-divers tablóide: foi um ponto de inflexão cujas consequências continuam a definir a política, o quotidiano e a dor do Estado de Israel.

O Hamas de Mortágua organizou um ataque massivo contra civis, matou cerca de mil jovens que estavam num festival, matou velhos, mulheres e crianças, recorreu ao sequestro, violou regras básicas de protecção de inocentes e mostrou desprezo absoluto pela vida humana. Há vítimas, e os crimes cometidos não podem ser traduzidos em metáforas estéreis ou apagados por retórica militante. A narrativa romântica da resistência colide de frente com a realidade das famílias que perderam tudo.

Enquanto isso, Portugal, país que gosta de se orgulhar das suas tradições liberais e de uma Constituição que exalta os direitos humanos, reage com gestos diplomáticos que parecem, demasiadas vezes, performativos. Quando o Governo português toma posição pró-Hamas, está tudo dito. O reconhecimento recente do Estado palestiniano pelo gay mor foi apresentado como passo em favor da solução dos dois Estados. É exactamente como acontece no relacionamento gay: dois homens, um faz de mulher e o outro de homem. É assim, Rangel?

A ONU, lenta como sempre e agora mais do que nunca, e sobretudo incapaz, continua a arrastar-se sem conseguir mitigar o choque entre soberanias, direitos humanos e criminosos.

Há ainda a hipocrisia selectiva onde se situam Rangel e Mariana. Ambos gays. É cómodo tratar a Palestina como santuário e o Hamas como avatar do bem, ignorando décadas de violência e crimes, quer contra os seus, quer contra Israel.

Quanto a Portugal, não peço purismo moral — peço coerência. Reconhecer a Faixa de Gaza como Estado é estupidez encomendada pela África do Sul, olha quem…, A isso chama-se diplomacia de vitrina. Não é legítimo apoiar a solução de dois Estados nestes moldes. É questionável fazê-lo sem enfrentar os crimes do Hamas.

Usar a memória de 7 de Outubro para justificar passeios de barco pelo Mediterrâneo é pura pornografia da política portuguesa.

Para fechar, uma nota de realismo cru: fica a ironia final — o Hamas é filho do socialismo europeu admirado pelos gays de Portugal.

Mariana, em Lisboa pediste que a PSP te encostasse à parede e aí em Israel agora pedes o quê?


Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

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