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terça-feira, 31 de março de 2015

PALHAÇO


Palhaço espantalho
Especado no silêncio do nabeiro
Vagabundo e chorão no meio de nada.
Cheio de medo das palmas
De ninguém.
Às vezes só consegue escutar o ruído do mundo ao longe
Noutras esquece-se
De escrever na areia fina
O silêncio que arrepia  o deserto nos dias de tempestade
E a resposta "não sei"
Tem pressa em viver hoje,
amanhã devagar e morrer só depois do luto e da festa.
Sonha soprar o vento

De Leste para Oeste,
De Sul para Norte
De Nordeste para Sudoeste
De Noroeste para Sudeste,
Da Noruega para a Suécia, dali para acolá
De mim para ti
De ti para eles,
Deles para outros,
Do mar para a serra
Do chão para o ar
Das batatas para as papaias
Do açúcar para o sal
Da água para as rochas
Do nada para todo o lado...
Para todo o lado...tudo numa perfeita e harmónica confusão do caos.
Para que ninguém entenda
Nada!

E ri-se, o maroto do palhaço…
Mas depois, depois quer viver
O amainar da brisa no meio da regueira das couves e do escaravelho
E ainda rebolar na samarra na anca da mondadeira.
Quer ver o pescoço sufocado da gola alta,
O fumo sair de um tubo de escape do brinquedo abandonado.
Quer ouvir o choro de uma boneca sem braços,
 De cabelos arrancados sem piedade pela criança que brinca na soleira da porta.
Quer ouvir o apito desalvorado do comboio em marcha atrás
Sentir o silêncio húmido  e frio das estrelas apagadas
E para acabar com isto, ainda quer sentir o vulcão moribundo
A fumegar dentro do cachimbo
De tudo um pouco quer ele fazer circo da sua

Adérito Barbosa in olhosemlente

segunda-feira, 30 de março de 2015

Construção


Construção

Dentro de mim
tenho um nome
encravado na garganta
que chamo sempre
no silêncio das minhas insónias.

Dentro de mim
procuro-te mas
só sinto a gota
do orvalho que me molha a alma.
Dentro de mim
sinto correr nas veias um rio branco
que acelera quando juramos amor.
Vou construir uma cidade
no fundo de mim
a tua cidade!
Espreitar nos ruídos a tua voz e a tua nudez.
levantar uma estátua
no largo do chafariz do teu prazer.
Vou desenhar de novo
o meu esqueleto sim!
Moldá-lo em plasticina e
Abrir no peito uma janela virada para o teu campo
E ver florir os amores perfeitos.
Dentro de mim
vou construir o meu esqueleto em platina
o verdadeiro amante
Das loucas noites.
Quero que o meu esqueleto cheire a baunilha
ter pele de veludo
para te cobrir da razão,
ombro de algodão
para dormires, mesmo que retumbes!
Coracão de papel
para absorver o teu gemido
nos momentos de glória
que só nós sabemos.
Pés de barro,
para nunca ir longe
vir só quando te vieres...
Vou construir de novo o meu esqueleto
com olhos de vidro
vesti-lo à James Dean
pintar um quadro de cigarro na mão,
porque não?
Já agora e que tal
se escrever um poema
em papel celofane
na única forma que sei,
para me livrar das palavras que trago à flor da pele
e dizer sem complicação
que é complicado falar de sentimentos
neste rodopio de emoções, se ainda hoje
vejo no céu do quarto
a marca d'água do teu sorriso.

 Adérito Barbosa in olhosemlente

sexta-feira, 27 de março de 2015

A NAVE




A terra é uma nave
onde viajo  à volta do nada
dentro de si própria.
Quem sou eu neste mistério?
Apenas a matéria da anti-matéria
Que sorri, nada mais!



