poeta.adérito.barbosa.escritor.autor.escritor.artigos.opinião.política.livros.musica.curiosidades.cultura Olhosemlente

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Aos meus amigos

                                       
Amigos,

Eu tenho uma sensação no fundo da minha alma que não posso perder os meus amigos.
Estou feliz por alguns terem ficado comigo e ver lugares vazios no comboio que partiu à meia-noite, onde seguiram alguns pulhas.
E agora que estou longe daqueles que não fazem falta, encaro o desafio de não me esquecer dos que ficaram, contar-lhes o meu caso, viajar com eles por todos os poemas e prosas. Fazer deles personagens dos meus romances, vesti-los de histórias onde o amor venceu, torná-los amantes e mencionar no prefácio o nome exacto de cada um e dizer-lhes que o tempo passou por mim e não dei conta.
Sempre quis marcar rumo no mapa qual batoteiro, para depois fazer atalhos para chegar não sei onde mais depressa do que a pressa e mais, muito mais eu fiz!...
Em certos momentos, tive a certeza de que os meus amigos sabiam que eu andava às voltas como uma mó, esperaram por mim sem exitar que eu encontrasse o caminho.
Pelo caminho, amei, desamei, cantei, chorei e ri-me. Cometi as minhas falhas e tive a minha parte nas derrotas. Agora, sem muita timidez, vou escrever para os meus amigos, vou dar-lhes a voz nos meus escritos e esperar que ganhem vida para os aplaudir nos sonhos e assim torná-los poetas.
E a quem sirvo afinal senão a mim mesmo? Não tenho nada! As coisas que sinto de verdade não são palavras de alguém de joelhos, mas sim de quem está sentado, acordado à procura da sensatez e da perfeição da escrita.
O coração que trago no peito tem as cicatrizes das pancadas que levei na vida.
Dos amigos verdadeiros nunca levei um arranhão. Eu pensava que o mundo era plano, afinal parece uma abóbora. Como é estranho andar em contra mão no meio da multidão...
Deixem-me por os óculos para ver bem a noite por dentro. Sinto o zumbido de um pião a girar no espaço. Quem o agarra? O pião está confuso! - nas noites de sábado tudo gira ao contrário é sempre assim
O meu coração que é de silício e está quente quer ter a visão de um bilhão de velas a arder. Não sei quem vai ganhar; o que eu sei é que nas noites de domingo todas as estrelas cintilam para os meus amigos.
- Um amigo pode não valer nada, mas nada vale mais que um amigo!


Adérito Barbosa in olhosemlente

Sem comentários:

Enviar um comentário

Publicação em destaque

Florbela Espanca, Correspondência (1916)

"Eu não sou como muita gente: entusiasmada até à loucura no princípio das afeições e depois, passado um mês, completamente desinter...