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sábado, 25 de agosto de 2018

Há dias assim



Para quem não saiba, informo que regressei ao mundo do trabalho novamente. Já me tinha reformado e entrei em descompressão total por quase um ano. Como dizia o  Presidente do Eurogrupo o holandês Dijsselbloem, foi putas e vinho verde, tinto e branco maduro.
Como ia dizendo, baixei à cidade e ao trabalho urbano. Ontem, por força de horário, só fui jantar às 21h40.
Para abreviar a coisa, escolhi uma hamburgaria no Bairro Azul, perto da mesquita.
Um copo de vinho bastou para acompanhar o medalhão. As batatas fritas nem lhes toquei, ficaram lá para o gato.
Depois de fazer a pé um passeio pelo jardim de Campolide, nas traseiras do quartel da Polícia Municipal, por volta da 1h30, recolhi-me aos meus aposentos. A indisposição foi tal, que a coisa acompanhou-me pela noite dentro. De manhã, por volta das sete, entrei na pastelaria do Carlos e enjoado que nem uma grávida, pedi um café e um pastel de nata.
Meti-me no carro e lá fui eu a caminho da 24 de Julho, muito mal disposto e já com tonturas.
Entrei no edifício:- Bom dia, Sr. Mário. - Bom dia Eng., vou já abrir o gabinete. - Sim, faça isso. Obrigado.
Ao chegar ao elevador, fiquei com suores frios e pumba! Vomitei o hamburguer da noite anterior, o café e o pastel de nata do Sr. Carlos.
Veio a D. Filomena a correr, dizendo: -Não se preocupe Dr., eu trato disto ( lá toda a gente é Dr.) Quer que chame um médico? As empregadas que estavam lá na moleza da limpeza do edifício limparam o átrio com tanta rapidez que nem deram tempo a que o cheiro a vómito se espalhasse pelo átrio.
Arranjaram-me umas calças, um pólo e uns sapatos. - Veja se isso lhe serve, enquanto lavo essa sua roupa.
Arrumei-me todo, no balneário do ginásio, fiquei fino e fui tratar do assunto que me levara cedo à empresa.
Pelas dez da manhã, toca o telefone, vejo que o número é interno, carrego na tecla de alta voz e ouço: - Barbosa, o nosso administrador já está no auditório e a reunião vai começar.
Levantei-me a correr em direcção ao auditório e levei por arrasto o dossier.
Assim que abri a porta, pedi desculpa pelo atraso e logo uma pergunta inesperada: - Já está melhor? A roupa assenta-lhe bem.
Como sabe disso, Dr.?
- Fui eu quem deu à Filomena essa roupa, tinha-a no cacifo. Olhe que tem  um “v” de volta na ponta.
Durante a reunião, bebi mais um chá, o que foi sugerido pelo chefe.
O meu grupo de trabalho adora ir almoçar ao restaurante A Joaninha, que só serve um prato; o prato do dia era feijoada. Não resisti e mesmo agoniado aceitei almoçar a feijoada.
Enquanto almoço, dou uma vista de olhos pelo Facebook e passa por mim uma publicação do Sérgio Silva, que mostrava um pequeno vídeo da SIC, intitulado “Dúvidas, questões, perguntas”, com parte dum discurso do Coronel Pipa Amorim.
Depois de ver o vídeo, não restava outra coisa ao CEME senão exonerá-lo. O Sr. Coronel subverteu o papel de comandante militar, travestindo-se em político não mandatado. Não é admissível que morram militares em instrução e depois venha um coronelzito qualquer arrotar postas de pescada, pondo-se em bicos de pés, qual fora-de-lei, alegando tratar-se de uma perseguição aos Comandos. O sr. Coronel incorpora pateticamente a ideia de pertencer à élite de sangue azul militar, que no fundo é coisa nenhuma. O discurso é um atentado à inteligência dos Portugueses que, afinal, são quem sustenta as mordomias de que, a julgar pelo perímetro abdominal, deve gozar, com grandes prazeres alimentares e orçamentais que o tornaram gordinho e rechonchudinho.
Sim, devem ser responsabilizados criminalmente e punidos severamente todos os implicados nas mortes dos jovens, quer sejam eles Generais sentados  ou Coronéis em bicos de pés. Se as senhoras da limpeza  tiverem responsabilidades, que sejam elas também responsabilizadas.
Gostaria de saber, caso fosse o filho do coronel, se ele falaria assim?
Quanto ao jantar de apoio - eh pá, aquilo é um pretexto para uns quantos gajos reservistas beberem uns copos, matarem as saudades, fofocar um pouco na vida  dos outros e nada mais do que isso.
Coronéis a mais para um exército sem soldados é o que dá! Fazem política...

Não é esta a minha perspectiva geral sobre Coronéis, nada me move contra eles - antes pelo contrário, admiro bastantes.

Adérito Barbosa in olhosemlente

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Quando a noite cair
















No fundo tanto faz...
É a beleza dela que me atrai.
Grávida de inocência diz que sou um pateta
num discurso trapalhão,
 ternurento para me desculpar.
Quer dizer que me ama
mas não soube sentir a dor de ter parido um pateta...
Nega um princípio ativo
e torna-se vítima da vontade reprimida.
Não é medo da dor, não!
É uma vertigem fria,
é um sentir vazio,
é um futuro ausente,
é a atrapalhação dos dias
a correr sem destino.
É sentir o buraco sem fundo.
E quando a noite chega...
entre jogos de raquetes e sobrinhos...
nenhuma estrela aparece
para iluminar a pequenina bola sem vida que vai e vem
à força das pancadas
sem medo e sem emoção. Nenhuma brisa se agitou
para desviar o olhar inerte.
Estamos assim: perdidos
sentimos que não existimos
fingimos no breu a cumplicidade que não existe.
E alerta-me para a beleza da lua
mas, logo se desinteressa...
qual ilusionista.
É assim a vida do pateta,
umas vezes perto da ilusão,
outras vezes distante de se iludir.
Cada vez menos saberei
até que um dia a noite caia para sempre
e force a razão.
Ela não sabe, e ninguém lhe contou
- só os patetas amam
e só os poetas entendem o amor.
Eu por mim continuo pateta
Poeta os outros que digam.

Adérito Barbosa in olhosemlente

domingo, 19 de agosto de 2018

Levanta-se a saudade


Quando a noite se deita,
Levanta-se a saudade.
Nas veias um rio de sede
Entre tragos de vinho do canjirão
Meço a distância do canteiro seco
À alma iludida.
Deito mão a um cigarro, baforo…
Engano a alma como fazem os poetas
Finjo que está tudo bem
Mas sei que ainda há um caminho...

Adérito Barbosa in olhosemlente.blogspot.com

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Se ao menos

Tenho a luz da amargura
a iluminar o passado.
Já fui rei da ilusão
agora sou cravo murcho
que espera pela primavera
numa outra vida sem esperança...
se ao menos houvesse um dia
depois do cansaço,
dormiria no teu regaço sentados
na crina da tempestade.
Se ao menos o teu olhar fosse
um barco sem amarras...
que gemesse nas veias de uma guitarra...
dirias o que sentes que o resto sei eu!
Na linha da vida reza a sina
na sorte da estrela cadente
Deus marcou a solidão
com uma cruz no eléctrico que passa na rua da minha canção.
E há quem leve toda a vida
a bailar com a vida inteira..
não sei fazer preces - Lisboa, ninguém ama as tuas noite como eu!

Adérito Barbosa in olhosemlente

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...