Adérito Barbosa in olhosemlente

quinta-feira, 26 de março de 2015

Como mereço

Quando saíste deste mundo
Fiquei nu e não acreditei.
Não disseste nada...
Fingi ouvir o adeus
Que não disseste.
Doeu o teu silêncio
Da porta que fechou
Atrás de ti.
Volta atrás, explica-me
Como eu mereço!
Dá-me um beijo,
Pega na minha mão,
Afaga-a como só tu sabes!
Faz-me um carinho
Prova a minha lágrima
Finge ao menos
Que lá no fundo
O teu amor sou eu!
Se bebo um copo
É porque me afundei,
Se fumo um cigarro
É porque quero
Aliviar o tormento.
Faz-me pensar que ainda
Não chorei,
Volta atrás, diz-me
Para acordar do sonho
E conta-me tudo
Do jeito que eu entenda,
Aqui pertinho de mim,
Ainda lembro-me
 Do teu perfume!

Adérito Barbosa in olhosemlente

domingo, 22 de março de 2015

VII Festival Anual dos Estabelecimentos Militares de Ensino


Foi memorável o VII Festival Anual dos Estabelecimentos Militares de Ensino, tradicionalmente um evento musical e gímnico, que se realizou sexta- feira passada, 20 de Março, no Pavilhão Multiusos de Odivelas.
Houve espectáculo de alto nível.
A organização esteve desta vez a cargo do CM, com apoio da Câmara Municipal de Odivelas.
Participaram no evento as classes gímnicas dos três Colégios, com as suas classes especiais de ginástica, tendo sido convidados o Ginásio Clube Português, o Clube de Ginástica de Odivelas e o Clube Recreativo Piedense -  julgo não me ter esquecido de ninguém. Houve ginástica acrobática, rítmica e dança. Os alunos pequeninos do 1° Ciclo também deram uma perninha, mostrando que daqui a uns anitos estarão aí para as curvas. Talento têm, medo não mostraram ter, vontade não lhes falta, é só esperarmos um pouco para os ver ao mais alto nível.

A Orquestra Ligeira do Exército chamou a si a tarefa de abrilhantar o evento, objectivo completamente alcançado; as bandinhas do CM, IO e IPE  e os respectivos coros imitaram a orquestra dos grandes, fazendo-se ouvir e bem. Como convidado, o ex-aluno do CM, Gustavo Pinto Bastos, apoiado pela banda e coro do CM, interpretou de uma forma soberba a canção  “Sempre Nós" de que ele é o autor. Ficámos todos emocionados, com pele de galinha.
Como sempre, a excelente Orquestra Ligeira do Exército mostrou uma vez mais o porquê de ser considerada uma das melhores do mundo dentro daquele figurino;  as vozes estiveram a cargo de três vocalistas geniais, qual deles o melhor!
Quando era aluno da Escola Militar (EMEL) nos anos 80, habituei-me a, nos fins de tarde, depois das aulas, ir assistir aos ensaios da orquestra no auditório. Foi bom voltar a ouvi-los, 30 anos depois e saber que continuam a surpreender.

Durante o espectáculo, espaçadamente, tivemos ainda a oportunidade de visitar, através do vídeo hall, alguns dos colégios de ensino militar do mundo, que se fizeram representar: do Brasil, Rio de Janeiro e Porto Alegre, de Inglaterra – Royal Military Academy,  dos Estados Unidos - US Military Hall of Fame, da Austrália – Royal Military College, da Índia - Rashtriya Indian Military College , e da França - Saint-Cyr Military Academy.

No encerramento usou da palavra o Sr. Vereador da Câmara de Odivelas, em representação da Sra Presidente Susana Amador, onde reiterou a ideia que Odivelas lutará até ao fim pelo seu IO.
Aqui fica o link da canção "Sempre Nós" https://www.youtube.com/watch?v=bmbWlPyolME

Adérito Barbosa in olhosemlente


quinta-feira, 19 de março de 2015

Lista VIP


VIP!

Ontem, em Frankfurt, os cidadãos alemães saíram à rua, incendiaram carros, partiram montras e fizeram Intifada contra a polícia; aquilo foi pedradas para lá, bastonadas para , gás lacrimogéneo por ali,  pneus a arder aco, enfim, um cenário de montras partidas. .
Coisa normal, essas escaramuças, nos países onde o povo luta pelos seus direitos; contudo, em Portugal não existe nada disso. Somos serenos!
Esta  notícia foi abundantemente propalada na comunicação social, mas só quando a desenvolveram, entendi os motivos do protesto.
Os jovens estavam contra a inauguração da nova sede do Banco Central Europeu em Frankfurt, porque acham que foi graças às políticas desumanasde austeridade e empobrecimento impostas aos países do sul pelo BCEque há pessoas nesses países que se suicidam, por falta de trabalho, ou por não serem capazes de honrar os diversos compromissos anteriormente assumidos. 
Dizia o jovem alemão: - Há crianças que passam fome nesses países do sul; há famílias inteiras sem rendimentos; por isso é um abuso que o edifício tenha custado uma fortuna, no valor astronómico de 1,3 biliões de euros.
Acrescentaram ainda que nenhum dirigente do BCE foi eleito e que, portanto, não lhes assistia qualquer direito de imporem regras. Eu também concordo!
Enquanto isso, no nosso país,Portugal, andamos entretidocom a lista Vip dos contribuintes, engendrada pelas Finanças. 
É engraçado ver os alemãs preocupados com a nossa marcha para o abismo e ouvir o governo português dizer que estamos no bom caminho.
É caso para dizer: Já que ninguém quer saber do que se passa em Frankfurt, há lista, ou não há lista Vip, afinal?
Adérito Barbosa in olhosemlente


quarta-feira, 18 de março de 2015

Mi táctica



Mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible.
Mi táctica es
quedarme en tu recuerdo.

Mario Benedetti


Adérito Barbosa in olhosemlente

domingo, 15 de março de 2015

Anedota

                                              Anedota total

O governo exortou os jovens, aqueles que eram mais valias e inestimável capital humano do nosso país, a não serem piegas e incentivou-os, convidando-os a saír da sua zona de conforto, a emigrar e a desaparecer daqui.
Os nossos jovens acataram ordeiramente o convite e foram-se embora,  um de cada vez, para o estrangeiro.
A rapaziada, de uma forma ou de outra, lá conseguiu o seu emprego e a ganhar  três ou quatro vezes mais do que ganhariam cá.
Agora, vem o governo criar quarenta programas e acena-lhes com apoios, entre 10 e 20 mil euros, de modo a voltarem e criarem as suas empresas.
No meu entendimento, o governo foi mais eficaz a correr com os jovens do que vai ser em convencê-los a regressar.
Um dos 40 programa chama-se POISO – deixem-me rir!
Ou os tipos do governo explicaram mal, ou então estamos  a viver no reino do absurdo!  Só anedota…
Boa sorte para aqueles que forem votar!

Adérito Barbosa in olhosemlente

terça-feira, 10 de março de 2015

Tudo Maluco, tudo Xexé !!

Tudo Maluco, tudo Xexé !!

“Ser português, ter mais de 35 anos e 7500 assinaturas, são as condições mínimas exigidas pela Constituição e pela lei eleitoral para concorrer ao mais alto cargo da Nação. A Constituição Portuguesa define, no seu artigo 4º, que "são elegíveis para a Presidência da República os cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de 35 anos". Se os cidadãos portugueses no gozo de todos os seus direitos civis e políticos podem aspirar a ser presidentes. A Lei Eleitoral do Presidente da República determina que quem quer candidatar-se terá de apresentar um mínimo de 7.500 assinaturas e um máximo de 15.000. Essa documentação inclui uma declaração de propositura do candidato e uma certidão de capacidade eleitoral de cada um dos apoiantes, que se pede na junta de freguesia da área de residência”.

- Sinto-me feliz, eu reúno as condições necessárias para ser candidato a Presidente da República!

Para Cavaco isso não conta para nada, diz ele:  “Portugal precisa de órgãos de soberania que actuem coordenada e concertadamente na defesa daqueles que são interesses nacionais e que “só podem ser eficazmente defendidos” por  alguém com experiência em política externa. Cavaco Silva lembra que o seu sucessor é a “porta-voz do país” e que deve estar “acima das divergências de opinião”. “Face à situação de emergência económica e financeira a que Portugal tinha chegado, houve que mobilizar toda a nossa capacidade diplomática (…) para explicar, junto das mais variadas geografias, instituições internacionais e líderes políticos, a execução do programa de assistência financeira, em ordem a suscitar a confiança dos nossos parceiros e investidores, ganhar credibilidade no plano externo e conseguir apoios para as posições portuguesas". Cavaco Silva escreveu ainda que (…) deve “estar preparado” para analisar a conformidade das propostas que lhe são apresentadas pelo Governo e Chefe de Estado Maior das Forças Armadas e para defender as posições portuguesas nos contactos com entidades externas (…) deve ser capaz de dominar as relações bilaterais “em toda a sua complexidade” e abordar “com conhecimento de causa” os assuntos políticos, económicos, sociais, militares, científicos, culturais, ambientais e de política europeia, bem como saber identificar aquelas que são as mensagens relevantes”.

- Com ideia do Dr. Presidente, estou fodido com essa gente, eu não sirvo para candidato! Uma chatice, eu, até estava interessado em ser candidato a Presidente, sinto-me excluído do concurso, eu e 99,9% da população portuguesa.

Sou levado a concluir: - Lá está ele outra vez a preparar a teta da vaca para meia dúzia de gajos mamarem; - Com que direito Dr. Presidente, portugal que eu saiba ainda não é uma república de bananas!


Adérito Barbosa in olhosemlente

domingo, 8 de março de 2015

Basta!


Basta!


Se não tiveres nada para beber
Se a tua mente ficar escura
Se sol te queimar a pele
E não vires sombra 
Se tudo ficar cinza
E não tiveres sopa para os filhos
Põe a mesa e acende a lamparina
Tens que seguir em frente
Solta as amarras
O que te prende a esta gente
A esta terra…
Basta!

Se não souberes o que fazer
Se o teu coração bater forte
Se lua te iluminar a razão
E não souberes o caminho
Se tudo ficar claro
E não tiveres sorriso para ti
Põe a mesa e grita contigo
Tens que fazer alguma coisa
Olha as mãos sem nada
Nem de comer para os filhos
Desta nação…


Basta!

Adérito Barbosa in olhosemlente

sexta-feira, 6 de março de 2015

Pobre rico



Pobre rico,

País do catano este, o nosso!
Somos de extremos: ou oito ou oitenta. Ora choramos muito por causa duma pequena esfoladela, ora agradecemos a Deus, por termos saído dum acidente só com duas pernas partidas, com o pescoço torto e ainda a bacia e a coluna feitas num oito. Também somos "muita" bons a fazer experiências.


1ª experiência - votámos num indivíduo para primeiro-ministro; mais tarde desconfiámos que, se calhar, ele é um tipo muito rico; como veio a confirmar-se que é mentiroso, trafulha e sofre de amnésia,  prendemo-lo!

2ª experiência - votámos  mais tarde, num outro individuo para o mesmo cargo de primeiro-ministro, que veio a revelar-se  ser pobre, trafulha, mentiroso e, ainda por cima, sofre de amnésia. Ele é alemão contra os portugueses, mas é um grego para as contas dele. Por isso continua a governar tranquilo.

Resultado: - O pobre e o rico  têm ambos uma essência  comum; ambos são mentirosos, ambos sofrem de amnésia e ambos insultam a inteligência dos portugueses.

Observação: - Se se prende um tipo por ser rico e por não se ter declarado rico e ter fugido ao fisco, porque não prender também um pobre que não declarou a sua pobreza e não cumpriu as suas obrigações fiscais, por esquecimento e falta de dinheiro?


Adérito Barbosa in olhosemlente

quinta-feira, 5 de março de 2015

Primavera

"Na primavera há explosão de vida  - Asun Estévez".
Rebato com este texto:
Explosão de vida na primavera é bonito? sim! Mortes no silêncio escuro do inverno é bonito? não! ... Pois, eu deixei de respirar no escuro frio do inverno passado. Agora, sou uma sombra de mim mesmo, sombra do gigante que fui, Agora quero ser o pó que fertiliza as terras para novas explosões da vida nesta primavera. Quero ver gente inteligente, não gente galanteadora, gente capaz, não gente hipócrita, gente de palavra, não gente falsa, gente de verdade, não gente de mentiras. Quero ver gente que sente dor, como eu, gente que não me minta, gente que tenha sentimentos como eu, gente que ama melhor do que eu. Sobretudo quero ver gente de esperança, com a esperança num futuro melhor.

Adérito Barbosa

segunda-feira, 2 de março de 2015

O País que escondi à Matilde


"O que é a sociedade? Faz- me uma crónica sff. Fala o que achas da sociedade de hoje em dia. Tenta mandar-me antes das 11:30 mas não precisa de ser muito grande" - foi assim tal e qual, sem tirar nem pôr, a mensagem que recebi da Matilde. 
A Matilde tem 15 anos e frequenta o 10º ano no Instituto dos Pupilos do Exército. Todos os meus amigos mais próximos, os meus filhos e a minha família, em geral, sabem o que representa a Matilde para mim. Ela é a filha mais nova que tenho e tem cerca de 16 anos de diferença dos meus filhos biológicos;  talvez por isso, tenha  usufruído  de privilégios que, por vezes, excedem em muito o seu merecimento.

A hora  prevista para o exame médico já estava largamente ultrapassada em quase uma hora, o que me fazia crer que,  naturalmente, iria ser chamado a qualquer momento, tornando praticamente impossível  escrever a redacção completa para a Matilde.
Como havia estudado  a disciplina de Área de Integração  há pouco tempo com ela, sabia perfeitamente do que se tratava.  No entanto, pensei também que podia ser uma praxe lá do colégio, entre alunos. É prática recorrente que um aluno mais velho, com a preguiça de escrever, peça a um mais novo que lhe faça uma redacção sobre um determinado tema, para depois a apresenta na aula, como se fosse da sua  autoria. Os alunos mais novos, por sua vez, encomendam esse trabalhinho aos pais, tios ou avós,  que, por esta via, são apanhados pela  praxe também.
Na dúvida, fiz uma pesquisa rapidamente na net, tirei umas ideias e escrevi  o seguinte texto, que lhe enviei,  via sms:

"A  sociedade é formada por um grupo de pessoas com semelhanças étnicas, culturais, políticas ou religiosas,  ou mesmo pessoas com um objetivo comum. As delimitações físicas de um território ou de um país, ou mesmo de um continente podem definir  por si só uma sociedade. Os membros de uma sociedade compartilham interesses ou preocupações mútuas sobre um objectivo comum. Como tal, o termo  sociedade é muitas vezes usado  como sinónimo para o colectivo de cidadãos de um país,  governado  por instituições nacionais que lidam com o bem-estar cívico".  Como isso é comum em praticamente todos os países, podemos afirmar,  sem dúvida,  que vivemos numa sociedade global,  que nem mais nem menos é um  “… conjunto de opções de ordem política e económica mundial. Esse fenómeno criou pontos de interesse comum na  política sócio-económica, cultural e política." Consequentemente, o mundo inteiro ficou interligado, surgindo assim a aldeia global. "O processo de globalização é a forma como os mercados de diferentes países interagem e aproximam pessoas e mercadorias.  A quebra de fronteiras gerou uma expansão capitalista, sendo  possível realizar transacções financeiras e expandir os negócios para mercados distantes e emergentes.”  Os grandes avanços tecnológicos, as inovações nas áreas das telecomunicações e da informática (especialmente com a Internet) foram determinantes para a construção de um mundo globalizado.

Não disse à Matilde que ela vive numa sociedade com aspectos terrivelmente negativos. Não lhe dei o exemplo do nosso país, onde os governantes chegam ao poder com  base na mentira, enganando descaradamente os cidadãos para caçar votos, onde os juízes são, eles próprios, mais notícia que a própria justiça, onde os procuradores manipulam os trâmites legais dos processos, onde os advogados ludibriam a lei, onde os jornalistas manipulam a opinião pública, onde as Finanças abusam dos contribuintes, onde o Presidente da República mente à Nação, onde a CMVM mente ao mercado de valores, onde o Banco de Portugal mente às salas de mercados, onde os banqueiros mentem aos depositantes, onde o ex-CEO e CFO da PT mente, onde as leis gizadas nos escritórios dos advogados são autênticos fatos de protecção, promotores da corrupção, onde os deputados,  jovens inexperientes, não conhecem as amarguras da vida, mas fingem  saber tudo e até fazem  leis, onde o programa de ensino muda a cada ano que passa, onde não há política de natalidade, onde os jovens como ela terão que,  mais cedo ou mais tarde, sair do seu país, onde as empresas diariamente encerram  e onde há quase um milhão de desempregados e famílias inteiras  na miséria.

Eu não disse à Matilde que, na sociedade em que vive, o António Costa roubou,  através de um  golpe de estado democrático, o lugar ao anterior líder do PS, a pretexto de falsidades. O António foi apresentado como o Messias dos Messias, mais parecendo  D. Sebastião, O Desejado, e agora veio dizer aos chineses, aos mesmos de sempre,  aos chineses da banca, aos dos vistos Gold, aos da EDP, aos dos prédios da baixa pombalina e dos hotéis que o país está melhor! Incrível!...
Também  não disse à Matilde que um dia depois  de os governantes deste país terem tentado bloquear um acordo sobre a Grécia no Eurogrupo,  a Comissão  Europeia veio dizer que Portugal precisa de vigilância, de ser vigiado permanentemente,  porque a política seguida até àquela data tinha gerado  mais pobres e acentuado  mais as desigualdades entre os portugueses, escamoteando o direito à igualdade de oportunidades na vida em sociedade. Não lhe disse que o nosso Primeiro reagiu, dizendo que a União Europeia precisa de consertar melhor as suas opiniões, porque, afinal, ele fizera exatamente o que lhe mandaram fazer e não entendia os reparos feitos sobre a pobreza.

A Matilde também não ia entender e por isso não lhe disse que o nosso Primeiro não pagou qualquer valor à Segurança Social, durante cinco anos  em que trabalhou a recibos verdes, entre 1999 e 2004. Esqueceu-se???  Não pagou na altura, nem nunca! Mas não se esqueceu de dar ordens, para que as dívidas de qualquer pobre cidadão à Segurança Social sejam saldadas, penhorando  casas, empresas ou quaisquer bens.
Eu não disse à Matilde nada disso, porque ela não ia entender… adivinhei! A moça não entendeu mesmo! Passado pouco tempo recebi outra mensagem sua.

- "Faz outra com outro tema"!

Afinal, tratava-se mesmo de uma praxe mas, nada comparável à praxe que os políticos sujeitam os portugueses todos os dias, de maneira abusiva e destrutiva, sem olharem às consequências que afectam gravemente toda a sociedade.


Adérito Barbosa in olhosemlente

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...